O líder da organização terrorista Al Qaeda na Península Arábica (AQPA), Jalal Blaidi, morreu nesta quinta-feira ao lado de cinco de seus companheiros em um bombardeio de um drone americano na província de Shebua, no sul do Iêmen.Fontes de segurança informaram à Agência Efe que o drone disparou dois mísseis contra o veículo militar no qual viajavam os seis integrantes da AQPA, na área de Haban.Os corpos ficaram calcinados e foram levados para ser enterrados na cidade natal de Blaidi, em Zinyibar, capital da província vizinha de Abian.Blaidi, conhecido como "Hamza Zinyibari", é um líder jovem que adquiriu notoriedade no grupo durante os dois últimos anos após comandar algumas operações sangrentas contra o Exército iemenita, entre elas o sequestro e decapitação de 14 soldados na província de Hadramut em agosto de 2014.Com sua morte, Al Qaeda na Península Arábica recebeu um duro golpe, especialmente depois da morte de seu líder máximo Nasir al Wahishi em um ataque parecido na cidade de Al Mukala em junho do ano passado.Al Mukala, capital de Hadramut, também no sudeste do país, está em poder do grupo terrorista, que há três dias também retomou o controle da cidade de Azzan, seu principal reduto em Shebua.Os EUA mantêm há anos uma campanha de bombardeios contra os terroristas no sul do Iêmen com aviões não tripulados, já que considera o ramo local de Al Qaeda uma das mais ativas e perigosas.&nbsp;

Morre líder da Al Qaeda em bombardeio dos EUA no sul do Iêmen

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Matéria - Mundo

O presidente eleito Donald Trump sugeriu em tom de brincadeira nesta semana a possibilidade de concorrer a um terceiro mandato. Segundo a Constituição dos Estados Unidos, porém, esta chance é vedada.

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Para que o republicano pudesse tentar governar o país pela terceira vez, ele teria de aprovar uma emenda à Carta Magna americana, revogar o trecho que trata do tema —algo que teria dificuldade de fazer— ou desobedecer a legislação.

Nesta quarta-feira (13), durante visita ao Congresso, o presidente eleito insinuou que poderia concorrer novamente a uma eleição. O primeiro mandato de Trump foi de janeiro de 2017 a janeiro de 2021.

"Suspeito que não vou concorrer novamente a menos que vocês digam: ‘Ele é tão bom que precisamos descobrir outra solução'", disse Trump a correligionários no Congresso, onde foi aplaudido por apoiadores.

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A 22ª emenda da Constituição americana impede que os presidentes tenham mais de dois mandatos, sejam eles consecutivos ou não. Este impedimento foi instituído em 1951, após o democrata Franklin D. Roosevelt comandar o país por quatro mandatos consecutivos, de 1933 a 1945.

"Para que ele possa concorrer novamente, esta previsão da Constituição teria de ser emendada, ignorada ou seria necessário encontrar outra forma de contornar essa regra", disse à Folha Rick Hansen, professor de direito da UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles). "Isso envolveria quebrar normas ou quebrar a lei", afirmou.

O professor da Universidade Stanford e especialista em direito constitucional Michael McConnell foi ainda mais enfático ao site Vox ao responder se haveria brechas legais para o presidente eleito concorrer novamente. "Não. Não há nenhuma. Este será a última vez que ele se candidatará à Presidência", disse.

Para que uma emenda seja revogada é necessária a aprovação de dois terços da Câmara e do Senado, ou seja, 290 votos na primeira Casa e 67 na segunda. Depois disso, ao menos 38 dos 50 estados americanos (três quartos do total) precisariam também concordar com a mudança por meio de votações nos Legislativos estaduais.

Apesar de terem assegurado a maioria tanto na Câmara quanto no Senado, os republicanos não têm o número suficiente de votos para aprovar a revogação —e um cenário em que os democratas, na oposição, votem a favor de uma medida pró-Trump seria extremamente improvável.

