Brasília - A Câmara dos Deputados retomou ontem a tramitação do impeachment contra a presidente Dilma Rousseff e elevou a pressão sobre o Palácio do Planalto.Embora a lista dos 65 deputados eleitos para a comissão do impeachment tenha, no papel, maioria governista, na prática já há ligeira vantagem para o grupo que defende a destituição de Dilma, com tendência de crescimento nos próximos dias.Diante disso, o governo foi obrigado a aceitar que o deputado Jovair Arantes (PTB-GO), um dos principais aliados do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), fosse indicado como relator do pedido.Por fim, Cunha acrescentou ao caso a delação em que o ex-líder do governo no Senado Delcídio do Amaral (MS) acusa Dilma e Lula de participação efetiva no esquema de corrupção da Petrobras.O pedido de impeachment original, protocolado pelos advogados Helio Bicudo (ex-petista), Miguel Reale Jr. (ex-ministro do governo FHC) e Janaína Paschoal, tinha como principal argumento as chamadas “pedaladas fiscais” feitas para fechar as contas públicas de 2014.COMISSÃOA comissão do impeachment foi aprovada em uma sessão tumultuada do plenário da Câmara, por 433 votos contra 1 –24 partidos indicaram deputados, na proporção do tamanho das bancadas.Dos 65 integrantes, 32 são da oposição ou dissidentes declarados, com inclinação pró-impeachment. O bloco de apoio a Dilma tem 26 cadeiras. Sete estariam indecisos, entre eles os 4 deputados do PR, partido que tem o Ministério dos Transportes. O PP também ameaçava desembarcar.No até agora aliado PMDB, 3 das 8 cadeiras são de deputados pró-impeachment.A presidência da comissão ficará com Rogério Rosso (DF), líder da bancada do PSD, o partido no ministro Gilberto Kassab.Apesar da resistência ao nome de Arantes para relator, o governo avalia que ele é um parlamentar experiente, resistente à pressões de ambos os lados. Já Rosso, que tem bom trânsito com todos os partidos e também com Cunha, é considerado mais suscetível à pressão das ruas.O Palácio do Planalto recebeu a citação da Câmara na tarde de ontem. A previsão é que o relatório de Arantes seja votado entre 15 de abril e 3 de maio.Entre os indicados para a comissão estão Paulo Maluf (PP), recentemente condenado a três anos de prisão pela Justiça francesa sob a acusação de chefiar uma quadrilha de lavagem de dinheiro desviado de obras públicas no Brasil, e deputados investigados em outros casos.José Mentor (PT-SP), Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), Jerônimo Goergen (PP-RS) e Roberto Britto (PP-BA) são investigados na Lava Jato. Paulinho da Força (SD-SP) foi citado e não há informação se foi aberta uma investigação contra ele. Todos negam envolvimento com o caso. Outros oito deputados respondem a inquérito ou ação no Supremo.