Das 370 instituições municipais de ensino de Goiânia, 68 (18%) estão com atividades suspensas por conta da paralisação dos professores, que reivindicam um aumento salarial que acompanhe o do Governo Federal. No início da paralisação, o número chegou a 195 escolas. De acordo com dados da Secretaria Municipal da Educação (SME), outras 39 unidades já registraram a retomada dos servidores aos postos de trabalho e 263 atendem estudantes normalmente. Entretanto, de acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego), cerca de 70% dos trabalhadores ainda estão em greve.Nesta terça-feira (5), eles estiveram na sessão da Câmara Municipal para protestar pelo aumento salarial que consideram justo. Na última quinta-feira (31), que também contou a presença dos professores, a sessão da Casa foi suspensa por falta de quórum. A greve começou no dia 15 de março. No dia 31, dois professores foram detidos, e soltos no mesmo dia, depois de uma confusão que aconteceu em um protesto em frente a uma unidade de ensino que estava sendo inaugurada pelo prefeito Rogério Cruz (Republicanos), na Vila Areião.A principal reivindicação dos trabalhadores é que o salário de todos os profissionais da rede receba um aumento de 33,24%, que corresponderia ao reajuste do piso nacional dos professores da educação básica promovido pelo Ministério da Educação (MEC) no fim de janeiro de 2022.Leia também:- Servidores da Educação de Goiânia recusam proposta da Prefeitura e decidem continuar greve- Vídeo: guarda civil agride professora com soco no rosto durante manifestação em GoiâniaEntretanto, a Prefeitura afirma que esse aumento é impraticável. “Isso não é verdade. Existe o dinheiro do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica(Fundeb) e do aumento da arrecadação de impostos como o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU)”, diz Antônio Gonçalves, coordenador geral do Sindicato Municipal dos Servidores da Educação de Goiânia (Simsed Goiânia).“Somos os maiores interessados em voltar a trabalhar. Depois, sabemos que teremos de repor esses dias e também que existem prejuízos para os alunos. Entretanto, parece que há uma demora da parte do poder público para fazer propostas”, diz Bia de Lima, presidente do Sintego.Além do aumento salário dos professores, os pagamentos das datas-base de 2020, 2021 e 2022 de uma só vez. A intenção é evitar calotes. “Diferente de outras categorias, nosso vencimento é janeiro”, explica Bia de Lima.A proposta mais recente da SME é de um aumento de 33,24% de aumento apenas para os professores da categoria P1, que contempla os profissionais mais antigos, que têm formação por meio de magistério e são a menor parte da categoria, e de 10,16% para os da categoria P2, que têm curso superior e são a maior parte do quadro docente atual. A Prefeitura também propôs um aumento de 50% para o Auxílio Transporte e Locomoção.Desta forma, o salário de professores com carga horária de 40 horas ficaria em R$ 3,9 mil. De acordo com o aumento recente, o piso nacional é de R$ 3,8 mil. “Além disso, também daríamos um aumento de 10% na gratificação de regência e o auxílio transporte iria para R$ 901”, diz Wellington de Bessa, titular da SME.Ele afirma ainda que não é possível proporcionar o aumento de 33,24% para toda a categoria pois além do orçamento usado este ano ter sido elaborado com base na arrecadação de 2021, os repasses do Fundeb são insuficientes. “Ano passado recebemos R$ 601 milhões do fundo e a nossa folha foi de R$ 1,073 bilhão. Ele representou só 55% e este ano o aumento deve ser de apenas 5%, que sequer acompanha o aumento que estamos oferecendo”, diz.Além disso, Bessa diz que caso o aumento de 33,24% fosse concedido, outras áreas da educação municipal poderiam ficar afetadas como, por exemplo, a construção de Centros Municipais de Educação Infantil (Cmeis). O secretário também avalia que, até o momento, as negociações têm caminhado