Treze projetos de pesquisa e inovação que tem o auxílio ao enfrentamento à pandemia do novo coronavírus como tema vão receber R$ 1,2 milhão de investimento do governo estadual. Por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Goiás (Fapeg), o govermo goiano divulgou nesta quarta-feira (10) os nomes dos selecionados na convocação.A iniciativa foi realizada em parceria com as secretarias estaduais de Saúde (SES) e de Desenvolvimento e Inovação (Sedi), por meio da Subsecretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação. A convocação foi aberta entre os dias 6 e 19 de abril e contou com 72 projetos submetidos. As propostas foram apresentadas por meio de formulários disponibilizados no site da Fapeg e foram avaliadas por um comitê científico.Entre os critérios de seleção considerados pelos avaliadores estiveram os aspectos de inovação, parcerias propostas, alcance da pesquisa e mérito científico. Depois os projetos recomendados pelo comitê científico foram validados pela SES para que fossem selecionados aqueles que atendessem as necessidades de Goiás. Por fim, os projetos aprovados passaram por um processo de adequação orçamentária para ajustarem ao orçamento destinado à convocação.A convocação teve como objetivo identificar projetos em todas as áreas do conhecimento que pudessem contribuir de forma relevante para reduzir os impactos da pandemia de Covid-19 e facilitar o direcionamento de esforços e de recursos para a tomada de ações estratégicas em Goiás.Confira os projetos aprovados:&nbsp;Estratégia Acelerada por Inteligência Artificial para Reposicionamento e Descoberta de Fármacos para Covid-19Apresentado por Carolina Horta Andrade (UFG)&nbsp;Diagnóstico molecular rápido para Covid-19Liderado por Gabriela Rodrigues Mendes Duarte, da Universidade Federal de Goiás (UFG)&nbsp;Avaliação de Polimorfismos dos Genes ECA e ECA2 na Susceptibilidade a Manifestações mais Graves da Covid-19Apresentado por Gustavo Rodrigues Pedrino (UFG)&nbsp;Avaliação da infecção de células de indivíduos de diferentes faixas etárias com ou sem comorbidades pelo SARS-CoV-2 e a consequente produção de anticorposApresentado por Irmtraut Araci Hoffmann Pfrimer (PUC-GO)&nbsp;Monitoramento da circulação do novo coronavírus SARS-CoV-2 em área com adoção precoce de medidas de controleApresentado por João Bosco Siqueira (UFG)&nbsp;Programa de Reabilitação Pulmonar Ambulatorial e Domiciliar Covid-19Pesquisa liderada por Luis Vicente Franco de Oliveira (Centro Universitário de Anápolis – Unievangélica)&nbsp;Diagnóstico molecular de Coronavírus (SARS-COV-2) e mapeamento do genoma viral em GoiásApresentado por Mariana Pires de Campos Telles (UFG)&nbsp;SARS-CoV-2 em Goiás: Estimativa da soroprevalência na população estudada, perfil de excreção, antigenicidade, variabilidade e evolução viralApresentada por Menira Borges de Lima Dias e Souza (UFG)&nbsp;Avaliação do Desempenho de Testes Rápidos na Detecção Salivar do Novo Coronavírus (Covid-19)Apresentado por Nadia do Lago Costa (UFG)&nbsp;Produção de álcool gel 70% com polímeros de Poliglicerol como alternativa ao uso de Carbopol 940Apresentado por Nelson Roberto Antoniosi Filho (UFG)&nbsp;Trabalho pedagógico com tecnologias digitais e móveis na rede pública de educação básica durante o período de suspensão das aulas presenciais pelo contingenciamento Covid-19Apresentado por Rosemara Perpétua Lopes (UFG)&nbsp;Desenvolvimento de modelo preditivo de complicações clínicas em pacientes com infecção por Covid-19 baseado na presença de morbidades crônicasLiderado por Sandro Rogério Rodrigues Batista, da Secretaria Estadual de Saúde.&nbsp;Identificação de componentes imunológicos celulares e moleculares associados à Covid-19: perspectivas para estratégias terapêuticas e vacinaisApresentado por Simone Gonçalves da Fonseca (UFG)Fonte: Fapeg

13 projetos para auxílio no enfrentamento ao novo coronavírus terão investimento de R$ 1,2 mi

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Matéria - Cidades

Mais de 1,6 mil crianças e adolescentes de até 17 anos ficam órfãos de pelo menos um de seus pais por ano em Goiás, segundo um levantamento inédito&nbsp;realizado pelos Cartórios de Registro Civil. Os dados ainda apontam que, em 2021,&nbsp;a Covid-19 foi responsável por ao menos um terço da orfandade no estado, correspondendo a 654 crianças que perderam seus pais por conta da doença em um total de 1.827 órfãos.

