O juiz Oscar de Oliveira Sá Neto, da 7ª Vara Criminal de Goiânia, considerou uma tragédia anunciada a morte do estudante Roberto Campos da Silva, conhecido como Robertinho, de 16 anos, ocorrida na noite de segunda-feira, quando policiais do serviço reservado da Polícia Militar invadiram a casa dele no Residencial Vale do Araguaia, região leste da capital, sob a alegação de investigar a posse ilegal de arma de fogo. “Não é de hoje que policiais militares descaracterizados, vulgos P2, se imiscuem em investigações criminais de atribuição da polícia judiciária, violando normas constitucionais e processuais penais”, declarou o magistrado ontem, na sentença que transformou a prisão em flagrante dos soldados Cláudio Henrique da Silva, Paulo Antônio de Souza Júnior e Rogério Rangel Araújo Silva em prisão preventiva com prazo de validade até 17 de abril de 2037 (prazo máximo).Segundo o magistrado, “os indiciados são detentores de periculosidade acentuada”. O flagrante foi convertido em prisão preventiva como “forma de se garantir a ordem pública e por conveniência da instrução processual, sobretudo em razão da gravidade concreta do fato e das circunstâncias que o permeiam”. Os três soldados, lotados no serviço reservado do Comando de Policiamento da Capital (CPC-2) foram indiciados por homicídio, tentativa de homicídio, violação de domicílio e abuso de autoridade. A decisão do juiz foi conhecida no início da tarde de ontem durante a audiência de custódia dos soldados. O juiz entendeu que ao violar o domicílio alheio, em período noturno, sem farda e sem viatura oficial, apagando as luzes da casa, para a prisão de uma pessoa que supostamente possuía uma arma de fogo “é de um abuso e de uma desproporcionalidade estarrecedoras. Não havia urgência e nem situação flagrancial a justificar a ação policial. Só podia dar em tragédia”.O defensor dos militares, advogado Maurício de Melo Cardoso pediu o relaxamento do flagrante dos clientes alegando que eles não se encontravam em situação de flagrante no ato da prisão, realizada após prestarem depoimento na Delegacia de Investigações de Homicídios (DIH). Pediu ainda a concessão da liberdade provisória aos indiciados, que são primários, possuem endereço fixo e emprego.O juiz Oscar Sá Neto entendeu que há prova da materialidade dos crimes e indícios de autoria demonstrados nas declarações que formam o auto de prisão em flagrante. O POPULAR revelou com exclusividade na edição de ontem que os três soldados agiram sem comunicar o comando sobre a abordagem a um suspeito no Jardim Novo Mundo e sobre a decisão de invadir a casa no Residencial Vale do Araguaia. Ele lembrou que ao chegar ao local da tragédia, o superior direto dos militares, tenente Rudson Rosa Guerra, que era o superior de dia na ocasião, deveria ter dado voz de prisão em flagrante aos subordinados. “O próprio superior dos militares é quem deveria ter-lhes dado voz de prisão e providenciar os seus encaminhados até a autoridade policial judiciária com atribuição para a lavratura do auto de prisão em flagrante”, disse o juiz, considerando a voz de prisão dada pelo delegado na DIH como um ato legal. Os militares saíram da audiência sem falar com a imprensa. Eles foram conduzidos ao Presídio Militar, no Setor Marista. Ontem cedo, alunos do Colégio Estadual Professor Wilmar Gonçalves da Silva, na Vila Moraes, onde Robertinho cursava o Ensino Médio, fizeram um protesto pedindo por Justiça. Professores e funcionários da administração da escola se uniram aos estudantes para lembrar do aluno que era estudioso e que lutava por um mundo de paz.Por volta das 11 horas, também com clamores por Justiça, familiares e amigos acompanharam o sepultamento do estudante no Cemitério Parque Memorial. O pai de Robertinho, o dono de oficina Roberto Lourenço da Silva, de 42 anos, vítima de tentativa de homicídio, não pode acompanhar o sepultamento. Ele está internado em estado regular, consciente, respirando de forma espontânea em uma enfermaria do Hospital de Urgências de Goiânia.De acordo com a investigação, os militares cortaram a energia da casa e quando as vítima foram averiguar o que havia ocorrido, foram baleadas. Os militares invadiram a casa e atiraram no pai e no filho caídos na garagem, matando o estudante.