bem. “Junto com a Secretaria Municipal de Finanças (Sefin) Conseguimos aumentar a proposta de 7,5% para 10%.”Já em relação às datas-base, a proposta da Prefeitura é de pagamento dos atrasos de 2020 e 2021 aos servidores administrativos neste mês de abril e, em maio, a data-base de 2022, além da criação do Auxílio Transporte e Locomoção de 250 reais.As novas propostas foram apresentadas para o sindicato nos últimos dias. Entretanto, nesta segunda-feira, depois de uma assembleia, eles decidiram manter a greve. “Nós não estamos pedindo nada mais do que o nosso direito”, enfatiza Bia.IsonomiaAdvogado especialista em Direito Educacional, Ivan Trindade avalia que considerando que todos os profissionais estão em situação de igualdade. “ Na minha visão isso fere a igualdade entre os professores. O servidor que ganha acima do piso tem direito a ser aplicada anualmente a porcentagem estabelecida no piso nacional. Em tese, segundo essa interpretação, o ente municipal não poderia se utilizar dessa vertente que está usando. Assim sendo, seria necessário que fossem aplicados os 33,24% para todos os professores, independente se estão em início de carreira ou não.”Alunos são os maiores prejudicadosOs estudantes da rede de ensino municipal acabam sendo os maiores prejudicados pela paralisação dos profissionais da educação que já dura 22 dias. “Os prejuízos são significativos, pois a educação é um direito constitucional. Jovens e crianças vão se ver, momentaneamente, privados do acesso a um direito garantido. Isso pode produzir efeitos diretos a formação pessoal deles de conceitos como, por exemplo, cidadania”, diz Ivan Trindade, advogado especialista em Direito Educacional.Além disso, Trindade explica que a paralisação ocorre um atraso no calendário escolar. “Isso pode ocasionar um atraso no semestre letivo e um prejuízo no processo de aprendizagem, tendo em vista que a metodologia de ensino terá de ser reestruturada para que haja reposição de aulas.”Os professores também se preocupam com esta questão. “Não estamos satisfeitos de estarmos parados. Além das reposições, nos preocupamos com os alunos. Sabemos que isto afeta as famílias e que a situação é delicada. Por isso gostaríamos de celeridade nas propostas”, afirma Bia de Lima, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego).“A nossa intenção é resolver esta situação. Como professores da rede, temos o compromisso com a educação pública e com os estudantes. Entretanto, não podemos passar por cima dessas outras questões que dizem respeito à nossa remuneração”, diz Antônio Gonçalves, coordenador geral do Sindicato Municipal dos Servidores da Educação de Goiânia (Simsed Goiânia).A Secretaria Municipal de Educação (SMS) destaca que o momento atual é complexo, pois existem déficits causados pelos dois anos de aulas remotas e híbridas por conta pandemia da Covid-19 que precisam ser recuperados. “Os alunos têm a necessidade de voltar às aulas presencias. Logo agora, que íamos implementar o planejamento pedagógico, cruzamos com esta situação”, diz Wellington de Bessa. A dona de casa Herika Priscila Xavier, de 33 anos, tem quatro filhos. Um deles estuda na rede municipal. João Victor tem 10 anos e está matriculado na Escola Municipal Recanto do Bosque. Herika conta que com a greve, ela fica impossibilitada de procurar um emprego, já que precisa cuidar do filho.Entretanto, ela é a favor do aumento salarial dos professores. “Todos anos eles falam que vão aumentar (o salário) e nunca acontece. Acho que esta situação acaba prejudicando o psicológico dos professores e também os alunos, no que diz respeito ao ensino”, avalia.Depois de anos de pandemia com aulas remotas, ela afirma que o filho está sentindo falta de estar em uma sala de aula, mas ela acredita que a paralisação é importante.” Eu expliquei a situação e eles concordam comigo. Eu acho super importante os pais apoiarem os professores nessas horas”, finaliza.