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O levantamento se refere ao período de 2021 a 2024. Neste período, os cartórios conseguiram fazer o cruzamento dos dados dos CPFs dos pais existentes nos registros de mortes com o registro de nascimento de seus filhos. Dessa forma, foi possível chegar ao número exato de órfãos no país ano a ano. Até a metade de 2019 não havia a obrigatoriedade de inclusão do CPF dos pais no registro de nascimento, o que impedia a coleta dessas informações.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/cidades/feminicidios-deixam-orf-os-em-goias-1.3106212" target="_blank">Feminicídios deixam órfãos em Goiás</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/goias-e-2-estado-com-mais-orf-os-da-covid-19-no-brasil-1.2339571" target="_blank">Goiás é 2º estado com mais órfãos da Covid-19 no Brasil</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/redes-de-apoio-s-o-criadas-em-goias-para-acolher-orf-os-da-pandemia-1.2325929" target="_blank">Redes de apoio são criadas em Goiás para acolher órfãos da pandemia</a></div>

De acordo com a Associação dos Registros de Pessoas Naturais do Estado de Goiás (Arpen-GO),&nbsp;além dos 1.827 órfãos contabilizados em 2021, o ano seguinte registrou 1.480 crianças que perderam ao menos um dos pais, enquanto 2023 registrou um aumento para 1.621 órfãos e, até outubro de 2024, o número já totaliza 1.625, o que supera o recorde do ano passado neste período.&nbsp;

Quando consideradas apenas crianças e adolescentes que ficaram órfãos dos dois pais, os números variam. Em 2021 foram 41, em 2022, 38, em 2023, 32 e, até outubro de 2024, 45 órfãos. Em razão de seu contingente populacional, São Paulo é o estado que mais registra órfãos no Brasil, seguido pela Bahia, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

<h2>Rastros da Covid-19</h2>

Os dados consolidados do levantamento dos Cartórios de Registro Civil apontam que a Covid-19 deixou, desde 2019, 837 crianças órfãs de pelo menos um de seus pais em Goiás. Ao analisar os dados nacionais, entre as doenças correlacionadas ao coronavírus no mesmo período,&nbsp;o número pode chegar a ao menos 1.243 crianças órfãs no Brasil - considerando a&nbsp;Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) – 28; Insuficiência Respiratória – 348; e Causas Indeterminadas – 30.

Ainda segundo o estudo, ao menos 13 crianças perderam os dois pais em razão da doença causada pelo novo coronavírus, número que pode ser ampliado a 18, se forem considerados óbitos de doenças à época relacionadas com a Covid-19, como Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) – 0; Insuficiência Respiratória – 5; e Causas Indeterminadas – 0. O levantamento ainda aponta reflexo no aumento do número de órfãos em razão do falecimento de seus pais em doenças como Infarto, AVC, Sepse e Pneumonia, que estiveram relacionadas com a pandemia nos últimos anos.

Goiás tem média de 1,6 mil órfãos por ano desde 2021, apontam cartórios

Rastros da Covid

Em silêncio, o diabetes avança no Brasil e assusta as autoridades de saúde. O país ocupa hoje o quarto lugar entre as cinco nações com maior número de pessoas com a doença, que traz complicações sérias e pode levar à morte ou à cegueira, se não for tratada precocemente. Estima-se que 20,7 milhões de brasileiros têm a doença. Mas onde estão esses pacientes? O questionamento, carregado de incertezas, levou a Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES-GO) e a Universidade Federal de Goiás (UFG) a se unirem para um levantamento inédito sobre a patologia, o que poderá refletir em políticas públicas em nível nacional.

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A ideia partiu do médico oftalmologista Marcos Ávila, fundador do Centro de Referência em Oftalmologia (Cerof), da UFG, e presidente de seu conselho consultivo. Ele não tem dúvidas de que o Brasil está vivendo uma epidemia de diabetes. “Nos quase 25&nbsp; anos desde a inauguração do Cerof, cada vez mais estamos nos tornando uma instituição que cuida de diabetes ocular, a retinopatia diabética.”

O Cerof, que atende 100% dos pacientes pelo Sistema Único de Saúde (SUS), viu crescer 25% em dez anos o número de casos de retinopatia diabética no ambulatório de retina. “É um aumento desproporcional para uma mesma doença em curto intervalo de tempo.”

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/magazine/doencas-vasculares-podem-ter-sinais-sutis-e-levar-a-quadros-graves-1.3199910" target="_blank">Doenças vasculares podem ter sinais sutis e levar a quadros graves</a> 
 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/uso-de-caneta-emagrecedora-requer-atenc-o-1.3186857" target="_blank">Uso de caneta emagrecedora requer atenção</a> 
 
<a href="https://opopular.com.br/magazine/doenca-cronica-e-de-causa-multifatorial-obesidade-tem-comorbidades-associadas-e-e-quest-o-de-saude-publica-1.3186391" target="_blank">Doença crônica e de causa multifatorial, obesidade tem comorbidades associadas e é questão de saúde pública</a></div>

Em 3 de setembro, ao participar do Fórum Prevenção da Cegueira e Reabilitação Visual na Infância, na Câmara Federal, organizado pela Frente Parlamentar Mista da Saúde, coordenada pelo deputado Zacharias Calil (UB-GO), Ávila – que é membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia – reforçou a necessidade do diagnóstico precoce e do acesso aos tratamentos disponíveis no SUS, algo que já é feito pelo Cerof. Em sua apresentação, mostrou que um estudo feito em São Paulo revelou que, em média, um paciente leva de 206 a 1.499 dias para ter acesso ao tratamento de retinopatia diabética.

