Atualizada às 11h26 Foi demolida na manhã desta quinta-feira (27) uma das poucas casas com estilo art déco que restaram em Goiânia. O imóvel, que foi erguido durante o início da ocupação de Goiânia e era a antiga residência da colunista e estilista Daura Sabino, falecida em 2011, começou a ser demolido às 8 horas. No início da demolição um manifestante tentou impedir que a casa fosse derrubada e entrou na frente das máquinas. O produtor cultural Erasmo Alcântara, defendida a preservação do imóvel histórico e a transformação do local num centro cultural. “O centro de Goiânia está abandonado. Esse local está morto após às 19h. Precisamos de uma revitalização que vai trazer as pessoas para o centro”. Após a tentativa de interrupção da demolição, moradores que apoiavam a derrubada da casa, tentaram argumentar com o manifestante mas não obtiveram sucesso e chamaram a polícia, que controlou a situação e permitiu a continuação dos trabalhos. Em nota oficial, a Prefeitura esclareceu a derrubada do imóvel, explicando que a ação “foi solicitada de forma conjunta pelo do proprietário do imóvel, pelo 1º Batalhão da Polícia Militar do Estado de Goiás e pelos moradores da região que circunda o local.” Além disso, o texto destaca que uma pesquisa foi feita com a população local antes da decisão pela demolição. A prefeitura explica também que o local era utilizado para a prática de prostituição e uso de drogas. Durante a demolição do imóvel, o Major Godinho explicou que o local não é um patrimônio histórico e cultural. “Temos o documento expedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) que comprova esse fato”. A Prefeitura acatou a sugestão de demolição feita pela Polícia Militar, após constatar que o local, que fica na Rua 20, Centro, vinha gerando incômodo para os moradores próximos, servindo de criadouro para mosquitos da dengue e que havia se tornado uma espécie de “mocó”, local usado por moradores de rua, catadores de lixo e dependentes químicos. A justificativa para a demolição é a promoção da segurança pública. A casa não chegou a ser tombada, mas o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) lamenta a notícia. A coordenadora do órgão em Goiás, Beatriz Otto de Santana, conta que o imóvel é das décadas de 30 e 40 e pontua que uma solução melhor para o caso deveria ter sido avaliada. O Iphan, no entanto, não tem poder legal para barrar a demolição, pois não é de competência do instituto tombar imóveis particulares, apenas edifícios públicos e monumentos, que no caso de Goiânia somam 21. A Prefeitura teria essa prerrogativa, mas preferiu optar pelo fim do transtorno. A restauração da casa - com reforma, recuperação das paredes, pintura, telhado e do forro que apodreceu - ficaria em torno de R$ 800 mil. A Polícia Militar comemorou ao saber da demolição, considerando-a uma conquista da corporação, depois de tantos pedidos e denúncias envolvendo a casa. Acompanhada do corretor de imóveis Evaldo Azevedo, 60, que mora no prédio ao lado do lote, a reportagem do POPULAR constatou a situação precária em que a casa se encontra. O teto quase caindo cobre o lixo deixado pelas pessoas que vinham frequentando o local. Diversas caixas de papelão misturadas a pedaços de concreto e sacos plásticos foram deixados em todos os cômodos pelos catadores de lixo, além de cachimbos artesanais feitos por usuários de crack. Evaldo considera a demolição o fim dos problemas da região. O lote do imóvel é vasto, com quintal grande, que vinha servindo no último mês de morada para Durval Rodrigues de Moura, de 57 anos. Ele veio de Campos Belos de Goiás e, sem casa fixa, resolveu se alojar na residência abandonada. Ontem ele ainda não sabia da demolição e, ao ser avisado pelo POPULAR, resolveu juntar as coisas e se organizar para procurar outro local. O tanque, o sofá e a cama improvisados, feitos por ele com materiais coletados na rua terão de ser deixados para trás. Os moradores dos prédios próximos receberam a notícia de maneira variada. Alguns são favoráveis à derrubada, outros lamentaram o fim da casa que ajudou a resguardar por tantos anos a história da capital. “O goiano é assim. Ele não tem o espírito de conservador. Se deixarem, derruba até o coreto da Praça Cívica”, expressou a empresária e moradora da região há 30 anos, Maria do Carmo Caetano. Ela já prevê os transtornos futuros, pois imagina que o lote será ocupado por alguma construção maior, talvez até um prédio. Beatriz Otto, do Iphan, explica que é comum constatar o abandono de imóveis históricos, especialmente quando o proprietário ainda não tem o alvará de demolição. Além disso, com o tempo, o lote passa a valer mais do que a casa em si, e foi isso o que aconteceu com a residência da Rua 20. O corretor Evaldo Azevedo, que é credenciado no Conselho Regional de Corretores de Imóveis de Goiás (Creci/GO), estima que só o lote ultrapasse o valor de R$ 1,6 milhão. Perguntado sobre quanto valeria a casa, ele informou que, na condição em que estava, ela já não valia mais nada para o mercado imobiliário. A família da colunista Daura Sabino não quis se manifestar.-Imagem (Image_1.348465)-Imagem (1.348584)-Imagem (1.348583)-Imagem (1.348582)-Imagem (1.348581)-Imagem (1.348580)