Samuel Bonifácio dos Santos Bonfim Silva não tinha sequer completado três anos de idade quando, por conta própria, sentou na bateria da igreja que a família frequenta e começou a batucar. O que seria apenas a curiosidade de uma criança se revelou um talento, o bebê tinha ritmo. Ele tem indícios de altas habilidades e faz parte do Talentos de Mãos Dadas, um projeto-piloto com outras 19 crianças, adolescentes e jovens para estimular estudantes com necessidades educacionais especiais.“Ninguém é músico na família, foi um dom de Deus mesmo”, acredita o pai, o telefonista Sávio Bonifácio da Silva, de 29 anos. Mesmo com pouca condição financeira, a família investiu na aptidão do filho, que ganhou uma bateria elétrica depois de participar de um programa de talentos na televisão.Como participante do projeto, Samuel teve aulas de música e acompanhamento psicológico. “Aprendi o jeito certo de pegar na baqueta, partitura, aprendi esses trem para ficar mais craque”, conta a criança.A psicóloga que participa do projeto, Daniela Gondim, diz que a alta habilidade é referente a uma ou mais áreas específicas (música, artes, matemática) e que o restante do desenvolvimento da criança ocorre normalmente. “O desenvolvimento na parte social, emocional, psicomotora é normal.”Isso, segundo Daniela, gera uma dificuldade de compreensão dos pais em relação ao filho e da própria pessoa com altas habilidades de si mesmo. “Ele pode conseguir entender as coisas, elaborar cálculos matemáticos, mas dá birra se a mãe não quer comprar o brinquedo que ele queria”, cita a psicóloga. É o caso de Camilla Guimarães, de 39 anos, que conta ser um desafio a educação da filha Valentina Guimarães Camelo Inácio, 8, que também tem indícios de ter altas habilidades nas áreas acadêmica e artística.“É tudo acelerado na cabeça dela. Ela está falando com você, ao mesmo tempo ela está escrevendo e está no tablet. Parece que eles estão anos luz à frente da gente”, conta Camilla.Quando estava na 1ª série, Valentina se recusava a sentar na sala de aula e chorava se a mãe fosse embora. Depois de meses de incompreensão, a psicopedagoga da escola percebeu a situação da garota, que foi adiantada uma série escolar. Valentina também faz parte do Talentos de Mãos Dadas e, nos quatro meses que participou, escreveu um livro em inglês sobre suas férias no Tocantins. Quando terminou, resolveu traduzi-lo para o português. “Estimula mais pessoas a aprenderem inglês.” Suas matérias preferidas são Ciências e Matemática, e quando crescer ela quer ser veterinária.A psicóloga Daniela Gondim também alerta para a vida social da criança com altas habilidades/superdotada, que pode ficar prejudicada. “Normalmente ela é vista como ‘esquisita’ pelas outras crianças”, diz.Essa dificuldade de convivência, se não intermediada, pode fazer com que a criança se isole e suprima suas habilidades “ou vira aquela estrela insuportável, aquela pessoa que é arrogante, que ninguém gosta, e também acaba ficando isolada”. Tanto a mãe de Valentina como o pai de Samuel contam que mesmo os filhos dedicando boa parte da rotina para melhorar suas habilidades, ambos se relacionam bem com outras pessoas e gostam de brincar.