O diabetes, segundo dados oficiais, mata uma pessoa a cada cinco segundos no mundo. No Brasil, a retinopatia diabética está presente em 35% dos casos. “Se o diabético descobre o problema precocemente, trata e resolve. Não há risco quase nenhum de ficar cego com os tratamentos que temos hoje. E o SUS disponibiliza tudo”, afirma Marcos Ávila. A questão primordial, como lembra o endocrinologista Nelson Rassi, do Centro de Atenção ao Diabetes (Cead) da SES-GO, é que “o diabetes só mostra as garras pelas complicações, quando atinge órgãos alvos”. Pessoas que não fazem avaliação clínica regular dificilmente saberão de forma precoce se têm a doença.&nbsp;

A proposta de fazer um levantamento para descobrir onde estão os pacientes com diabetes foi abraçada pela SES-GO. Secretário-adjunto da pasta e pesquisador do tema, o médico endocrinologista Sérgio Vencio diz que será um “trabalho hercúleo a ser executado de médio a longo prazo para chegar a um número mais próximo da realidade”. Pesquisa feita no ano passado pelo Ministério da Saúde (MS) através do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), apontou que o diabetes vem tendo aumento progressivo de incidência desde 2019 e atingiu 10,2% da população brasileira em 2023.

“Os dados do Vigitel são de uma pesquisa feita por telefone. Hoje na SES-GO temos muitos sistemas automatizados de informações, tanto do MS quanto do Estado e dos municípios. O que queremos é unificar os dados para ter uma informação mais fidedigna”, detalha Sérgio Vencio. O médico acredita que o trabalho vai trazer respostas para perguntas como: quantas pessoas têm diabetes em Goiás? Onde elas estão? Quais fazem tratamento? Que complicações apresentam? Quantos têm retinopatia diabética? “Nossa expectativa é que isso mude a forma de fazer política pública relacionada ao diabetes no País.”

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<h2>Estudo quer medir glicemia de todos em Guapó</h2>

Para coordenar o mapeamento, Marcos Ávila convidou o colega de UFG, Thiago Rangel, doutor em Ecologia e especialista em estatística espacial, métodos estatísticos computacionais e simulações computacionais. Rangel conta que foi procurado para uma avaliação estatística com os dados disponíveis do MS e da SES-GO para estimar o número de diabéticos em Goiás. “Passei a estudar a epidemiologia de diabetes e, embora a secretaria estadual tenha um excelente banco de dados, surgiu a ideia de fazer o mapeamento, algo único no País. Procurei um município com pirâmide demográfica semelhante ao Estado e ao País. Se fizermos um estudo exaustivo nesse lugar, o que encontrarmos em termos percentuais de diabéticos será representativo da realidade.”

O município identificado é Guapó, a 35 km de Goiânia, com 19,5 mil habitantes, segundo o último Censo. Num primeiro momento, ainda neste final de ano, Thiago Rangel vai analisar os dados disponíveis na SES-GO e o trabalho de campo no município está previsto para começar em fevereiro, segundo Sérgio Vencio. “É preciso aguardar a troca de gestor em Guapó para nos sentarmos com ele e seu secretário de Saúde, porque precisamos deles para fazer um mutirão”, explica o secretário-adjunto da SES-GO. Em Guapó, o prefeito eleito é Frank Estevan (UB). O mapeamento será custeado pela pasta estadual da Saúde.&nbsp;

A expectativa, conforme Sérgio Vencio, é medir a glicose de 100% dos habitantes de Guapó, em um mutirão que vai envolver servidores estaduais e municipais. Também será aplicado um questionário sobre tabagismo, uso de bebida alcoólica, hábitos de vida, alimentação etc. “Guapó será o município de controle em vários aspectos.” Num segundo momento, a equipe do Cerof vai se deslocar para o município para realizar exames de fundo de olho em todos aqueles que apresentarem diabetes e, caso necessário, aprofundarem na avaliação.&nbsp;

A ideia, que nasceu inicialmente para identificar pessoas com retinopatia diabética, uma das complicações do diabetes que causa perda visual gradativa, dará à SES-GO um amplo panorama das condições de saúde da população, não somente de Guapó, mas de&nbsp;todo o Estado. “Estou muito animado com o projeto”, afirma Marcos Ávila, que para a empreitada criou o Grupo de Trabalho da Retinopatia Diabética, com a participação de cinco médicos, representantes da SES-GO e de Thiago Rangel.

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Antônio Francisco de Oliveira, 61 anos, aposentado, passa por exame de retinografia colorida no Centro de Referência em Oftalmologia (Cerof) (Diomício Gomes / O Popular)

Ajuda ao SUS e estudos científicos de alto impacto&nbsp;

Thiago Rangel relata que ficou “empolgadíssimo” quando conheceu os dados disponíveis na SES-GO. “Goiás tem o melhor e mais organizado banco de dados do SUS do País. É coisa de primeiro mundo, com um valor social, científico e econômico que não existe em outro Estado. É uma cultura de gestão de dados e de ciência da informação inacreditável, que vem atravessando governos. Do ponto de vista do que posso oferecer, é muito bom.” Em agosto deste ano, Goiás foi premiado como o Estado mais digital do Brasil, pela Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Tecnologia da Informação e Comunicação (Abep-TIC).

“Meu interesse é duplo. Ajudar o SUS a construir medidas de saúde pública me dá muita honra, mas estamos pensando também em publicações científicas de alto impacto. Não existem estudos na América do Sul com a qualidade que pretendemos.” Rangel ressalta que epidemiologistas usam dados coletados nos Estados Unidos e na Europa, que possuem realidades diferentes, tanto em termos de longevidade, quanto de alimentação e hábitos de vida. “Para mim, como cientista, é uma grande oportunidade de coletar dados primários.”

