Diante de algo inusitado, não é incomum ouvir, em Goiás, alguém dizer “rensga!”. Essa expressão tão típica dos goianos dá nome à exposição do artista plástico Oscar Fortunato, na Sala Reinaldo Barbalho, do Museu de Arte de Goiânia (MAG). A abertura será hoje, às 20 horas, e a mostra fica disponível para visitações até o dia 14 de julho. Com irreverência, o artista traduz, ao mesmo tempo que contesta, símbolos e valores tradicionais de Goiás, por meio da influência punk, que caracteriza seus trabalhos. Ele também propõe a visão da morte, da opressão e do caos urbano em seus traços. Serão expostas 30 obras, entre telas, gravuras, objetos e experimentos, 28 delas inéditas. A entrada é franca. Para realizar a mostra, Fortunato procurou tudo que se enquadrava dentro do conceito previsto para a exposição e já estava pronto em seu ateliê, buscou trabalhos já adquiridos por clientes e produziu coisas novas, dando continuidade ao que já vinha fazendo. “Meu processo é minha vivência diária”, observa. Ele diz que a exposição Rensga é um projeto que sempre teve vontade de fazer, voltado para a goianidade, falando da cidade, das pessoas e seus comportamentos, defeitos e virtudes, porém de forma extremamente sincera sem emitir juízo de valor. “É algo para pensar sobre nossa falta de identidade, para estimular que nos aceitemos mais, sem ter de ser goiano pedindo desculpas, renegando alguma coisa, sempre com aquele ‘mas’. Somos goianos e ponto”, analisa o artista. Para Fortunato, essa ausência de identidade do goiano que ele aponta se justifica pela pouca idade do Estado, quando comparado a outros centros, como Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, entre outros. “Todo mundo veio de algum lugar para cá, tem muita gente que não nasceu aqui e nossa formação, portanto, veio de outras referências. Temos de ir além de Cora Coralina, de Siron Franco. Não é renegar, é ir além. A função do artista é acolher o novo também. Não podemos ter medo”, ressalta. O nome da mostra, revela ele, foi escolhido propositadamente, de modo que somente quem é daqui identifica e capta imediatamente o sentido da exposição. “Gosto muito da palavra, tanto pelo seu significado quanto por sua sonoridade. É uma interjeição de espanto em ‘goianês’, que pode ser usada diante do belo ou do feio, depende só da vontade e espontaneidade do momento”, completa. Entre as obras que vai expor, Fortunato destaca a série chamada Jogo do Bicho, de cartazes diversos que estão espalhados pela capital. Provavelmente você já viu um “Free Boi” (liberte o boi, em tradução livre) em algum ponto de ônibus, muro ou poste de luz, e nem se deu conta de que é uma forma de protesto do artista. “É uma homenagem, não ao Junior (em referência ao empresário Junior Friboi), mas à liberdade do animal. O boi que idealizei é um sem chifres, é pacífico. Em alguns desenhos as pessoas foram lá e fizeram chifres. Eu acho um barato, porque isso sim é dialogar”, explica. Sem doutrinação Vegetariano desde a adolescência, ele diz que sua intenção não é doutrinar ninguém, mas despertar a curiosidade para pensar sobre o assunto. “A rua é o lugar mais importante para mim, é meu salão, às vezes é minha galeria, tenho liberdade. É onde não tenho nenhum limite, posso ter minha ideia do jeito que quero”, completa. Outra temática que promete provocar reflexões é, segundo ele, a da fama de mau motorista que o goiano carrega. “Eu mesmo sou péssimo ao volante, mas pelo menos tenho a coragem de admitir. Sou uma merda para estacionar e fazer baliza”, diverte-se. É para figuras do cotidiano que ele leva seu olhar anarcopunk carregado de cinismo e ironia, armas muito eficientes, conforme sua avaliação. “É dessa forma que nossa intenção às vezes é atingida”, declara. Há outras obras ainda inspiradas no jazz. Aliás, a música também é assunto recorrente para Fortunato. Em 2009, ele realizou a exposição Outsider, em Brasília, que reuniu um conjunto de 35 trabalhos inspirados na obra do cantor e compositor norte-americano Bob Dylan, um dos maiores símbolos da cultura contemporânea mundial nos último 50 anos. “Aprendi com ele que a gente tem de ser atual e falar do nosso tempo. Qual o interesse que alguém pode ter no meu trabalho se ficar falando de século passado? Isso acaba me influenciando. Mostrar a existência é importante.” Perfil OSCAR FORTUNATO Oscar Fortunato nasceu em Itaberaí, mas cresceu em Goiânia, teve loja de discos, passou pelo fanzine, produziu shows de rock, estudou artes em Oxfordshire, na Inglaterra, onde morou por cinco anos (1999 a 2003), e participou de várias exposições coletivas. Também coleciona e adora vinis e diz não suportar desperdício na natureza, sempre reaproveitando e criando materiais. “Não participo de salões porque fazer trabalho direcionado para alguma coisa não me interessa, também não entro em leis de incentivo, porque é de incentivo”, ironiza ele, que vai participar de outra mostra individual em setembro, em Brasília (DF). “Neste espaço também quero fazer um fanzine, sou um fanzineiro que virou artista e um artista que faz fanzine. Depois disso vou sossegar o facho”, avisa, com bom humor. Exposições: Rensga, de Oscar Fortunato, e Bem-vindo às Máquinas, de Múcio Nunes Abertura: Hoje, às 20h Local: Sala Reinaldo Barbalho do Museu de Arte de Goiânia (MAG). Rua 1, nº 605, Bosque dos Buritis, Setor Oeste Visitação: 20 de junho a 14 de julho, de segunda a sexta, das 9h às 17h, e sábados, domingos e feriados, das 10h às 17h Agendamento: 3524-1196 Informações: 3524-1189 Entrada franca-Imagem (Image_1.343551)-Imagem (Image_1.343550)-Imagem (Image_1.343549)