Numa operação batizada de Trem Pagador, o Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal (PF) em Goiás prenderam temporariamente nas primeiras horas de ontem o ex-presidente da empresa estatal Valec entre 2003 e 2010, José Francisco das Neves, o Juquinha. Também foram detidos sua mulher, Marivone, o filho Jader e o sócio deste, Marcelo Araújo Cascão. Outras sete pessoas foram conduzidas coercitivamente à sede da superintendência da PF em Goiânia e oito tiveram suas contas bancárias bloqueadas. O objetivo da operação é identificar crimes de lavagem de dinheiro público e enriquecimento ilícito. O ponto de partida foram inquéritos em tramitação na MPF que apontam superfaturamento nos vários trechos das obras da Ferrovia Norte-Sul, sob responsabilidade da Valec, que supera a cifra de R$ 100 milhões de prejuízos aos cofres públicos. Os bens dos investigados, avaliados em R$ 60 milhões, estão sob bloqueio judicial. Autor das investigações, o procurador da República em Goiás, Hélio Telho, explicou ontem em entrevista coletiva ao lado do superintendente da PF em Goiás, Joaquim Mesquita, e do titular da Delegacia de Prevenção e Repressão aos Crimes Financeiros, Eduardo Teles Scherer, que a partir da constatação de superfaturamento das obras do trecho 4 da ferrovia - entre Santa Izabel e Uruaçu - um contrato firmado com a empresa Contran, decidiu levantar o patrimônio de Juquinha das Neves para ajuizar ação cautelar de indisponibilidade de bens. “Deparamos com uma situação inusitada: um patrimônio muito grande, mas em nome de familiares e de empresas sem funcionários”, disse o procurador. Foi essa situação que o levou a solicitar à Justiça Federal o bloqueio dos bens dos investigados e à PF para ampliar o alcance da operação. O período analisado pelo procurador vai de 2003 até este ano. A PF mergulhou nas investigações em agosto do ano passado. O que foi encontrado surpreendeu. Em 1998, quando se candidatou a deputado federal, Juquinha das Naves declarou à Justiça Eleitoral um patrimônio inferior a R$ 560 mil. Os bens localizados pelos investigadores em nome de mulher e dos filhos do ex-presidente da Valec e alguns “laranjas” superam a cifra de R$ 60 milhões. “Somente as três casas do condomínio Alphaville custam mais de R$ 10 milhões e uma fazenda em Mundo Novo (GO), cerca de R$ 20 milhões”, explicou o procurador. Esses indícios foram reforçados com o resultado de pesquisas em bancos de dados e com informações encaminhadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).-Imagem (1.173424)-Imagem (1.173423)