O padre secular César Garcia foi afastado de suas funções religiosas até a conclusão de um inquérito pela Igreja Católica. Ele foi comunicado da decisão na tarde de ontem pelo arcebispo de Goiânia, d. Washington Cruz. O motivo foi a bênção que ele deu na casa do casal de arquitetos Léo Romano e Marcelo Trento, em maio deste ano, quando eles celebravam a união. Amigo do casal e de outras pessoas que estavam na comemoração, o padre abençoou a casa e os presentes. Fotos foram divulgadas em redes sociais e podem, segundo o religioso, ter dado a impressão de que ele teria celebrado a união de Romano e Trento, o que ele diz que não aconteceu.Ainda ontem, o padre César, que exerce o sacerdócio em Goiânia há 30 anos, deixou a Paróquia São Leopoldo, no Setor Jaó, onde ele estava há seis meses – ele nunca morou em casa paroquial nem recebeu salários da Arquidiocese, como fez questão de ressaltar. Em entrevista ao POPULAR, César fez críticas ao seu afastamento e atribuiu a reprimenda à atuação de um grupo fundamentalista e homofóbico inserido na Igreja Católica. O POPULAR procurou a Arquidiocese de Goiânia, com várias ligações para a assessoria de imprensa e o envio de dois e-mails – inclusive por sugestão da assessora –, onde pedia informações sobre o afastamento do religioso. Até o fechamento desta edição, nenhuma resposta foi dada.Ao POPULAR, o padre César disse que se sente “de luto”. “Estou sendo punido por um ato de bondade que fiz. Infelizmente, o arcebispo de Goiânia fez uma leitura positivista do Direito Canônico, levando ao pé da letra alguns cânones. Estou sendo tolhido em meu direito de ir e vir”, disse o padre, lembrando que agiu com todo respeito às normas da Igreja, sem uso de paramentos. “Falei sobre o amor, a importância da vida e de acolher a todos, não disse nada que contrariasse a lei canônica”, assegurou. “Fui chamado como um amigo e abençoei a casa deles”.Agora, o processo contra o padre César Garcia terá curso na Arquidiocese de Goiânia. Ele explica que um bispo deverá ser designado por d. Washington porque não há juiz em Goiânia. Depois de concluído o processo, quando todos forem ouvidos, será tomada a decisão, pelo Tribunal Eclesiástico, em Goiânia. Então, caso queira, o religioso poderá recorrer à Sagrada Congregação, em Roma.Procurado, o arquiteto Léo Romano lamentou o que ele definiu como “uma reação retrógrada, homofóbica, em um momento em que se acha que a questão está evoluindo, com um papa novo”. “Acho que esse ato é, mais do que tudo, um desrespeito, como se a gente não pudesse ganhar uma bênção e receber em casa um amigo, que não estava lá como chefe da Igreja, mas como ser humano”, afirmou Romano. Ele disse que seguirá do lado do religioso até o fim. “Não é uma discussão que eu gostaria de levantar, mas, infelizmente, esse caso pode alavancar um debate sincero”, disse o arquiteto, enfatizando que vive com o companheiro há 11 anos e que tem recebido manifestações de respeito e admiração até de pessoas que não conhece por causa da celebração da união.Perfil Padre César Garcia atua há 30 anos como padre em Goiânia. A primeira experiência dele co pároco foi na Paróquia Auxílio dos Cristãos, no Jardim América, onde permaneceu por 20 anos e desenvolveu uma grande mobilização, principalmente de jovens. Depois, ele passou dez anos na Reitoria de Nossa Senhora das Graças. Estava há seis meses está na Paróquia São Leopoldo, que deixou ontem. Nos últimos meses, vem fazendo viagens internacionais com a missão, conforme define, de evangelizar no caminhar.-Imagem (Image_1.571573)