Até esta quinta, os republicanos tinham 218 cadeiras na Câmara, um a mais que o necessário para maioria simples na Casa, que tem 435 deputados. Os democratas conquistaram 208 assentos, e ainda há 9 em disputa. No Senado, o partido de Trump tem 53 dos 100 assentos. Isso é suficiente para aprovar uma série de leis no radar do presidente eleito, mas não para mudar a Constituição.

A outra maneira de revogar ou aprovar uma nova emenda seria convocar a chamada Convenção Constitucional. Para isso, são necessários os apoios de ao menos 34 estados (dois terços do total). Uma vez convocada, a proposta de emenda precisaria ser ratificada por 38 estados (três quartos do total). Só então seria considerada aprovada e entraria em vigor.

O flerte de Trump com um terceiro mandato não é inédito. Em maio, o republicano mencionou Roosevelt ao insinuar a apoiadores que tentaria nova candidatura. "Ele [Roosevelt] teve quatro mandatos. Eu não sei, seremos considerados [uma Presidência] de três ou de dois mandatos?", disse em evento de campanha em Dallas. Em resposta, a multidão gritou "três vezes".

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Trump teria de alterar Constituição ou driblar lei para tentar 3º mandato

estados unidos

Um dos principais nomes do movimento antivacina dos Estados Unidos, Robert F. Kennedy Jr., é cotado para ocupar um cargo de destaque no governo Donald Trump relacionado à área da saúde.

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Segundo o jornal The New York Times, seis pessoas que falaram em condição de anonimato dizem que Kennedy Jr. está em Mar-a-Lago, na Flórida, junto com o time da transição do republicano, mas que seu posto na administração ainda não foi definido.

Ainda assim, de acordo com reportagem do jornal The Washington Post da semana passada, o crítico das vacinas poderia ser indicado como diretor de uma agência ou de um assento na Casa Branca que supervisiona questões ligadas a políticas de saúde e alimentação.

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Kennedy foi candidato independente à Presidência da República, mas abdicou da corrida para apoiar Trump em troca de um cargo relevante na sua administração, segundo o The New York Times.

Em entrevista ao apresentador Tucker Carlson, em 31 de outubro, Trump afirmou que Kennedy Jr. poderia ser uma "figura influente" no segundo mandato.

Sobrinho do presidente John F. Kennedy e filho do falecido senador e procurador-geral Robert Kennedy, o aliado de Trump foi um dos criadores de um dos principais grupos antivacina do país.

Ele já criticou recomendações do CDC, equivalente à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), para a imunização de crianças. E também difundiu teorias relacionando a vacinação a casos de autismo.

Numa entrevista recente à NPR, disse que não tirará vacinas de ninguém, mas afirmou que são poucas as pesquisas ligadas ao imunizante.

"Claro, não vamos tirar vacinas de ninguém", disse Kennedy. "Nós vamos é assegurar que os americanos tenham boa informação a respeito das vacinas e da segurança das vacinas."

O ex-candidato à Presidência afirmou que o futuro governo vai tirar o flúor da água, uma ideia que ele apresentou ao presidente eleito.

O flúor é adicionado à água dos Estados Unidos desde 1945, mas a decisão sobre incluí-la é tomada por autoridades locais e não pelo governo federal. O mineral serve para fortalecer os dentes.

Nome do movimento antivacina é cotado para assumir cargo de saúde no governo Trump

ESTADOS UNIDOS

PUBLICAÇÃO INSTAGRAM

Donald Trump Jr., o filho do presidente eleito dos Estados Unidos, publicou uma carta de demissão do pai direcionada ao McDonald's. O então candidato republicano foi atendente na rede de fast food por um dia durante sua campanha eleitoral para a Casa Branca. Agora eleito, ele agradeceu pela experiência.

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"Durante a minha gestão aqui, aproveitei a oportunidade de servir os nossos clientes e contribuir para o ambiente acelerado deste estabelecimento. Desde preparar hambúrgueres até fazer batatas fritas e gerenciar o drive-thru. Aprendi um pouco sobre o negócio de restaurantes e o valor do trabalho duro", disse Trump na carta, endereçada ao gerente.