Marcos&nbsp; Ávila concorda. “A SES-GO tem um banco de dados espetacular. Dentro desse universo, estamos fazendo protocolos para identificar quem tem diabetes, o tempo de doença e, concomitantemente, se tem hipertensão arterial, obesidade, se é fumante, se a hemoglobina ‘glicada’ está acima de 9. Vamos cruzar os dados e teremos noção de quem tem possibilidade de ter diabetes e também retinopatia. Tudo será feito de uma maneira muito mais precoce. Quando o modelo de Goiás estiver pronto, poderá ser replicado no Brasil.”

<h2>Exames oftalmológicos na atenção primária&nbsp;</h2>

Marcos Ávila enxerga no projeto uma grande possibilidade de mudança nas políticas públicas para conter o avanço do diabetes. Defensor do SUS, ele reforça que é fundamental incluir exames oftalmológicos na atenção primária, algo como o que vem sendo feito pelo Serviço Nacional de Saúde (NHS) da Inglaterra. Lá, exames de tomografia de coerência óptica (OCT), de maior precisão, estão sendo oferecidos mais perto de casa a milhares de pessoas com diabetes. O objetivo é reduzir em até 120 mil consultas hospitalares por ano e prevenir a perda de visão. O rastreio ocular digital&nbsp; é feito em hospitais comunitários ou consultórios móveis em todo o país.

Com a iniciativa, o NHS espera aumentar a produtividade, fornecer&nbsp;melhor atendimento ao paciente e gerar o máximo valor para o contribuinte. Os números mostram que a medida ajuda o serviço britânico a economizar 2 bilhões de libras, o correspondente a cerca de R$ 14,6 bilhões, nos primeiros cinco meses do atual ano fiscal, recursos que serão reinvestidos nos pacientes. Cerca de 4 milhões de pessoas estão registradas no programa de triagem ocular para diabéticos do NHS e 3,3 milhões deles fazem exames digitais de rotina a cada um ou dois anos. O programa aguarda a participação de 60 mil pessoas&nbsp;com maior risco de retinopatia diabética.

“Este é um ótimo exemplo de como uma pequena mudança pode fazer uma grande diferença, dando aos pacientes com diabetes mais segurança e liberando milhares de consultas hospitalares”, comentou o ministro para Cuidados, Stephen Kinnock. Ao transferir o atendimento para as comunidades, o NHS pretende aliviar a pressão sobre os serviços médicos especializados.&nbsp;

No Cerof, que é referência na assistência em oftalmologia no Brasil e no exterior, desde 2019 são oferecidos medicamentos para tratamento da retinopatia diabética. “Somos uma ilha na oftalmologia no SUS”, afirma Marcos Ávila. Pelos números atualmente disponibilizados, ele estima que 2,1 milhões de pessoas no Brasil precisam ser tratadas de retinopatia diabética e que 1,6 milhões delas estão no SUS. “Estamos tratando somente 270 mil.”

Pesquisa vai mapear diabetes em Goiás

Saúde

O cirurgião dentista, advogado, administrador e médico goianiense Roger William Fernandes Moreira passou 45 anos dentro de uma sala de aula, estudando. Surpreendentemente, em áreas distintas. E hoje, aos 53 anos, continua mergulhado no vasto mundo do conhecimento tentando decifrar enigmas através da ciência. Atualmente ele ocupa a cadeira de professor e pesquisador da Faculdade de Odontologia da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, e conquistou, ao lado de dois colegas chineses, uma bolsa de US$ 2,3 milhões, do National Institutes of Health (NIH) para estudar as causas da desordem temporomandibular (DTM ou ATM). É a maior verba já concedida em todo o mundo para um estudo na área.

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A DTM é uma condição que afeta a articulação da mandíbula e reduz a qualidade de vida de 30% da população mundial em razão das dores intensas, ruídos articulares, dificuldade na mastigação e no abrir e fechar da boca. Nesta entrevista ao POPULAR, enquanto 22 pacientes o aguardavam para consultas, Roger Moreira detalha o estudo, que já começou e deve ser concluído em cinco anos, e de que maneira os resultados poderão ajudar os milhares de pacientes que sofrem com a dor orofacial crônica.

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Qual é o foco da pesquisa que irá consumir essa verba milionária?

Cheguei à Universidade da Carolina do Norte em janeiro de 2022, depois de passar num concurso. Eles precisavam de um cirurgião da articulação temporomandibular, uma articulação do ouvido que conecta a mandíbula ao osso temporal do crânio. Muita gente tem problema com essa articulação, uma doença conhecida como DTM ou ATM, que envolve tratamento clínico conservador ou, em casos extremos, cirurgia. Como integro a equipe clínica e a de pesquisa, fui convidado pela colega Pei Feng Lim, doutora especialista em DTM, para pesquisar a molécula LPA/LPAR, já identificada em ratos e coelhos e que está envolvida em inflamações articulares. Também participa o professor e pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade Duke, o biólogo Young Chen. Queremos descobrir se essa molécula está presente nos casos de DTM. Se a encontrarmos, é um caminho positivo para um medicamento que ajude esses pacientes.

Como pretendem desenvolver o estudo?

Vamos operar cem pacientes com degeneração articular. O tecido retirado será enviado para análise para ver se a molécula está presente. Hoje não existe um medicamento específico para DTM. São utilizados anti-inflamatórios e analgésicos de ordem geral. Quando um paciente de DTM desenvolve uma osteoartrite, ele fica sem qualidade de vida. Não pode mastigar, quando abre a boca ouve barulhos e sente dores na mandíbula. Alguns necessitam de reconstrução da articulação, uma substituição metálica como a que se faz no joelho e no quadril. A verba foi liberada há um mês e já operamos seis pacientes.

