O escalonamento de horários de funcionamento dos estabelecimentos em Goiânia, visando a melhoria do trânsito, voltou a ser notícia após o prefeito Iris Rezende (PMDB) citar a proposta em evento com empresários da construção civil, na terça-feira, 7. Representantes de diferentes segmentos econômicos, sobretudo da indústria e do comércio, reagiram positivamente à medida, mostrando-se dispostos a debaterem o que pode ser feito para aliar os diferentes interesses.Distribuir o tráfego, alterando os horários de abertura e fechamento de escolas, lojas, supermercados, órgãos públicos e indústrias é algo já cogitado há algum tempo e que foi, inclusive, promessa de campanha do atual prefeito. A diferença, agora, ao que tudo indica, é a intenção de levar adiante a proposta, apresentá-la aos variados segmentos, o que já vem sendo feito, promover debates e chegar a um texto final que deve, futuramente, ser levado à Câmara Municipal para aprovação.O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), Pedro Alves, diz que a ideia é muito boa, mas pondera que a equação dela é que tem que ser bastante discutida para que ninguém se sinta prejudicado. Diante da variedade de interesses, que vão do privado ao coletivo, ele pondera que é impossível se chegar a um consenso que contemple 100% das vontades, mas que pode-se chegar a um porcentual que atenda a maioria. “As pessoas não podem mais ficar olhando apenas para o próprio umbigo”, critica.A Câmara de Dirigentes Lojistas de Goiânia (CDL) tem posição semelhante. O presidente, Geovar Pereira, considera que é preciso que algo seja feito para melhorar o trânsito e minimizar os transtornos dos horários de pico. O comércio, cita ele, comumente abre às 8 horas, ficando até às 9 horas com pouco ou nenhum movimento. “É tudo questão de se adaptar. As pessoas podem começar a ir ao comércio só às 9 horas, como já até fazem”, argumenta. Segurança O começar uma hora mais tarde, no entanto, implica em fechar uma hora mais tarde também. E isso, de certa forma, aflige comerciantes, pois envolve um outro elemento a ser considerado na equação: a segurança da cidade. O presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços do Estado de Goiás (Acieg), Euclides Barbo Siqueira, apesar de se dizer disposto a debater, avalia que a questão não é tão simples quanto parece, pois a mudança de horários de funcionamento gera consequências para além dos pontos inerentes ao trânsito.A variedade de atores, portanto, que devem ser inseridos na discussão, incluindo até mesmo o Estado, quando o assunto é segurança pública, é algo a ser considerado. “Tudo isso tem que ser muito bem planejado e com a participação de todos”, frisa. Pereira, da CDL, acredita que é uma questão de organização, por mais que, para ele, que é empresário do ramo de joalheira, fechar o comércio um pouco mais tarde não seria tão seguro.Apesar dos discursos e posicionamentos, a princípio, favoráveis, o perito em trânsito Antenor Pinheiro pouco acredita na chance de que um pacto aliando os mais variados interesses ocorra, de fato. “A proposta é ingênua. A comunidade empresarial não está preparada para criar pactos. O poder público também não, nem para pactuar nem para fiscalizar”, refere-se ao fato de que o órgão de trânsito da cidade, a Secretaria Municipal de Trânsito, Transportes e Mobilidade (SMT) está com a estrutura em condições precárias. “Isso envolve desprendimento, renúncia de interesses e bom senso, que é tudo que nós não estamos tendo”, complementa.Os varejistas da capital, segundo o presidente do Sindicato do Comércio Varejista no Estado de Goiás (Sindilojas), José Carlos Palma Ribeiro, já estariam praticando o escalonamento idealizado pelo prefeito.“A padaria já abre às 5 horas, supermercados de bairro às 6 horas, lojas de materiais de construção às 7 horas, o comércio em geral às 8 horas e ainda tem um grande número de lojas, principalmente do Setor Campinas, que já optaram por abrir às 9 horas”, expõe. O que pode ser feito, segundo ele, é ajustar os horários em localidades onde o fluxo de veículos é intenso.Assim como os demais representantes dos segmentos, Ribeiro acredita que o impacto econômico seria pequeno, praticamente não existindo, pois estaria apenas transferindo a carga horária de trabalho e funcionamento, que seria cumprida da mesma forma. “A conversa é salutar”, considera.-Imagem (Image_1.1237745)