"Quero agradecer a oportunidade de fazer parte de uma marca americana tão icônica. A experiência foi inestimável e sou grato pelas habilidades que desenvolvi, que acredito que me servirão bem em empreendimentos futuros", agradeceu o empresário.

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Vale lembrar que, após a visita, o McDonald's afirmou que não apoiava a campanha de Trump, tampouco a de Kamala Harris. "O McDonald's não apoia candidatos a cargos eletivos e isso continua sendo verdade nesta corrida para o próximo presidente", disse a rede, em comunicado enviado à Bloomberg.

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Por outro lado, a campanha abriu portas para que outras contribuições do presidente com redes de fast food fossem lembradas. Uma delas foi um comercial para a Pizza Hut de 1995, no qual o empresário aparece comendo pizza ao contrário, começando pela borda.

Apesar de ter nascido em família nobre, Trump sempre foi conhecido por maus hábitos à mesa. Talvez por isso o presidente tenha sido escolhido para um comercial em que come pizza com as mãos e contraria as maneiras tradicionais italianas.

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Donald Trump manda 'carta de demissão' ao McDonald's

A guinada à direita nas eleições nos Estados Unidos, onde o ex-presidente republicano Donald Trump teve vitória esmagadora, além de contar com maioria no Senado e liderar, até nesta sexta-feira (8), a disputa na Câmara dos Representantes, cuja apuração dos votos segue lenta em alguns distritos, cria expectativas globais sobre várias questões.

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Acordos comerciais e climáticos, imigração, guerras, a expectativa é grande sobre se o presidente eleito na nação mais poderosa do mundo vai cumprir promessas de campanha, como deportação em massa, investimento na exploração de petróleo, corte de recursos para países em conflito, medidas protecionistas, com barreiras tarifárias sobretudo para produtos chineses, saída mais uma vez, a exemplo do que ocorreu em seu primeiro mandato, do Acordo de Paris.

Trump volta à Casa Branca chancelado por mais força nas urnas do que em sua primeira eleição, e além de contar, ao que tudo indica, com maioria no Congresso, vai governar com uma Suprema Corte conservadora. Ou seja, tem mais poder e respaldo para a adoção de medidas relacionadas ao lema da sua campanha, fazer a América grande outra vez: “America first”.

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No Brasil, preocupa a perspectiva de sobretaxação de commodities, que deve afetar as exportações do agronegócio, pilar da economia goiana. Por outro lado, já se discute a influência da vitória do republicano nas eleições presidenciais brasileiras de 2026. Líderes evangélicos celebram a vitória de Trump e fazem coro para uma volta da direita à Presidência também no Brasil.

Apesar de inelegível após condenação pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e de enfrentar ações no STF (Supremo Tribunal Federal), o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores comemoram a vitória de Trump. Bolsonaro citou a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021, comparou as situações vividas por ele e por Trump e disse que os cenários de lá se repetem no Brasil. Indícios de que o ex-presidente e seus seguidores não descartam a pretensão de uma candidatura dele já nas próximas eleições.

O POPULAR selecionou esses e outros temas relacionados às eleições nos EUA para análise de especialistas: Geisa Cunha Franco, doutora, professora de relações internacionais na UFG, com pós-doutorado na Universidade de Surrey, Inglaterra, e mestre em História pela USP; Afonso de Albuquerque, professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFF (Universidade Federal Fluminense) e coordenador do INCT/DSI (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia - Disputas e Soberanias Informacionais); e Maysa Bernardes Balduino, psicanalista clínica, membro associada da SBPGoiânia e professora de Teoria Freudiana.

Eles também comentam o aumento do número de votos de imigrantes, mulheres e negros em Trump, apesar do discurso xenofóbico e de ameaça a direitos de trabalhadores.

