Somente no primeiro semestre deste ano a Secretaria Municipal de Engenharia de Trânsito (SET) já aplicou 3,6 mil infrações a condutores por estacionamento irregular sobre ciclovia e ciclofaixa – infração tida como grave e que resulta em multa de R$ 195 e cinco pontos na carteira nacional de habilitação (CNH). Contudo, ainda assim, motoristas insistem em descumprir as leis de trânsito. No domingo, quando a faixa é restrita para circulação de bicicletas, carros parados seguem ocupando os trechos. Foi o que O POPULAR flagrou neste último fim de semana nos arredores dos parques Areião e Vaca Brava, situados nos setores Pedro Ludovico e Bueno, respectivamente.

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As ciclofaixas nos arredores dos parques Areião e Vaca Brava foram instaladas em 2015, com horário de funcionamento exclusivo para ciclistas aos domingos, das 7 às 16 horas. Nesse período, fica proibido o estacionamento na faixa delimitada para bicicletas. Contudo, no fim do ano seguinte, a Prefeitura resolveu estender o horário de funcionamento para até as 18 horas, medida que também passou a funcionar aos feriados. Desde então, a restrição se mantém para os dias e horários, e em vários parques da capital.

Mas mesmo após dez anos da medida implantada, os carros seguem ocupando o espaço dos ciclistas. Somente no ano passado, foram aplicadas 4.747 infrações do tipo para veículos parados nas ciclofaixas e ciclovias da capital, o que representa média de 395 autuações por mês. Neste ano, com 3.591 nos seis primeiros meses do ano, a média mensal chega a 598 autuações, o equivalente a 17 por dia. Conforme a pasta, a fiscalização é realizada continuamente nas regiões dos parques Vaca Brava e Areião.

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Nos locais onde há ciclofaixas e ciclovias, “os agentes verificam se há veículos estacionados em locais sinalizados (como ciclofaixas) e fazem a remoção dos veículos cujos condutores insistem nesse tipo de comportamento”, explica o diretor de trânsito da SET, Luís Tiago Santos. “A gente pede para que os motoristas tenham mais cuidado e respeitem as ciclofaixas, uma vez que é um modal importante pra a cidade, muitos utilizam esse sistema de transporte. A fiscalização vai continuar e o motorista que insistir pode ter o veículo removido até o pátio, sofrendo as penalidades, como multa e pontuação na CNH”, conclui.

Engenheiro de transportes e integrante do Mova-Se Fórum de Mobilidade, Matheus Duarte cita que há uma recorrência no desrespeito à sinalização de trânsito voltada a ciclofaixas e ciclovias. “A gente também tem percebido uma atuação da secretaria que, durante os domingos, está circulando nesses locais. Recentemente, a gente pôde observar alguns carros sendo guinchados do local. Nesses parques, a maneira mais correta (de atuar contra a prática) seria, sim, com as penalizações, multas e até retirada dos veículos. É uma maneira mais adequada, uma vez que a proibição de estacionamento é só no domingo, em um período curto.”

Duarte acrescenta ainda que há um “déficit de malha de infraestrutura para os ciclistas” para que haja segurança ao trânsito deles pela cidade. “A gente tem de trazer toda essa infraestrutura que impacta se a pessoa vai utilizar ou não a bicicleta como meio de transporte. Até porque a pessoa avalia uma série de fatores antes de escolher como se deslocar e, principalmente, se ela é capaz de deslocar meio aos carros, no trânsito comum do dia a dia, se é capaz de percorrer longas distâncias e as consequências disso, se corre risco de acidente, de ser atropelado. Com essa infraestrutura, dá para garantir que o ciclista vá ter um espaço adequado e livre para circulação”, diz.

A doutora em transportes e professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Goiás (UFG), Erika Cristine Kneib, também cita que “a sinalização adequada e fiscalização” são importantes para reduzir o desrespeito com ciclistas por parte de condutores de veículos motorizados. Ela acrescenta ainda que, de maneira geral, é necessário reduzir a velocidade máxima das vias para gerar mais segurança a pedestres e ciclistas. “Contudo, Goiânia tem trabalhado na contramão e feito intervenções apenas visando a fluidez dos veículos motorizados, o que aumenta o risco de sinistros para os ciclistas”, enfatiza.