O que pesou para que vocês obtivessem essa bolsa tão valiosa?

Acredito que foi o fato de que, pela primeira vez, um clínico, um cirurgião e a ciência básica se uniram para fazer um estudo colaborativo. Muitas vezes, a ciência básica não é transportada para a parte clínica. Há uma grande lacuna aí. A Universidade Duke, fundada em 1838, onde é feita a pesquisa básica, é considerada uma das melhores do mundo. O grupo clínico, do qual participo como cirurgião, é da Universidade da Carolina do Norte.

O NIH é um fenômeno. É uma agência governamental com um orçamento de quase US$ 70 bilhões para pesquisa na área da saúde. Em média, eles liberam US$ 30 milhões por ano para a área de DTM e a nossa proposta recebeu quase 10% dessa verba.

Qual é o percentual da população acometido por DTM/ATM?

Em torno de 30% da população mundial possui algum sintoma de DTM. E as mulheres são acometidas três vezes mais do que os homens, provavelmente em função dos hormônios. A população clássica que apresenta DTM são mulheres, entre 20 e 55 anos. A grande maioria resolve o problema com tratamento clínico: medicação analgésica e anti-inflamatória, placa de mordida, laser, botox para relaxar a musculatura da mandíbula ou injeção em pontos de dor. Há vários tratamentos que apresentam resultados, mas tem uma parcela pequena que não consegue ficar livre da dor. A cirurgia é reservada para 5% dos pacientes com a variante mais grave. Aqui na universidade operamos de 100 a 130 pacientes por ano.

Quais são os fatores de risco?

São vários. Alguns pacientes tiveram trauma articular, mas a DTM pode acometer quem tem artrite sistêmica, hábito de mascar chicletes, estresse elevado e quem range muito os dentes. Também já foi identificado um fator genético. Nunca é uma causa isolada e, até que ela seja identificada, o tratamento é difícil. Algumas pessoas me procuram chorando. É como se fosse uma enxaqueca mal controlada, não se sabe nunca quando virá a dor. Há pacientes que não suportam mais tomar remédios, porque a saúde estomacal está afetada; há ainda aqueles que não conseguem mastigar direito e fazem uso de dieta líquida e pastosa.

Nos EUA o senhor, como pesquisador, tem acesso a uma verba milionária. Como analisa a situação da ciência no Brasil?

O que estamos fazendo aqui pode impactar pacientes do mundo inteiro. O conhecimento é expandido, nunca fica restrito a um país. Os três pesquisadores são estrangeiros: dois chineses e um brasileiro. Os EUA não querem saber sua origem, mas se pode colaborar com alguma coisa, o país nos fomenta. Tenho orgulho de ter me graduado na UFG. Fui pesquisador no Brasil, sou ligado a vários pesquisadores e temos de valorizar muito quem faz ciência no Brasil. A despeito da falta de investimento em todos os governos, o Brasil possui grandes pesquisadores que sobressaem nessa nuvem cinzenta. Eles fazem trabalhos dignos, fazem ciência porque gostam. São heróis.

<h2>Com currículo incomum, cientista tem quatro graduações</h2>

Roger Moreira possui um currículo que foge do comum. “Segui um caminho diferente”, ele resume, para explicar a opção por quatro graduações distintas. Aos 17 anos, quando passou no vestibular para Odontologia na UFG, também foi aprovado para Direito na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). “Eu queria o curso (Odontologia); meu pai, que era advogado, queria que eu fizesse Direito. Fiz os dois simultaneamente. Tive aula das 7 às 22h40 durante cinco anos. Fui o primeiro aluno da minha turma de Odontologia e me formei em Direito. Pago a OAB há 31 anos e tenho muito orgulho de ser advogado.”

Ele conta que, embora gostasse muito do direito, dentro da odontologia a cirurgia bucomaxilofacial o arrebatou. Na Unicamp fez residência, mestrado e doutorado na área. Em 2017, publicou o livro Tratado de Cirurgia Bucomaxilofacial. Em 2001 foi para Pittsburgh, na Pennsylvania (EUA) onde fez o pós-doutorado.

Dois anos depois, de volta ao Brasil, decidiu cursar Administração na Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Antes mesmo de terminar o curso, partiu para a graduação em Medicina na Universidade da Cidade de São Paulo (Unicid), com residência em cirurgia geral.

“Eu queria fazer cirurgia plástica para melhorar minhas habilidades de cabeça e pescoço e o melhor curso na época era do Pitanguy. Fui para o Rio e integrei a última turma dele.”&nbsp;O mais reverenciado cirurgião plástico brasileiro, Ivo Pitanguy morreu em agosto de 2016. Ainda no meio do curso, Roger Moreira foi para Baltimore (EUA) para um aprimoramento na Universidade Johns Hopkins.

O retorno a Goiânia ocorreu em 2019, mas em janeiro de 2022 voltou para os EUA, como professor e pesquisador da Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill. “Estou muito feliz aqui, mas não perco minhas raízes. No meu almoço diário nunca falta rapadura, ou melhor, moça branca, que sempre recebo.”