<h2>Maior poder </h2>

Afonso de Albuquerque - Trump vai ter muitas condições de governabilidade, até porque, diferente do que aconteceu no Brasil, ele não foi responsabilizado pelo 6 de janeiro (invasão do Capitólio). Ele ganhou um novo mandato depois de agir de maneira antidemocrática. E tem um Congresso para apoiá-lo e uma Suprema Corte conservadora. Isso favorece a adoção de medidas para cumprir promessa de uma América grande outra vez. Também pode favorecer a adoção de medidas para a construção de um estado com características autoritárias. Esse é o espectro que se apresenta para os Estados Unidos a partir da vitória de Donald Trump. É uma virada autoritária, uma ruptura com uma certa tradição liberal que, no caso dos Estados Unidos, se constitui com base no conceito de checks and balances, a ideia de que os poderes servem de contrapeso uns aos outros, de forma a impedir a tirania. Tirania é quando não existem esses contrapesos. Na teoria dos Estados Unidos, é assim que se descreve. Então, como todos os poderes estão atuando, estão controlados por pessoas com perspectivas políticas que estão entre o conservadorismo e a extrema direita, existe uma possibilidade muito grande que se adotem dispositivos que permitam condição de permanência do poder no partido Republicano. Uma consideração muito importante: em contraste com o Brasil. É a enorme diferença de Jair Bolsonaro para Trump. É gigantesca. Bolsonaro eventualmente esteve num partido e depois está em outro. O PL não é um partido histórico, é um partido de pessoas que se juntaram em torno de um líder. Já os partidos Republicano e Democrata recortam a política dos Estados Unidos, são os dois únicos partidos efetivos do país.

<h3>Questão climática </h3>

Geisa Franco - Na questão climática, a vitória de Trump é uma péssima notícia para a sociedade e os países que vêm tentando, por meio de acordos multilaterais, frear o aquecimento global, uma vez que ele se retirou do Acordo de Paris, ao qual Joe Biden retornou, e nada faz crer que não vá se retirar novamente. Além da sua explícita falta de compromisso com o multilateralismo em geral, existe a pressão para a exploração do xisto em algumas regiões decadentes economicamente, combustível este mais nefasto para o aquecimento global do que o carvão. Isto sem falar do negacionismo climático que ele respalda. Isso é mais surpreendente e trágico se pensarmos que, após o fim de seu primeiro mandato, eventos climáticos extremos se tornaram ainda mais comuns.

<h2>Medidas </h2>

<h2>protecionistas </h2>

Geisa Franco - O protecionismo defendido por Trump ce, rtamente afetará o comércio mundial como um todo, e irá emperrar mais ainda as rodadas de negociações da OMC (Organização Mundial do Comércio). No entanto, os Estados Unidos não têm tanto poder de pressionar a China como Trump faz crer em seus discursos, visto que eles dependem mais do país asiático do que o inverso. Haverá taxações que serão respondidas com outras taxações e isso não deverá promover um renascimento industrial nas regiões desindustrializadas, pois há diversos outros fatores que afetam a industrialização. A ausência ou diminuição de produtos importados de menor preço deverá provocar inflação, algo que já assusta os norte-americanos. O Brasil será afetado pelo protecionismo americano, mas de forma bem mais amena que seria há algumas décadas, tendo em vista que os Estados Unidos, embora ainda um grande parceiro comercial, perderam muito espaço para a China, e o Brasil vem diversificando seus parceiros há décadas, processo que deverá, em consequência, se acentuar.

Afonso de Albuquerque - A ruptura rumo a uma política mais protecionista tem que ser entendida no seu contexto histórico. Os Estados Unidos, pelo critério de poder, de paridade de compra, que é o critério verdadeiro, tem o dólar como moeda oficial de todos os países, mas de alguma forma pesa o poder dos países com base nas suas moedas. O país mais rico do mundo pelo critério de paridade de compra é a China. O maior parceiro comercial da maior parte dos países do mundo é a China, não os Estados Unidos. O país que é líder de pesquisas do mundo é a China, não os Estados Unidos. De alguma forma, o que Trump provavelmente vai fazer é acelerar o processo. As medidas protecionistas vão transformar o Brics num bloco ainda mais atraente. O que os Estados Unidos construíram? Ao final da Segunda Guerra, eles emergem como a nação mais rica do mundo. Os favoritos ao final da Segunda Guerra Mundial têm metade do mundo, por isso que pôde atrelar ouro ao dólar, porque tinham, basicamente, tanto ouro que podiam fazer isso. Os Estados Unidos não são mais assim. Eu diria que a grande atingida pelas medidas de Trump será a economia dos Estados Unidos.