Para ela, a capital tem um “grande potencial para ampliar o uso da bicicleta e melhorar a mobilidade de quem opta por se deslocar desse modo”, mas cita que ainda faltam políticas públicas para a ampliação do uso, como aumento da infraestrutura cicloviária. “É um dos fatores determinantes. Se há boa infraestrutura (ciclovias, ciclofaixas, vias cicláveis com segurança) isso atrai muitos ciclistas. Contudo, Goiânia tem um número e uma extensão muito pequena de vias com infraestrutura adequada para bicicleta, o que não gera uma oportunidade segura de pedalar nem atrai os ciclistas”, acrescenta.

3,6 mil veículos estacionados em ciclofaixas foram autuados na capital no 1º semestre

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Matéria - Cidades

Mobilidade urbana

O Ministério dos Transportes anunciou oficialmente aos governos de Goiás e do Distrito Federal (DF) que não vai participar diretamente do Consórcio lnterfederativo da Região Metropolitana do Entorno do Distrito Federal (Cirme), órgão que deve ser criado para administrar o <a href="https://opopular.com.br/politica/caiado-e-ibaneis-pedem-prazo-maior-para-aumento-na-passagem-do-transporte-no-entorno-do-distrito-federal-1.3302565" target="_self">sistema de transporte coletivo do Entorno do DF</a>. Desde fevereiro passado, o protocolo de intenções para a criação do consórcio foi passado ao órgão federal para que os três entes participassem igualmente da figura jurídica, mas faltava uma resposta para o andamento da implantação. A ideia é que o consórcio opere nos mesmos moldes do sistema metropolitano de Goiânia, com a governança dividida entre os entes e o pagamento de subsídios, cujos repasses sejam usados em investimentos e no congelamento da tarifa a ser paga pelo público.

Segundo os argumentos do ministério, a negativa se dá porque a participação extrapolaria as competências legais da pasta, sobretudo em relação ao aporte financeiro para subsidiar a tarifa regional ou local, ou mesmo realizar a governança direta. “Ademais, poderia ensejar demandas semelhantes de outros entes federativos, comprometendo a uniformidade, o equilíbrio e a sustentabilidade fiscal das ações governamentais”, descreveu a pasta. O órgão afirmou ainda que a participação deveria ser feita com uma discussão com outras pastas e múltiplas áreas, o que demandaria muito tempo, além de se tornar uma articulação com a Casa Civil da Presidência da República.

Com a ausência direta da União, o consórcio deverá ser criado com a participação dos governos de Goiás e do DF, a partir da assinatura do protocolo de intenções e a interveniência da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que é o órgão que atualmente atua como fiscalizador e também define o valor das tarifas das linhas entre as cidades goianas e o DF. Em fevereiro, a agência tinha definido um reajuste de 2,91% nas tarifas das linhas do entorno, mas, pela discussão do consórcio, o Ministério dos Transportes pediu a suspensão do reajuste por seis meses. Com o novo valor, a tarifa poderia chegar a R$ 12,05, como de uma das linhas de Luziânia a Brasília.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/politica/caiado-e-ibaneis-pedem-prazo-maior-para-aumento-na-passagem-do-transporte-no-entorno-do-distrito-federal-1.3302565" target="_self">Caiado e Ibaneis pedem prazo maior para aumento na passagem do transporte no Entorno do Distrito Federal</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/sem-pagar-parcela-de-subsidio-trindade-e-goianira-podem-perder-meia-tarifa-1.3257743" target="_self">Sem pagar parcela de subsídio, Trindade e Goianira podem perder meia tarifa</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/passagem-de-onibus-em-anapolis-aumentara-em-dezembro-1.3203159" target="_self">Passagem de ônibus em Anápolis aumentará em dezembro</a></div>

O período foi finalizado na última semana, e um novo pedido dos governos de Goiás e do DF foi feito para uma suspensão do reajuste por mais 90 dias, com o argumento de que ainda não havia uma decisão sobre o consórcio. O pedido não foi acatado totalmente, já que a ANTT definiu por uma suspensão do aumento, mas por mais 30 dias. Na mesma época, o Ministério dos Transportes respondeu às unidades federativas sobre o consórcio, liberando-as a prosseguir com os trâmites para a sua criação. Na última semana, o subsecretário de Políticas para Cidades e Transportes da Secretaria-Geral de Governo (SGG), Miguel Ângelo Pricinote, explicou ao POPULAR que a ausência da União não interfere nos investimentos do governo federal na infraestrutura do sistema, como na criação de dois corredores de trânsito rápido.

