De um lado, a liberdade de expressão artística prevista na Constituição Federal. Do outro, o direito e proteção das liturgias religiosas também previsto na legislação. No meio da polêmica, a artista brasiliense Ana Paula Dornelas Guimarães de Lima, de 32 anos, que vive em Goiânia, e ficou famosa ao produzir imagens estilizadas de santos. Seu pecado: trocar a roupa da Virgem Maria por um manto com as mesmas estampas do uniforme do Chapolin Colorado. Batman, Frida Kahlo e Galinha Pintadinha nas mãos da artista, conhecida como Ana Smile, ganha releituras de arte pop em imagens de gesso de São Benedito, Santo Antônio e Nossa Senhora. Em março, o juiz Abílio Wolney Aires Neto, da 9ª Vara Cível de Goiânia, em decisão liminar, proibiu a artista de fazer, comercializar ou divulgar fotos das esculturas. Em caso de descumprimento, o juiz estipulou uma multa de R$ 50 mil. Na ação, proposta pela Arquidiocese de Goiânia, alega-se que Ana faz "sátira" com os personagens religiosos.Apesar de ainda não ter sido oficialmente notificada da decisão, Ana contou ao POPULAR que suspendeu temporariamente o comércio e a divulgação de suas obras. Os perfis nas redes sociais de sua empresa, a Santa Blasfêmia, também saíram do ar. “Minha intenção é recorrer da decisão e estou tendo orientação jurídica para isso. Eu sequer fui ouvida pela Justiça”, explicou a artista, que diz ter recebido ameaças de agressão e de morte por causa de seu trabalho. Para a Arquidiocese de Goiânia, não só as estatuetas, mas também as postagens em redes sociais sobre elas, ofendem a coletividade, violando o sentimento religioso, ao empregar escárnio, sátira e ironia. “São exemplos a imagem de Nossa Senhora notoriamente adulterada e as interferências nas imagens de Santo Antônio e São Benedito, mantendo o terço nas peças e assim escarnecendo outro símbolo da religião católica", explicou, em nota enviada ao POPULAR, a assessoria de imprensa da Arquidiocese. Ana espera que a justiça reverta a decisão liminar e que ela possa voltar o quanto antes ao trabalho. Devido à enorme repercussão do caso, houve aumento da demanda pelas obras que são vendidas pela internet e em uma loja de Brasília. As imagens já foram encomendadas por todos os estados brasileiros e até exportadas. “A intenção do trabalho nunca foi de cunho religioso ou ofensivo. São peças de decoração. O objetivo não é desrespeitar ou ofender qualquer crença”, garante.