Deportação 

em massa 

Geisa Franco - A expulsão de imigrantes latinos, caso se concretize, deverá aumentar o custo da mão de obra, o que também contribui para a inflação. A economia americana vem apresentando bons resultados, o que implica no aumento de empregos.

Repercussão &nbsp;nas guerras

Geisa Franco - A vitória de Trump, creio, é uma péssima notícia para os palestinos, pois, ainda que tímidas, as pressões dos democratas ao Estado de Israel para que cesse a guerra e a destruição da Faixa de Gaza deverão dar lugar a um total apoio ao governo de extrema direita de Netanyahu em sua fúria não só contra o Hamas e o Hezbollah, mas também contra o Irã e a população civil palestina e libanesa. Trump defende uma política externa mais isolacionista, mas deve apoiar Putin contra a Ucrânia, seja explicitamente, o que é arriscado politicamente, ou, mais provável, retirando o apoio econômico e militar ao país invadido pela Rússia.

Afonso de Albuquerque - Nesse tipo de relação, há interesses em comum e há interesses divergentes sempre. Às vezes, interesses em comum são grandes o bastante para que os interesses divergentes não sejam muito visíveis. Em relação à guerra da Ucrânia, Trump tem projeto de deixar a Otan (aliança militar do Ocidente), deixar que os europeus se resolvam entre si. Isso favorece Putin. No caso do Oriente Médio, um conflito com o Irã pode levar a um colapso no sistema de petróleo. Existe um preço a se pagar e, eventualmente, o preço é muito alto. O Irã hoje tem recursos que permitiriam atacar bases americanas em toda a região. E obviamente essa confrontação vai implicar em problemas maiores com a China, com a Rússia, que também tem seus interesses na região. O interesse de Israel definitivamente não é o interesse dos Estados Unidos.

Influência nas 

eleições no Brasil

Geisa Franco - Creio que a vitória de Trump deu um alento e um motivo de propaganda nas redes sociais para os bolsonaristas neste momento, mas não acho que terá grandes repercussões eleitorais e, muito menos, jurídicas na situação de elegibilidade do ex-presidente brasileiro. A Justiça brasileira é bastante diferente em termos eleitorais da Justiça americana.

Maysa Bernardes - Não poderia deixar de citar Zygmunt Bauman, importante filósofo que pensou a modernidade líquida, conceito que descreve a nossa era como de intensa transitoriedade e fluidez nas relações sociais, nas identidades e nas instituições. Sem qualidade de vida e com grande insegurança trabalhista, grande parte dos adultos desejam retornar a modelos tradicionais, desejam voltar para um tempo de previsibilidade e lógica única, ainda que tenham que renunciar a direitos e mobilidade social. Penso que esse fenômeno defensivo é global e deve se repetir na corrida presidencial brasileira em 2026, tal qual nas eleições de outubro em que a direita venceu na maioria dos municípios do país.

Afonso de Albuquerque - Como Trump, Jair Bolsonaro se elegeu a partir de uma crise de autoridade que tem a ver muito com a Lava Jato, operação que associou a política tradicional à corrupção, e aí Bolsonaro se apresenta como um candidato antimodelo tradicional de política. Mas Trump escapou incólume dos seus malfeitos, digamos assim. Provavelmente, Bolsonaro e seus aliados vão enfrentar problemas legais sérios. Além disso, Bolsonaro perdeu muita autoridade, enfraqueceu sua imagem heróica, quando deixou o país durante o processo de golpe em andamento. E Bolsonaro é completamente irrelevante do ponto de vista dos interesses de Trump. O Brasil não é a maior preocupação de Trump.