O maior problema seria mesmo na governança, já que uma disputa ou discordância entre os Goiás e Distrito Federal em uma determinada situação não teria um terceiro ente para a definição. O ato também não inibe uma participação futura do governo federal. A intenção do consórcio, conforme publicado em fevereiro, é congelar a tarifa pública, aquela paga pelos usuários, em uma média de R$ 5. Para tal, cada unidade federativa contribuiria inicialmente com R$ 67,9 milhões por ano. O mesmo valor seria investido pela União, mas apenas na infraestrutura do sistema.

Consórcio do Entorno para transporte coletivo terá apenas Goiás e Distrito Federal

Tarifa de ônibus

O Fórum Goianiense de Mudanças Climáticas (GynClima) será oficialmente aberto nesta quarta-feira (27), às 16 horas, em solenidade no Salão Nobre do Paço Municipal, no 6º andar da sede administrativa da Prefeitura de Goiânia.

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Coordenado pela Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma), o fórum visa promover a mitigação das mudanças climáticas. Nesse sentido, buscará desenvolver estratégias em parceria com setores da sociedade, de modo a preparar a cidade para enfrentar as consequências socioambientais e econômicas decorridas das mudanças climáticas em curso.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/cidades/goias-entra-em-estado-critico-de-seca-e-risco-extremo-de-incendios-diz-cimehgo-1.3297742" target="_self">Goiás entra em estado crítico de seca e risco extremo de incêndios, diz Cimehgo</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/mp-go-debate-relac-o-entre-clima-e-patrimonio-historico-em-seminario-1.3301571" target="_self">MP-GO debate relação entre clima e patrimônio histórico em seminário</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/goianos-se-preparam-para-participar-da-cop-30-1.3274661" target="_self">Goianos se preparam para participar da COP 30</a></div>

Os integrantes do GynClima trabalharão por meio da criação de câmaras técnicas. As câmaras permanentes estão divididas em Mitigação; Adaptação; Políticas Públicas; e Monitoria e Controle. “A crise climática é uma realidade que já impacta nossas cidades, nossa economia, nossa saúde e a vida das futuras gerações. Nesse sentido, o fórum representa não apenas um encontro de ideias, mas um compromisso da nossa cidade com a mitigação dos impactos ambientais e a busca por soluções sustentáveis”, diz a presidente da Amma, Zilma Peixoto.

Fórum para discutir mudanças climáticas em Goiânia será instalado nesta 4ª

Meio ambiente

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Mandados de busca e apreensão foram cumpridos nas casas e empresas dos envolvidos (Divulgação / Polícia Civil)

Um grupo foi preso nesta terça-feira (26) suspeito de sonegar R$ 17 milhões em impostos, em Goiânia. De acordo com a Polícia Civil (PC), os suspeitos movimentaram R$ 250 milhões em cinco anos e abriram nove empresas de fachada no ramo de materiais de construção.&nbsp;

Foram cumpridos seis mandados de busca e apreensão, além de prisão contra o dono de atacadista de materiais de construção, um técnico de contabilidade, ambos da capital, e um vaqueiro considerado o “laranja” do esquema criminoso, em Uruana, no centro goiano. Por não terem os nomes divulgados, O POPULAR não conseguiu encontrar a defesa deles, nem da empresa, para que pudessem se posicionar.&nbsp;

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Segundo o delegado Bruno Costa e Silva, da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra a Ordem Tributária (DOT), havia uma empresa considerada como a verdadeira ou original, cadastrada como Empresa de Pequeno Porte no Simples Nacional, mas em nome de um laranja. Outras nove foram descobertas consideradas “noteiras” cuja propriedade era de outro laranja, o vaqueiro, que teria uma relação pessoal com o técnico de contabilidade, conforme a investigação.