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"30% das pessoas têm sintoma de DTM", diz pesquisador goiano que ganhou bolsa milionária

Entrevista

Conteúdo investigado:&nbsp;Postagem&nbsp;com link de texto publicado no site do grupo Médicos Pela Vida afirma que miocardite e pericardite são causadas apenas pelas vacinas e não pela covid-19. O conteúdo aponta que a informação é resultado de cinco estudos científicos, todos em inglês. O MPV acrescenta que o “Brasil precisa interromper imediatamente a obrigatoriedade das vacinas covid-19 em crianças de 6 meses a 5 anos”, pois essa medida seria contrária às “melhores evidências científicas disponíveis”.

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Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Publicação do Médicos pela Vida engana ao afirmar que cinco estudos –&nbsp;um deles já verificado em outubro e classificado pelo Comprova como enganoso&nbsp;– concluíram que miocardite e pericardite, condições caracterizadas pela inflamação do músculo cardíaco e inflamação do revestimento externo do coração, respectivamente, são causadas apenas pelas vacinas e não pela covid-19.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/comprova/ceo-da-pfizer-n-o-enfrenta-pris-o-perpetua-nem-encara-tribunal-holandes-ao-contrario-do-que-diz-post-1.3198507" target="_blank">CEO da Pfizer não enfrenta prisão perpétua nem encara tribunal holandês, ao contrário do que diz post</a> 
<a href="https://opopular.com.br/comprova/projeto-de-lula-n-o-fara-com-que-o-exercito-saia-da-amazonia-ao-contrario-do-que-diz-post-1.3197115" target="_blank">Projeto de Lula não fará com que o Exército saia da Amazônia, ao contrário do que diz post</a> 
<a href="https://opopular.com.br/comprova/e-falso-que-o-peru-declarou-guerra-ao-brasil-1.3196163" target="_blank">É falso que o Peru declarou guerra ao Brasil</a></div>

Especialistas ouvidos pelo Comprova apontam que os ensaios citados pelo grupo para corroborar a afirmação são, na verdade, de revisão (permitem somente a atualização de informações e um resumo sobre as principais pesquisas em torno de um determinado tema) ou observacionais (descritivos e analíticos) e não possibilitam identificar as relações de causalidade entre dois fatores.

Para estabelecer o chamado nexo causal (causa de um evento decorrente de dois fatores) são necessários ensaios experimentais ou de intervenção (entenda melhor abaixo, na análise sobre os ensaios). Não é o caso dos estudos citados pelo MPV, grupo criado na pandemia e que defende “tratamento precoce” e medicamentos como a hidroxicloroquina contra a covid-19. O&nbsp;MPV já foi condenado pela Justiça do Rio Grande do Sul a pagar R$ 55 milhões&nbsp;por estimular tal tratamento.

Lilian Martins, infectologista pediátrica e professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), afirma não ser inesperada a ocorrência de efeitos adversos em razão da vacinação, incluindo o desenvolvimento de miocardite ou pericardite, mas ressalta que um melhor entendimento da relação causal entre os dois eventos ainda é necessário.

Segundo a especialista, devido à administração global de mais de 13 bilhões de doses, reações adversas são esperadas, mas há uma baixa frequência de desenvolvimento de miocardite ou pericardite em vacinados.

“E, mesmo que futuramente se comprove a relação da vacina com miocardites graves e óbitos, deve-se ressaltar que o número de casos relatados através dos artigos de revisão são muito poucos diante da quantidade de doses aplicadas em todo o mundo”, afirma. “Em resumo, as vacinas atuais contra a covid- 19 demonstraram claramente sua eficácia e, sem dúvida, provaram que os benefícios superam os riscos por uma grande margem”, destaca.

“O MPV também fala sobre os efeitos adversos em crianças de seis meses a cinco anos para pedir a interrupção do processo de imunização nesse público, mas, nesta faixa etária, efeitos como miocardite e pericardite não são observados”, complementa a professora.

André Prudente, infectologista e diretor do Hospital Giselda Trigueira, unidade referência em doenças infectocontagiosas em Natal (RN), diz que a literatura aponta que vacinados e não vacinados podem desenvolver as duas condições, mas reforça que a eficácia da imunização supera, em muito, possíveis efeitos adversos.

“Afirmar que só o imunizante provoca miocardite e pericardite significa dizer que essas doenças não existiam antes da vacina de covid-19. Estamos falando, porém, de duas situações que podem ocorrer após qualquer doença viral, como influenza, dengue, chikungunya, zika e a própria covid, óbvio. A miocardite também pode ser gerada, em menor grau, a partir de efeitos colaterais de qualquer vacina, mas não exclusivamente em decorrência delas”, sublinha.

“Agora, sem sombra de dúvida, é muito melhor estar vacinado e evitar todas as outras complicações da infecção pelo coronavírus. A vacina é segura, eventualmente pode provocar efeitos, mas em escala bem menos frequente do que a doença”, diz o médico.

Carlos Carvalho, professor titular de Pneumologia da Faculdade de Medicina da USP, aponta que a incidência de efeitos como a miocardite em pessoas vacinadas contra a covid-19 é de uma em cada 10 mil. “O nexo causal de que a vacina corresponde a uma proporção grande de miocardite é completamente falso. Um&nbsp;estudo&nbsp;robusto deste ano acompanhou pessoas com miocardite provocada por outras causas que não a covid-19, bem como pacientes que tiveram a infecção provocada pelo Sars-CoV-2 que evoluíram para miocardite e indivíduos vacinados que também evoluíram para a inflamação do músculo cardíaco”, descreve.

