Epicentro do coronavírus no Brasil, São Paulo é a cidade em que uma solução tecnológica desenvolvida em Goiás tem sido usada para tentar ajudar no combate à epidemia. A plataforma da startup Mindify usa inteligência artificial e visa automatizar protocolos clínicos, fazer triagem e acompanhamento da residência até a atenção hospitalar intensiva em casos da Covid-19. Por enquanto, a versão em uso ajuda na triagem de pacientes com suspeita da doença para evitar idas desnecessárias aos hospitais. Foi adotada pela Federação das Unimeds de São Paulo, que fechou contrato com a empresa goiana, cuja equipe de Tecnologia da Informação está em hub no Goiânia 2, na capital goiana. Essa triagem funciona por meio de aplicativo do plano de saúde em que o paciente seleciona opções de respostas que sinalizam se a pessoa é um caso suspeito ou não. Entre elas, pode marcar se fez viagem recente e pontuar se está com febre, por exemplo. Se for indicado, a tecnologia sugere atendimento por vídeo ou telefone com profissional da saúde. TelemedicinaAlternativas semelhantes têm sido oferecidas no mercado nesse momento especialmente porque o Conselho Federal de Medicina (CFM) aprovou no último dia 19, em caráter de excepcionalidade, o uso de telemedicina diante da pandemia.Segundo o fundador da Mindify, o engenheiro biomédico André de Paula Ramos, a proposta é ter a jornada do paciente, desde a quarentena em casa, e poder auxiliar na coordenação das ações de tratamento nesse momento de crise. Com os dados armazenados, a ferramenta se propõe a auxiliar a padronização de processos para que estatísticas possam ser compartilhadas com as lideranças médicas que refinam os protocolos. “Foi criada para coordenar protocolos em equipes grandes em crises”, explica André ao informar que é esperado que na quarta-feira (25) ocorra o lançamento de uma versão completa, que poderá ser habilitada para o uso de 2,5 milhões de pessoas. Em Goiás, a startup também está em negociação com planos de saúde. AnsiedadeSegundo o gerente de inovação da Unimed São Paulo, Maurício Cerri, somente a federação possui 4 milhões de clientes e 77 operadoras no território paulista. Ele diz que a crise levou à busca pela tecnologia por conta da preocupação com a procura por atendimento nos hospitais. “A solução consegue reduzir a ansiedade do paciente e elimina casos que não precisam estar nos hospitais. O protocolo segue critérios do Ministério da Saúde.” André explica que, além de São Paulo, Unimeds em outros Estados podem usar a plataforma e eles também a oferecem para instituições públicas sem cobrar por isso. Um dos maiores ganhos, para ele, é que a ferramenta é intuitiva, ágil e “autoexplicativa”. Elimina papel, treinamento e gasto maior de tempo, que nas unidades de saúde tem se tornado ainda mais precioso.“Com os dados estruturados, tenho informações da triagem de forma sistêmica para na jornada de atendimento ter maior número de informação”, descreve. Apesar dos lados positivos, a telemedicina e a adoção de outras novidades tecnológicas ainda possuem barreiras e são vistas como um assunto delicado nesse momento, ao menos por parte do setor. Entre os motivos, está o número alto de outras demandas e investimentos. Porém, o responsável pela Mindify, ressalta que há parceria com lideranças médicas de todo o Brasil para elaborar o passo a passo que permite que os profissionais tenham as perguntas corretas para um atendimento mais ágil e eficaz. E ressalta: a plataforma não substitui o médico.Já em relação ao teleatendimento, conforme André argumenta, reduz o risco de transmissão, uma vez que o paciente com suspeita de coronavírus não fica em uma fila de espera para ser atendido. Desenvolvimento A ferramenta goiana estava pronta desde 2017. Mas foi adaptada com foco no uso para o momento de epidemia do coronavírus. O que levou três dias. “Criamos inteligência para automatizar protocolo. O robô consegue revisar de forma automática. Só demorou porque as diretrizes clínicas ainda mudam e temos de ler muita coisa para encaixar, analisar e ir ensinando a ferramenta a fazer o que é mais correto”, detalha. Co-fundador do HUB Gyntec Assestro Softex, onde a startup Mindify é residente, Marcos Bernardo conta que as empresas de tecnologia voltadas para saúde já ganhavam espaço antes da Covid-19 e agora podem conseguir ainda mais visibilidade e investimentos. “É inspirador ver ganhar escala de mercado e nos deixa orgulhosos. Por isso, precisamos continuar a incentivar o empreendedorismo digital.” Ele afirma que ainda é esperado que dobre o número de startups com investimentos importantes este ano mesmo diante da desaceleração econômica. “O mercado está aquecido e a questão do coronavírus vai acelerar o trabalho, especialmente das health tech”, aposta.