Em 68% dos municípios goianos existe preocupação com a possível falta de cilindros de oxigênio para atender a demanda de pacientes com complicações causadas pela Covid-19. Levantamento do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), que ouviu 120 prefeituras goianas, mostra que o problema é a falta do cilindro e não do insumo. Presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Estado de Goiás (Cosems-GO), Verônica Savatim diz que cidades esperam ajuda da Secretaria de Saúde de Goiás (SES-GO).A presidente do Cosems-GO explica que, pela falta dos cilindros, muitos municípios precisam fazer várias viagens para garantir o reabastecimento das unidades de saúde. Ela ainda detalha que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou, há duas semanas, o uso de cilindros industriais na utilização de gases medicinais. Com isso, algumas cidades já estão buscando parceria com empresas para fornecimento ou empréstimos destes recipientes.Verônica Savatim também destaca que já foi iniciado diálogo com a SES-GO para que ela assuma a conversa com empresas e órgãos com a finalidade de ampliar a quantidade de cilindros nos municípios. Já o Ministério da Saúde (MS), segundo a presidente do Cosems, está sendo procurado pelo Conasems para que encaminhe cilindros e, se necessário, tanques de oxigênio para cidades que estiverem com situação mais crítica, como foi feito no Amazonas.GuapóEm Guapó, na Região Metropolitana de Goiânia, a possibilidade de falta de oxigênio para atender a demanda com o aumento de casos de Covid-19, preocupa. O secretário de saúde do município, Vilmar Cardoso, diz que chegou a buscar ajuda de cidades vizinhas para conseguir atender pacientes que necessitavam de estabilização até que vagas de terapia intensiva fossem viabilizadas. “Já pegamos com Abadia de Goiás, Goianira. No início da segunda onda, não tínhamos estrutura para a quantidade de atendimentos”.O secretário acrescenta que foi necessário buscar locação de cilindros. “Fizemos uma parceria e não estamos pagando pelos equipamentos, só pelo insumo. Temos dez emprestados, que nos dão suporte adicional.” Ele ainda diz que tem 45 cilindros no total atualmente. “Há cerca de dez dias tivemos muita demanda, dificuldade. Mas hoje (ontem) não temos ninguém internado. É um alívio, já que tivemos dias muito tensos aqui, com muitas mortes recentemente de pacientes que já chegam em estado grave.”Cardoso se lembra de uma situação ocorrida há cerca de uma semana. “A falta é geral. Um paciente veio de outra cidade no interior esses dias e a ambulância parou aqui para pedir ajuda. O paciente que vinha para ser internado em leito de UTI em Goiânia estava prestes a ficar sem oxigênio na viagem. Eles pararam, nós cedemos um cilindro e eles seguiram viagem. Nem toda cidade tem o cilindro para dar esse suporte.”O secretário explica que os cilindros estão divididos entre o ambulatório, que é onde os pacientes internados por complicações da Covid-19 permanecem, além das seis ambulâncias e na casa de outros pacientes que fazem home care.Preocupação com insumosA presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Estado de Goiás (Cosems-GO), Verônica Savatim destaca que existe preocupação com outros insumos e que a forma de distribuição prejudica as cidades menores. Ela detalha que esses materiais são adquiridos pelo Ministério da Saúde, que encaminha para os Estados, que distribuem entre os municípios. Mas uma mudança de perfil de atendimentos nas cidades menores, especialmente por conta do aumento de casos graves de Covid-19, fez com que houvesse falta.Ela destaca que, no início da pandemia, na chamada primeira onda, nem todos municípios faziam estabilização de paciente. Com a chegada da segunda onda de contaminação pelo coronavírus (Sars-CoV-2), muitos municípios tiveram que organizar suas estruturas para manter pacientes sedados durante o tempo de espera das filas de UTI.Os insumos usados para a sedação dos pacientes são encaminhados para cidades que possuem hospitais maiores. Mas com a necessidade manter pacientes em situação mais crítica em sedação, mesmo sem leitos específicos, fez com que esses municípios menores também precisassem desses insumos. Mas como esses materiais são enviados apenas para quem já faz uso regular deles, Verônica diz que tem conversado com as cidades, secretarias municipais e estadual para que haja distribuição entre as cidades, de maneira empática, já que não existe lei ou regra que determine essa divisão.Ela entende que, com o abastecimento de hospitais de grande porte, “sobraria” na indústria farmacêutica para atendimento dos municípios menores e o pedido de ajuda é para que esse estoque seja identificado e distribuído.Cidades relatam aumento da demandaO levantamento feito pelo Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) é atualizado diariamente, de acordo com as respostas das secretarias municipais. Até a tarde de ontem, 120 cidades já haviam respondido o questionário. Ao todo, 82% informaram ter leitos para Covid-19 e 80% que possuem tanques não acreditam em desabastecimento desse tipo de local de armazenamento. Já no uso de cilindro, o risco chega em 68% dos municípios que responderam à pesquisa. Cerca de 35 deles informaram que nem sempre conseguem adquirir oxigênio e apenas 50 disseram que sempre conseguem outros insumos.O município de Luziânia informou no relatório que expandiu a oferta de leitos para Covid-19 no Hospital do Jardim Ingá, de 6 para 40, que estavam com ocupação máxima. Com a insuficiência dos leitos, as duas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) estão recebendo pacientes infectados pelo Sars-CoV-2. Também há relato de crescimento exponencial do uso de oxigênio e que a empresa fornecedora não tem conseguido entregar a quantidade solicitada com regularidade. A cidade tem necessitado de reabastecimento diário. Para evitar problemas, há remanejamento dos estoques até a chegada do fornecedor. A falta desse suporte impede a cidade de ampliar ainda mais a quantidade de leitos.Ceres informou no relatório que o fornecedor tem solicitado aumento do número de cilindros e há temor que a falta destes recipientes cause crise numa eventual emergência com aumento de casos da doença. A cidade informou que tem buscado adquirir, mas enfrenta dificuldade. Já Jussara informou que também tem observado aumento considerável e que, nos momentos de necessidade, tem recorrido a municípios vizinhos. Em Montividiu, o temor é de falta por conta da dificuldade de adquirir oxigênio.Santo Antônio do Descoberto informou que a demanda por oxigênio triplicou na última semana por causa do aumento dos casos de Covid-19 e que o estoque já não suporta a demanda. Turvânia relatou que não chegou ao colapso por ter conseguido alugar cilindros, mas que é preciso viajar todos os dias até Goiânia para ter acesso ao insumo. Segundo o relatório, Turvânia tem todos os insumos necessários, mas pelo aumento descontrolado de casos e pela dificuldade da disponibilidade dos insumos, não sabe até quando conseguirá se manter.Novo Gama informou que também tem enfrentado dificuldade com fornecedor que atenda a cidade. O município também relata leitos lotados. Goianira também observou aumento de 300% da necessidade do uso do insumo em pacientes que aguardam leitos intensivos. Em Mambaí, também temem falta e estão trabalhando no limite.