“O resultado observado é que não existe nenhuma relação entre tomar vacina e desenvolver miocardite. É um&nbsp;ensaio&nbsp;publicado no Journal of the American Medical Association (Jama) e que põe uma pá de cal nessa história de que a vacina de RNA mensageiro tem um fator causal maior [que provoca miocardite ou pericardite]”, comenta Carvalho.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

<h2>Análise</h2>

A pedido do Comprova, os especialistas ouvidos nesta reportagem analisam, a seguir, quatro dos cinco estudos citados pelo MPV para afirmar, de forma enganosa, que apenas as vacinas provocam miocardite e pericardite. O estudo que não aparece aqui, conforme mencionado no início deste texto, já foi destrinchado pelo Comprova no mês passado. Confira:

<h3>Estudo 1</h3>

O primeiro estudo utilizado pelo grupo para afirmar que pericardite e miocardite não são causadas pela infecção provocada pelo coronavírus é intitulado&nbsp;“Incidência de miocardite e pericardite em doentes não vacinados após a covid-19 – um grande estudo de base populacional”. Ele é de 2022 e tem origem em Israel. Foi realizado com 196.992 adultos infectados pela doença entre março de 2020 e janeiro de 2021.

Como o título indica, a população analisada não havia passado pelo processo de imunização. O Médicos Pela Vida destacou que não foi observado “aumento na incidência de pericardite ou miocardite em pacientes adultos se recuperando da infecção por covid-19”, mas não mencionou o fato de os indivíduos não terem sido imunizados.

O professor Carlos Carvalho, da Faculdade de Medicina da USP, aponta que o material mostra apenas uma associação, mas não possui nexo causal. “É um estudo retrospectivo, que não foi delineado nem feito com o objetivo de avaliar a frequência das alterações cardíacas. Neste tipo, são analisados dados já produzidos no passado para gerar uma hipótese a partir da associação entre dois fatores. Mas essa hipótese tem que ser confirmada com um estudo prospectivo, onde o pesquisador acompanha um determinado grupo durante meses ou anos para ver o que que acontece”, explica o professor.

Para esclarecer melhor, o especialista toma como exemplo o próprio estudo citado pelo Médicos Pela Vida. Segundo ele, para estabelecer um nexo causal entre o uso da vacina e o desenvolvimento de pericardite e miocardite seria necessário acompanhar, prospectivamente, populações com covid e que não tomaram a vacina; populações com covid e vacinadas; e populações com miocardite, mas sem covid-19.

“Então, se tivesse muito mais miocardite em quem tomou a vacina do que nas outras situações, seria possível afirmar um nexo causal com o desenvolvimento da inflamação do músculo cardíaco. Mas, no estudo avaliado, a miocardite aparece em outras situações, podendo ter sido provocada por diferentes causas”, conclui Carvalho.

<h3>Estudo 2</h3>

O segundo estudo utilizado pelo grupo, intitulado&nbsp;“Patologia cardíaca associada à avaliação post-mortem: uma revisão sistemática colaborativa”&nbsp;também é de 2022, mas com origem na Arábia Saudita. Foram estudadas as autópsias de 548 corações de pessoas que morreram com ou de covid-19. A idade média dos falecidos era de 69 anos. O Médicos Pela Vida destacou que o estudo constata “a prevalência média relatada de miocardite extensa, focal ativa e multifocal de 0,0%”.

O infectologista André Prudente cita que o estudo pega dados “bastante limitados” de outros ensaios, única e exclusivamente de pessoas que já morreram, apenas para revisão. Assim como o estudo 1, Prudente afirma tratar-se de um “ensaio que não demonstra causalidade”, uma vez que só é possível falar em causa e efeito em estudos de intervenção.

“Estudos de intervenção são o que a gente chama de duplos-cegos randomizados, aplicados em um grupo de pessoas exposto a um mesmo risco. Por exemplo: divide-se um grupo de mil pessoas pela metade. Em uma parte aplica-se a vacina, na outra, apenas o placebo [composição neutra, sem o princípio ativo que produz efeitos em uma determinada terapia]. Nem a pessoa que está recebendo nem quem está aplicando sabe o que é injetado. Isso é conhecido apenas na randomização, feita em um programa de computador. Depois de avaliar os efeitos da intervenção ao longo do tempo é que o estudo é aberto aos dois grupos para que seja feita uma comparação. Somente a partir daí, é possível falar em causa e efeito”, detalha.

Segundo o infectologista, o ensaio mencionado pelo Médicos pela Vida é apenas observacional, com dados retroativos. “Para estudos sem intervenção, como é o caso aqui, fala-se apenas em possível relação. Portanto, as afirmações da postagem não se sustentam”, afirma André Prudente.

<h3>Estudo 3</h3>

O grupo citou também o estudo&nbsp;“Achados da autópsia em casos de miocardite fatal induzida pela vacina contra a covid-19”&nbsp;para embasar as declarações. O artigo é de janeiro deste ano, com origem nos Estados Unidos, e se baseia em autópsias de 28 pessoas que morreram após a vacinação. A idade média dos indivíduos foi de 44 anos. O número médio e mediano de dias desde a última vacinação contra a covid-19 até a morte foi de 6,2 e 3 dias, respectivamente. O Médicos pela Vida frisa que os autores estabeleceram “que todas as 28 mortes (100%) foram provavelmente causalmente ligadas à vacinação contra a covid por revisão independente das informações clínicas apresentadas em cada artigo”.

