O início do período chuvoso em Goiás é sinônimo de sistemáticas interrupções no sistema de distribuição de energia elétrica para a zona rural do Estado. Os danos vão desde armazéns de grãos subutilizados, litros de leite jogados fora, equipamentos queimados, além da necessidade de investir em geradores de energia para suprir a demanda. A orientação é que produtores lesados façam boletim de ocorrência e documentem prejuízos para buscar ressarcimento junto à companhia.Produtores de leite do Assentamento Palmares, localizado entre os municípios de Varjão e Guapó, já conhecem a sequência do roteiro tão logo se percebe a ameaça de chuva. Em média, ficam entre quatro e cinco horas diárias sem energia elétrica e muitas vezes apelam para o improviso para não perderem os seis mil litros de leite retirados do plantel diariamente – o que corresponde a R$ 6 mil. “Muitas vezes compramos barras de gelo para tentar manter o leite resfriado”, afirma o assentado Cardoso Joaquim Valdomiro.No assentamento, estão instalados três tanques de refrigeração, cada um com capacidade para dois mil litros de leite cada. Na prática, se o leite já tiver resfriado, um tanque suporta até cinco horas sem energia elétrica. Entretanto, com o tempo o produto lácteo vai perdendo nível de qualidade. “Ganhamos por volume e por qualidade do leite. Nessa situação, podemos perder até 20% desse nível”, explica Cardoso.O assentado explica que quanto mais distante de Varjão, mais o problema se agrava. “Estou a dois quilômetros, mas outros sofrem muito mais do que eu”, diz.O assentado Dânio Wesley Pinheiro ressalta que os problemas começaram a se agravar há cerca de três anos. E ele próprio já faz o diagnóstico: “Não há manutenção. Vamos andando e percebemos que os galhos estão encostados nas redes”. Segundo, também há faltam de investimentos, “já que os cabos são antigos”.Pinheiro ilustra a afirmação lembrando que os prejuízos também aparecem no período da seca. Neste ano, um cabo de alta tensão caiu no pasto, queimando quase 20 alqueires de pastagem, além de reserva legal. “Reclamamos, entramos com ação e nada resolve”, desabafa.Segundo o assessor técnico da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Goiás (Faeg), Edson Novaes, com a interrupção da energia elétrica, a orientação é fazer o registro de um Boletim de Ocorrência na delegacia mais próxima e documentar todos os problemas com fotos. “Tudo o que puder comprovar o prejuízo. É preciso fazer uma espécie de dossiê”, ressalta. Essas precauções auxiliam no pedido de ressarcimento do prejuízo para a concessionária de energia.Novaes, que faz parte do Conselho de Consumidores da Celg (Concelg), diz que as reclamações por demanda de energia e queda de distribuição de até 72 horas são frequentes. “O produtor pode nos informar também o número da unidade consumidora, localização e horários sem energia para que possamos encaminhar a reclamação junto à Celg”, diz.Em outro ponto do Estado, a situação não é diferente. A estudante, Christiane Chagas Silveira Santos relata que o pai mora na zona rural da Cidade de Goiás. Dono de dois tanques de criação de peixes, necessitam de energia elétrica para o funcionamento do aerador – máquina responsável pela oxigenação dos tanques.De acordo com Cristiane, nos meses de dezembro, não é raro a energia acabar e retornar somente 48 horas depois, com pouca estabilidade. Christiane conta que já entrou em contato com a companhia diversas vezes, inclusive na ouvidoria.Para mitigar os problemas, o pai adquiriu um gerador de energia – solução que vem sendo adotada com maior frequência pelos produtores da região. “A energia é vital e há um descaso total com a população rural goiana”, diz Cristiane.CelgA reportagem de O POPULAR entrou em contato com a companhia sobre possíveis soluções para os problemas relatados pelos consumidores, relatório de tempo de interrupção do serviço neste mês de dezembro comparado ao mesmo período do ano passado. Até o fim de fechamento desta edição, a Celg não havia retornado.