O delegado explicou que a empresa original fazia as vendas normalmente, mas emitia as notas fiscais em nome das companhias de fachada, na intenção de omitir os reais emitentes e destinatários, e assim, não pagar os impostos devidos. Dessa forma, a empresa original se manteve ativa e na classificação de pequeno porte, pagando menos impostos. Além disso, as empresas de fachada acumulavam notas cujos impostos não eram quitados, e assim, quando eram punidas e bloqueadas pelo Fisco, o grupo abria mais uma para continuar o esquema.&nbsp;

<cite>Ele [dono da empresa verdadeira] comercialmente vendia, mas quando saía a nota, era das [empresas] noteiras. Então o imposto que o cliente pagava era apropriado pela associação, o imposto estava na nota destacada, só que o imposto não era recolhido, ficava em débito. Mas a empresa dele [verdadeira] não tinha débito, e deixava a dívida toda para as empresas em nome dos laranjas. Então dificultava o Fisco cobrar. Deixava o Fisco autuar e depois já passava para uma outra ‘noteira’ que já estava lá. E assim, eles vão construindo a empresa.”, afirmou o delegado.&nbsp;</cite>

Conforme o auditor fiscal da Receita Estadual, Wagner Machado, a fraude foi descoberta após o Fisco perceber o valor milionário da dívida de uma das empresas, que ocorreram entre os anos de 2018 e 2023. Ao iniciar a investigação no ano seguinte, foi apontado que a empresa devedora atuava no mesmo prédio da companhia original, que não apresentava débitos, e, apesar do alto faturamento, se mantinha como Empresa de Pequeno Porte, de acordo com a apuração.

<cite>Os levantamentos que a gente fez in loco na empresa, ela tinha um banco de dados unificado. Em todas as empresas havia um sistema apenas, no qual constatamos a existência de faturamento nos últimos 5 anos, em torno de R$ 250 milhões. [...] Elas formavam uma confusão patrimonial, de pessoal, de RH, de faturamento”, disse Machado.&nbsp;</cite>

Segundo o auditor fiscal, os R$ 17 milhões são referentes à dívida do grupo. Contudo, estima que os impostos sonegados ultrapassem os R$ 35 milhões, pois a receita que eles faturaram durante os cinco anos ainda não foi auditada.&nbsp;&nbsp;

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/cidades/contadora-e-alvo-de-operac-o-suspeita-de-sonegar-impostos-de-empresas-de-gr-os-em-goias-1.3302329" target="_blank">Contadora é alvo de operação suspeita de sonegar impostos de empresas de grãos em Goiás</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/operac-o-mira-mais-de-70-empresas-do-agronegocio-suspeitas-de-sonegar-r-500-milh-es-em-impostos-1.3204518" target="_blank">Operação mira mais de 70 empresas do agronegócio suspeitas de sonegar R$ 500 milhões em impostos</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/restaurantes-de-alto-padr-o-de-goiania-s-o-alvos-de-operac-o-que-apura-fraudes-e-sonegac-o-fiscal-1.3235015" target="_blank">Restaurantes de alto padrão de Goiânia são alvos de operação que apura fraudes e sonegação fiscal</a></div>

<h2>Apreensões e crimes&nbsp;</h2>

Foram apreendidos carros de luxo, frota de caminhões, lanchas, além do bloqueio de outros bens de alto padrão em nome dos envolvidos.&nbsp;

Os suspeitos teriam fraudado documentos, deixado prejuízo aos cofres públicos e provocado concorrência desleal no mercado com o golpe, segundo a polícia. Eles poderão responder por associação criminosa, falsidade ideológica, sonegação fiscal e ainda há indícios de lavagem de dinheiro, conforme o delegado.&nbsp;

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Carros de luxo, frota de caminhões e lanchas foram apreendidos na operação, além do bloqueio de outros bens de alto padrão no nome dos envolvidos (Divulgação / Polícia Civil)

<h2>Outras fraudes&nbsp;</h2>

A PC ainda acredita que o escritório de contabilidade, onde atuava o técnico, pode estar envolvida em mais fraudes semelhantes a essa, uma vez que o nome do vaqueiro também está em outras empresas no ramo de restaurantes, tecidos, entre outros.&nbsp;

<cite>A gente ainda vai aprofundar para identificar esses outros empresários também. A investigação começou com uma primeira ‘noteira’, que é do ramo de matérial de construção. No decorrer, com o avanço da investigação, identificou essas outras empresas que, com certeza, são clientes também do contador, que em vez de estar registrado o nome dos empresários, está no nome do laranja. Ele é um laranja pessoal do contador”, afirmou o delegado.</cite>

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Grupo preso suspeito de sonegar imposto movimentou R$ 250 milhões e abriu 9 empresas de fachada em Goiânia, diz PC

SONEGAÇÃO MILIONÁRIA

Antes periféricos em menus da alta gastronomia, ingredientes brasileiros e regionais assumiram, nos últimos anos, um protagonismo até então inédito. Cabrito, quiabo, maxixe, jiló, castanha de baru e até o pequi conquistaram espaço tanto em casas tradicionais estreladas quanto em projetos contemporâneos que têm foco justamente na valorização da culinária nacional. O movimento vai além da escolha do insumo: resgata memórias afetivas, valoriza produtores locais e reafirma a identidade de uma cozinha plural.