A infectologista pediátrica e professora Lilian Martins ressalta que se trata de um estudo de revisão e que a mera observação da miocardite e do óbito após a imunização não estabelece de forma conclusiva que a vacina seja a causa do evento. “Observa-se uma associação temporal entre o recebimento da vacina e o desenvolvimento da miocardite/óbito. No entanto, deve-se considerar a possibilidade de demais elementos (medicamentos, drogas, fatores de risco e outras doenças) que possam ter contribuído para o desenvolvimento da miocardite ou para a morte do paciente, não permitindo a conclusão aqui quanto à causa definidora, como os autores sugerem”, diz.

Martins destaca que o próprio estudo não mostra a exclusão de outras possíveis causas da doença, as quais devem ser consideradas. “Estabelecer uma ligação causal direta entre um evento adverso específico e uma vacina com base apenas em relatos de casos individuais é geralmente arriscado e repleto de desafios. Além disso, indivíduos que pareciam saudáveis no momento da vacinação podem ter problemas de saúde não detectados”, pondera.

Ela afirma que estabelecer ou rejeitar a causa definitiva de um evento específico não é tarefa fácil, daí porque a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a realização de avaliações de causalidade em escala populacional, ao contrário do estudo aqui apresentado. “O artigo em questão sugere a relação da vacina com os casos fatais de miocardite em indivíduos de diferentes idades, sendo a maioria deles acima de 30 anos, após diferentes doses da vacina e com intervalos diversos após a aplicação, alguns deles depois de 14 dias. A literatura hoje mostra que o maior risco de miocardite ocorre em jovens menores de 30 anos, após a segunda dose e nos primeiros 14 dias posteriores à imunização”, conclui.

<h2>Estudo complementar</h2>

O grupo citou, por fim, um estudo complementar intitulado&nbsp;“Manifestações cardíacas e resultados da miocardite associada à vacina contra a covid-19 em jovens nos EUA: resultados longitudinais do estudo multicêntrico Myocarditis After covid Vaccination (MACiV)”. Com origem nos Estados Unidos, o ensaio foi realizado em 38 hospitais do país, onde 333 pacientes com miocardite associada à vacina de covid-19 foram comparados com 100 pacientes com síndrome inflamatória multissistêmica em crianças. Foram incluídos pacientes com menos de 30 anos de idade com diagnóstico clínico de miocardite aguda após vacinação contra covid-19.

O site do grupo destaca a constatação do estudo: “A lesão cardíaca pela vacina é persistente. Depois de 178 dias de acompanhamento, em média, a cicatrização cardíaca ainda estava presente em 60% dos pacientes no acompanhamento”.

Segundo André Prudente, o estudo, assim como os demais, é observacional e retrospectivo, sem que seja estabelecida uma relação de causa. “Foram questionadas somente pessoas que tiveram miocardite e observou-se que havia bem mais gente com a condição e que foi vacinada do que o contrário. Mas isso também não comprova absolutamente nada, porque no período do estudo [entre abril de 2021 e novembro de 2022], a maioria das pessoas já estava imunizada. Também não se sabe em que época as pessoas avaliadas tiveram miocardite – se a condição ocorreu nove meses depois da vacina, não há relação alguma entre uma coisa e outra”, detalha.

<h3>Casos são raros</h3>

Em julho de 2021, a&nbsp;Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)&nbsp;emitiu um alerta à sociedade sobre o risco de miocardite e pericardite associadas à vacinação contra a covid-19 com imunizantes baseados em RNA mensageiro (RNAm). O alerta ocorreu após a agência tomar conhecimento de casos dessas condições registrados pela agência reguladora dos Estados Unidos (FDA).

A própria Anvisa esclareceu, contudo, que o risco de ocorrência desses eventos adversos é baixo, embora tenha recomendado aos profissionais de saúde que fiquem atentos e perguntem às pessoas que apresentarem sintomas se elas foram vacinadas, especialmente com a vacina da Pfizer.

Conforme verificação do Comprova de outubro passado, casos de miocardite e pericardite como efeito adverso pós-vacinação com imunizantes de mRNA são conhecidos e raros. A informação consta na bula da vacina Pfizer-BioNTech (BNT162b2), também chamada Comirnaty. Segundo a bula, casos muito raros de miocardite e pericardite foram relatados após a vacinação. A proporção em pessoas acima de 5 anos de idade é de menos de 1 caso a cada 10 mil doses aplicadas.

O Comprova procurou o Médicos pela Vida, mas a conta do grupo no X está configurada para não receber mensagens. Eles também não responderam aos contatos feitos por e-mail.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 11 de novembro, a publicação do Médicos pela Vida no X acumulava 238 mil visualizações.

Fontes que consultamos: Os infectologistas André Prudente e Lilian Martins, o pneumologista Carlos Carvalho e estudos mencionados pelo MPV.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo&nbsp;WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: As vacinas contra a covid-19 são utilizadas frequentemente como peças de desinformação para falar de efeitos adversos em crianças. O Comprova já mostrou que&nbsp;não é verdade que ela fez explodir doenças cardíacas em crianças&nbsp;e que&nbsp;é falsa a alegação de que a OMS teria admitido que bebês de mães imunizadas estariam nascendo com problemas no coração. Também mostrou que&nbsp;a proteção oferecida pelos imunizantes supera o risco de miocardite em crianças.

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