O mercado de muares vem mudando de características ao longo dos últimos 10 anos no Estado de Goiás. Ao contrário de um animal somente para a lida no campo, pela sua resistência ímpar, estão entrando cada vez mais em cena os animais de patrão – próprios para cavalgadas, provas de andamento de marchas e funcionais – como de laço e tambor.Com o melhoramento genético como ponto de partida dessa mudança de comportamento, existem animais avaliados em até R$ 150 mil. E nessa toada, segue à frente a Associação dos Muladeiros do Oeste Goiano (Amog).A associação promove, entre os dias 25 e 29 de janeiro, o 10º Encontro Nacional de Muladeiros, em Iporá, com a presença dos principais criadores de muares do País. A expectativa é de que 2,5 mil animais, de comitivas dos Estados de Minas Gerais, Pará, Distrito Federal, Tocantins e Mato Grosso, estejam expostos no evento.Segundo o presidente da Comissão de Equidiocultura da Federação da Agricultura do Estado de Goiás (Faeg), Hélio Fábio do Nascimento Guerra, o número de muares em Goiás, como em outros Estados da Região Centro-Oeste é expressivo e está em expansão, mas lamenta não existir dados oficiais. “Não podemos expressar o volume já que o IBGE retirou os muares e asininos da última contagem, mas estamos trabalhando para refazer esse cadastro”, diz.Independente do imbróglio, diz que os goianos perceberam a necessidade da consultoria técnica para a criação de muares de qualidade. “Hoje existe a busca por éguas de boa índole e andamento para cruzamento, ao contrário do passado, que soltavam os animais indesejáveis em alguma área da fazenda, onde pariam animais difíceis”, explica.São aproximadamente quatro meses de treinamento para a doma. Animais já dóceis, mansos e prontos para serviço, diz, custam em média R$ 6 mil. Valor considerado barato, já que são cerca de 25 anos de capacidade produtiva.Criador, o médico mastologista, Antônio Eduardo Rezende de Carvalho é apaixonado por muares. “Venho de uma família rural. Meus avós e tios foram criadores de muares”, resume. E explica que os animais eram usados para serviços na fazenda, por conta da resistência. “Em relação à continuidade no serviço, eles resistem muito mais que os cavalos”, relata.Mas o criador começou a observar que muitos amigos estavam usando para lazer. E, atualmente, já conta os 10 anos de participação em uma comitiva que sai de Iporá, Sudoeste do Estado, para Trindade, na Festa do Divino Pai Eterno. São 10 dias de viagem.E utiliza as mulas de patrão, filhos de animais selecionados, de acordo com a preferência morfológica. “A seleção da matriz vai depender de cada um. Eu prefiro animais mais altos, mas há quem prefira mais baixo”, diz. A pelagem ruana (cor vermelho fogo) é valorizada, mas a busca é sempre por um animal dócil e de bom andamento. Ele ressalta que essas características são mais evidentes nas mulas se comparado aos burros, o que a deixa até 30% mais valorizada no mercado. “A percepção física são as orelhas, mas pelagem e agilidade com os cavalos são semelhantes. A diferença é que os cavalos são mais fortes, mas os muares são muito mais resistentes”, diz.