Votos de negros 

e latinos 

Geisa Franco - A vitória esmagadora de Trump, sobretudo nos estratos mais baixos da população, é algo que me intriga muito. A inflação decorrente da guerra da Ucrânia, fenômeno ao qual os americanos não estavam acostumados, reduziu muito o poder de compra das classes mais baixas. Mesmo agora em declínio, essa inflação foi muito associada ao governo Biden. Mas eu não acredito que seja só essa a explicação. O grande poder de redes sociais, fake news e da propaganda mentirosa, mas repetitiva, sobretudo nas camadas mais iletradas de brancos e latinos, também é um fator a se considerar. A ideia, ainda que ilusória, de uma “America great again” deve ter seduzido aqueles ressentidos do declínio relativo dos Estados Unidos no sistema internacional. A crença norte-americana no individualismo liberal parece ser ainda muito forte, mesmo com as evidências da concentração de renda e do empobrecimento de classes que desfrutavam, décadas atrás, de uma condição de vida bem mais estável e próspera.

Afonso de Albuquerque - Não é propriamente que imigrantes, mulheres, negros subscrevam o discurso do Trump, mas o fato de que eles preferem ignorar esse discurso. Pesou a insatisfação com Joe Biden, que está atualmente à frente da Presidência, e Kamala Harris era vice dele, portanto, era impossível para ela se descolar do mandato presidencial, que deixa muito a desejar. A lógica é menos uma lógica do que Trump fez, onde acertou politicamente falando, em termos de técnicas para ganhar a eleição, e mais de como o partido democrata falhou miseravelmente.

Guinada à direita

Maysa Bernardes - O desamparo é uma condição humana inicial e que nos acompanha, em maior ou menor grau, por toda a vida. Penso que o contexto global atual, com alto índice de violência, desemprego, insegurança econômica e socioambiental, provoca sofrimento em todos os eleitores. Mais desamparados, todos tendem a regredir, um mecanismo de defesa primário, que Sigmund Freud, o pai da psicanálise, descreveu como uma reversão temporária ou a longo prazo do ego para um estágio anterior de desenvolvimento. Ficamos todos como crianças buscando uma figura divina e parental. Líderes que apontam para um só caminho, que prometem segurança, educação e saúde, manutenção da ordem, que valorizam a família e a tradição, atendem melhor o pavor dessa grande massa, atendem melhor esse momento narcísico da regressão, em que o ego está muito mais voltado para a manutenção da própria vida. Assim, uma sociedade ameaçada em sua sobrevivência fica impedida de simbolizar e lidar com pautas que debatem a liberdade, a qualidade de gênero, a inclusão social etc. Ainda que com discurso ausente de bom senso e repleto de incoerência, líderes que prometem com vigor e radicalismo falam com um coletivo que está realmente traumatizado e fragilizado.

Afonso de Albuquerque - Considero que mais do que uma guinada para a direita, de uma vitória de Donald Trump, o que houve foi uma derrota do partido Democrata. Claro, a vitória de um implica na derrota de outro, mas se a gente diz que foi uma vitória de Trump, está enfatizando aquilo que ele fez de correto. Qual foi o segredo do sucesso dele? Mas quando a gente fala na derrota do partido Democrata, está dizendo que o partido Democrata perdeu pelas suas escolhas, pelas características das suas políticas, criou cenário desastroso para si mesmo. O que fez com que um extremista, acusado de tentativa de golpe, parecesse melhor do que a alternativa existente, Kamala Harris? Em primeiro lugar, o presidente democrata (Joe Biden) é um personagem desprovido de autoridade em seu comportamento, ausência de postura. Muito fraco. Isso criou, alimentou, uma certa demanda por autoridade. Então, poderia dizer que o povo americano optou pelo autoritarismo? Não acho que seja isso. Acho que o povo americano optou por um candidato que parecia ter mais autoridade. A política do partido Democrata contempla hoje de maneira muito frágil os interesses, por exemplo, da classe trabalhadora dos Estados Unidos, o que no passado o partido Democrata fazia. Na Europa também nós temos crise de má administração. Por exemplo, na questão da Ucrânia, os países com problemas sérios econômicos estão dando dinheiro a rodo para manter uma guerra funcionando. Isso não favorece os governantes e favorece todos aqueles que tiverem um discurso radicalmente oposto a esse. O fato de um discurso ser de extrema direita é um elemento da equação, mas não o elemento fundamental.&nbsp;