“O jiló, por exemplo, muita gente não gosta por causa da baba. Eu aprendi técnicas para servi-lo sequinho e crocante. A cozinha nordestina está presente em tudo que faço, e a valorização dos produtos brasileiros é natural pra mim. Cozinhar com amor é o tempero fundamental”, explica o chef João Batista Barbosa de Souza, o Batista, parceiro de longa data do chef de cozinha francês Claude Troisgros, considerado um dos grandes nomes da gastronomia brasileira.

Os dois estarão em Goiânia nesta quinta e sexta-feira (28 e 29), no Cucina Mia, para dois jantares harmonizados, onde servirão pratos como cabrito na cachaça com cuscuz de fubá e um ratatouille Brasileiro, feito com maxixe, quiabo e jiló. A receita do cabrito, aliás, é carregada de lembrança. “A primeira vez que provei esse prato eu tinha uns 8 anos, em Patos, no Sertão da Paraíba. Lembro de ter achado amargo. Mais tarde, já cozinheiro, resolvi criar minha versão. Na minha casa é prato de festa. Trago muito do que aprendi com minha avó Corina, que era uma cozinheira de mão cheia”, conta Batista.

Seja com peixes amazônicos manejados de forma sustentável ou com plantas alimentícias não convencionais, como ora-pro-nóbis e taioba, o movimento alcança diferentes regiões do País. Em Goiânia, o chef Junior Marinho, do restaurante Juá, se destaca justamente por essa aposta. “A agricultura familiar e os pequenos produtores têm papel fundamental. Trabalhar com eles não é apenas pegar um ingrediente: é conhecer sua origem, sua história, e contar isso ao cliente. Acho incrível e defendo que esse movimento cresça ainda mais, porque eles merecem esse valor”, afirma.

Junior Marinho observa também uma mudança de percepção. “Antes, ingredientes brasileiros estavam presentes em restaurantes simples, pouco valorizados. Hoje vemos os melhores chefs do País, como Alex Atala e Helena Rizzo, se tornando referência internacional justamente por trabalhar com insumos nossos. Isso mostra que não precisamos buscar apenas cozinhas italiana ou francesa. A alta gastronomia brasileira tem identidade própria e isso movimenta turismo, cultura e economia.”

Radicado em Goiânia há mais de 14 anos, o acreano Marinho também se assume apaixonado pela cozinha regional. “Sempre fui bom comedor de pequi, mas o Cerrado oferece muito mais: baru, guariroba, milho criolo, carne de lata. Tento usar tudo isso, às vezes em preparos simples, às vezes em criações mais técnicas, como um aioli de pequi ou um pãozinho de pequi com baru. É desafiador e prazeroso mesclar ingredientes do Norte, Nordeste e Centro-Oeste em um mesmo prato”, diz.

Tesouros invisíveis 

Para a chef Carô Borges, do Las Nenas Bistrô, levar ingredientes populares à alta gastronomia não significa tirar-lhes a essência, mas revelar novas camadas de significado. Reinterpretar um sabor que faz parte da memória afetiva de tantas pessoas é, segundo ela, um exercício de visibilidade e criatividade: o simples se apresenta de outra forma sem perder sua verdade. Nesse diálogo entre origem e reinvenção, a cozinha encontra sua beleza.

Carô destaca ainda o papel central dos pequenos produtores e da agricultura familiar nesse movimento. “Cada prato começa muito antes da cozinha: começa no campo, nas mãos de quem cultiva”, afirma. A diversidade e a autenticidade da gastronomia brasileira estão diretamente ligadas ao saber ancestral do plantio e da colheita. Valorizar esses produtores seria uma forma de garantir a permanência das raízes culturais e, ao mesmo tempo, assegurar um futuro sustentável e inclusivo para a gastronomia.

