Até a última sexta-feira (28), 1.670 alunos da Universidade Federal de Goiás (UFG) receberam algum tipo de ajuda da instituição para conseguir ter acesso às aulas virtuais, o que corresponde a cerca de 5% do corpo discente. Os cursos de graduação e pós-graduação e ensino básico de responsabilidade da UFG vão ter o calendário do primeiro semestre letivo retomado nesta segunda-feira (31), com aulas apenas em ambiente virtual. Em março, quando a pandemia do coronavírus (Sars-CoV-2) obrigou o distanciamento social, as atividades foram suspensas, diferente de outras unidades de ensino que optaram por já iniciar o serviço remoto imediatamente.Na época, a UFG alegou que a comunidade acadêmica era muito diversa e muitos alunos não teriam acesso às aulas digitais, pela vulnerabilidade social. Mais de cinco meses depois, com o argumento de não prejudicar os alunos, o semestre será retomado mesmo pela internet. Segundo a última pesquisa do perfil socioeconômico da UFG, de 2018, 20,9% dos estudantes tinham renda familiar bruta até meio salário mínimo, que é a faixa mais visada para o atendimento dos programas de acesso virtual. São três projetos da própria instituição e um do Ministério da Educação (MEC).A universidade criou o UFG ID, que distribui equipamentos (celulares, tablets, computadores ou notebooks) doados ou emprestados aos alunos, e o Conectividade, que cede até 500 reais para que a pessoa compre um eletrônico que dê acesso à internet. Nestes dois projetos foram 770 estudantes sorteados. “Ainda temos 231 alunos esperando e até quarta-feira (2/9) vamos fazer um sorteio com dos equipamentos e consolidar o atendimento a todos os pedidos”, afirma a pró-reitora de Assuntos Estudantis (Prae), Maísa Miralva.Além disso, no projeto Plano de Dados, que concede 100 reais aos alunos para comprarem pacotes de dados, foram mais 900 contemplados entre julho e agosto. Em todos os projetos, alunos com renda familiar mensal até um salário mínimo e meio podem participar. “Quem ainda não se inscreveu pode solicitar o equipamento ou o plano de dados para que não fique sem estudar por falta de internet ou de equipamento eletrônico. Vamos fazer de tudo para que os estudantes sejam atendidos.”Além disso, na última semana o MEC lançou o Projeto Aluno Conectado, voltado para estudantes com renda familiar até meio salário mínimo, e que vai distribuir um chip com 20 gigabytes (GB) de dados móveis para os alunos. O cadastro é feito com a própria UFG.VaquinhaOs alunos da instituição que não se enquadram nos critérios de renda familiar mais baixa ou mesmo com a incerteza de conseguir o equipamento tentaram arranjar o acesso por conta própria. A estudante de pedagogia Yasmin Segati de Oliveira Coelho Ramos, de 19 anos, recorreu a uma vaquinha virtual e arrecadou 650 reais. Com o valor comprou um computador usado, mas com uma garantia de até 90 dias por uma loja de informática.“Na época das aulas presenciais, eu fazia todos os trabalhos no laboratório de informática da faculdade de Educação ou então em alguma lan house”, diz. Sem a possibilidade de usar o laboratório, surgiu a ideia de procurar ajuda. Yasmin conta que participou do edital feito pela UFG para conseguir um aparelho, mas não chegou a ter qualquer resposta.“As aulas começam em alguns dias, então optei por solicitar ajuda com a incerteza de conseguir ser contemplada, fora que há alguns critérios que dão mais preferência para pessoas em situações mais críticas que a minha e de algumas colegas. Obviamente, elas irão ser contempladas de forma mais rápida, não gostaríamos de sair prejudicadas, então optamos por esse meio, pedindo auxílio por meio de rede social, amigos e familiares”, conta a estudante.A pró-reitora Maísa Miralva reforça ainda que os outros projetos, da própria entidade, continuam recebendo inscrições. “Nosso objetivo é atender a todos os alunos que solicitarem e estiverem dentro do critério de baixa renda. Os estudantes se cadastram e conseguem fazer a autodeclaração pelo e-mail institucional. A falta de documentos para comprovar a renda familiar não é um obstáculo.” Professores receberam cursos para se adequarem às aulas pela internetDesde que o Conselho Universitário (Consuni) da Universidade Federal de Goiás (UFG) definiu o retorno das aulas, no dia 3 deste mês, a instituição passou a fornecer cursos e dicas a professores e servidores sobre como seriam as aulas no ambiente digital. O presidente do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás (Adufg), Flávio Alves, conta que vários treinamentos foram feitos durante o mês para ajudar os professores a se familiarizarem com as plataformas.“Tivemos muitos questionamentos sobre as condições de trabalho, mas o entendimento do sindicato é que não dá para continuar como estava, para não prejudicar os alunos ainda mais”, relata. Segundo ele, toda a carga horária será para as aulas teóricas e as disciplinas práticas deverão ocorrer em outro momento, já com o fim da pandemia. A pró-reitora de Graduação, Jaqueline Civardi, explica que todas as disciplinas voltarão a ser ofertadas, de maneira em geral. A exceção é para aquelas que demandam práticas profissionais, laboratórios especializados ou alternância pedagógica entre a UFG e a comunidade. As mesmas regras valem para o Colégio de Aplicação e servem até o fim do semestre, previsto para ocorrer em fevereiro de 2021. Neste período os alunos também passarão por avaliações. “A orientação é que os critérios e procedimentos de avaliação estejam indicados nos planos de ensino e nos ambientes de aprendizagem de forma clara e explícita ao longo de todo o semestre letivo”, diz a pró-reitora. Do mesmo modo, alunos que estão finalizando a graduação poderão apresentar o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). A UFG criou um fluxo de defesas on-line com uso dos processos no Sistema eletrônico de Informações (SEI) para registro documental e as plataformas para a realização das apresentações e defesas.