O Brasil, na avaliação da cozinheira, vive um momento especial dentro da tendência internacional de resgatar raízes locais. A pluralidade de biomas e sabores coloca o País em posição privilegiada. Se por um lado ainda há tesouros invisíveis, como frutos do Cerrado pouco explorados, por outro há um potencial imenso de sofisticação já presente em nossa biodiversidade. Carô vê nos ingredientes goianos como baru, cagaita e pequi uma força singular capaz de projetar a cozinha regional para além das fronteiras.

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Entrevista /&nbsp;Claude Troisgros

“Essa diversidade é uma riqueza incalculável”

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Claude Troisgros e Batista: chefs comandam cozinha harmonizada (Gshow/ Samuel Kobayashi)

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O chef Claude Troisgros desembarcou no Brasil em 1979, trazido por Gaston Lenôtre. Desde então, construiu uma trajetória marcada pela fusão da técnica francesa com os sabores tropicais e exóticos do País. Nesta quinta e sexta-feira (28 e 29), ele, conhecido pela presença em programas na TV, estará em Goiânia, no restaurante Cucina Mia, onde prepara dois jantares harmonizados ao lado do amigo e parceiro de longa data, o chef Batista. Em entrevista ao POPULAR, Claude falou sobre o espaço que os ingredientes brasileiros conquistaram na alta gastronomia.

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O senhor sempre defendeu a valorização de ingredientes brasileiros na alta gastronomia. Na sua visão, qual foi o maior desafio para que produtos considerados “simples” fossem reconhecidos em menus sofisticados?

O maior desafio foi romper preconceitos culturais e gastronômicos. Durante muito tempo, ingredientes como mandioca, jiló, quiabo, maxixe, jabuticaba, ervas nativas e frutas do Cerrado eram vistos apenas como parte da cozinha caseira e regional, e não como insumos “nobres” ou dignos da alta gastronomia. A partir dos anos 1980, começamos um trabalho de valorização desses produtos dentro de uma cozinha de técnica francesa, mostrando que o ingrediente do dia a dia pode ser protagonista de grandes experiências culinárias.

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Sua trajetória no Brasil mistura raízes francesas com sabores nacionais. Como esse olhar “de fora” ajudou a revelar a riqueza dos ingredientes locais?

Foi um processo natural. Quando cheguei ao Brasil, vim executar as receitas de um dos chefs mais importantes da Europa, Gaston Lenôtre. Mas descobri que muitos produtos dessas receitas não existiam aqui. Ao frequentar as feiras de rua, conheci ingredientes frescos, de estação, incríveis, e passei a adaptar as receitas. Sem planejar, acabei abrindo um caminho para uma cozinha brasileira mais moderna: valorizando produtos locais, apoiando o pequeno produtor, incentivando os cozinheiros a criar e instigando o consumidor a apreciar os sabores da terra. Já se passaram 45 anos e continuo descobrindo ingredientes maravilhosos que inspiram minha cozinha.

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Ao longo da sua carreira, o senhor viu a cozinha brasileira ganhar respeito internacional. O que ainda falta para que ela ocupe um lugar de protagonismo no cenário mundial?

O Brasil já conquistou reconhecimento, mas ainda não alcançou o mesmo protagonismo que cozinhas como a peruana, a espanhola ou a mexicana. Para chegar lá, algumas ações são fundamentais. Temos um país imenso, com receitas incríveis, do acarajé baiano ao pato no tucupi paraense, do churrasco gaúcho ao tutu à mineira, do jabá com jerimum paraibano ao frango com pequi goiano. Essa diversidade é uma riqueza incalculável, que precisa ser mais valorizada. Hoje contamos com chefs competentes em todas as regiões do País, valorizando cozinhas locais ou criando versões modernas prontas para conquistar o mundo. Temos também pequenos produtores cada vez mais dedicados à qualidade e à eficiência. O que falta é maior apoio governamental: divulgar essa potência como turismo gastronômico, aliviar a carga tributária e acreditar que o Brasil é uma fonte inesgotável de sabores, criatividade e cultura.

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A gastronomia hoje vai além do prato: envolve identidade, sustentabilidade e até política cultural. Como o senhor enxerga esse papel social da cozinha?

O papel social começa na valorização do pequeno produtor, das cooperativas e de todos que cultivam os alimentos que consumimos. Trabalhar esses produtos de forma consciente significa aproveitar tudo o que oferecem, valorizar o que está perto de nós e, sobretudo, combater o desperdício de maneira inteligente.

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