A cinco meses para o início previsto da circulação dos ônibus elétricos no Eixo Anhanguera, a Prefeitura de Goiânia ainda não tem um plano e um cronograma divulgado para a recuperação da pista. O prazo para a conclusão do serviço é menor, se considerada recente decisão judicial que deu até o fim de julho para a recuperação da pista, cuja extensão tem cerca de 13,5 km e sofre com danos severos, como o próprio Paço admite.A situação do asfalto no Eixão é apontada como um dos principais responsáveis pela deterioração da frota de ônibus mostrada em reportagem do POPULAR nesta quinta-feira (7). A expectativa com a substituição dos veículos em um processo que poderá custar até R$ 1,46 bilhão ao poder público, o receio é que a pista danificada estrague também os novos ônibus, o que torna a discussão prioridade para os órgãos e técnicos que operam o transporte coletivo.Em 9 de março, a juíza Patrícia Carrijo deu dez dias para a Prefeitura iniciar a recuperação do asfalto, mas, no dia 18, uma decisão do desembargador Fernando de Castro Mesquita ampliou o período para 90 dias. A entrega se manteve para até 31 de julho. Entretanto, a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra) afirmou ao POPULAR nesta quinta-feira que ainda está definindo o cronograma de intervenções, sem dar nenhuma data.Conforme informa a Seinfra, os detalhes sobre como deve ser a manutenção do asfalto do Eixo Anhanguera foram acertados nesta semana em reunião com a Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC) e a Metrobus.Procurados, o órgão fiscalizador e a empresa que opera o Eixo também não informaram quando a recuperação do asfalto será iniciada.Também não está claro quais serão as intervenções em cada etapa. A Metrobus queria que fosse feito um serviço de recapeamento e juntou ao processo judicial um estudo técnico que foi homologado pela juíza determinando que a Seinfra retirasse a capa asfáltica atual e colocasse outra, nova, de 5 cm de espessura, fazendo as correções necessárias na base.A Prefeitura reconheceu na Justiça que apenas o serviço de tapa-buraco não era mais suficiente para o Eixo, por causa dos desgastes causados pelos ônibus sempre lotados, e afirmou que a solução seria substituir o asfalto por concreto em toda a extensão da pista. Algo em torno de R$ 45 milhões.“O trecho exige um piso mais robusto e resistente, sendo recomendado um projeto com base em concreto ao longo de toda extensão, no acesso aos terminais e nos pátios de manutenção e manobra”, destaca relatório apresentado pelo Paço em um dos recursos na Justiça.VLT AnhangueraNo mesmo processo, o Executivo revelou que estava prevista para janeiro de 2023 a implantação do VLT no Eixo Anhanguera, e que seria desperdício fazer uma reforma mais ampla agora, cabendo um “recapeamento mais simples”, com uma equipe técnica percorrendo o eixo duas vezes por semana em busca de falhas a serem corrigidas.Este serviço alternativo, segundo o Paço, custaria cerca de R$ 5,8 milhões em 2 anos. Para o POPULAR, porém, o Executivo não precisou o que fará na pista, que tem deformações visíveis ao longo de toda a extensão. Na Justiça, a Seinfra informou que a capa asfáltica varia de 9 cm a 15 cm, dependendo da localização, por causa dos inúmeros remendos feitos ao longo dos anos. O eixo é de 1976.Ainda na esfera judicial, a Metrobus questionou o argumento da Prefeitura sobre o piso à base de concreto, que “não foi objeto da ação de conhecimento ou do cumprimento de sentença” e insistiu na “manutenção definitiva da pavimentação asfáltica” conforme o estudo técnico arrolado. Posteriormente, ao que indicam as declarações à imprensa, acatou a proposta mais simples. A Justiça também.Ao POPULAR, a Seinfra fala que cabe à pasta “os cuidados constantes com as pistas do Eixo, a correção de bases do pavimento em pontos críticos e o recapeamento em áreas específicas” e que está “em estudo” um projeto de reestruturação completa com o recapeamento total, “inclusive para a instalação do novo sistema de transporte que será indicado pelo governo do Estado”. Sem citar o VLT.RenovaçãoA Metrobus perdeu 28% da frota adquirida há menos de dez anos e culpa em parte a situação da pista para a degradação mais rápida. Apesar de reconhecer também que houve falta de manutenção dos veículos, a Metrobus informa que a maioria dos danos técnicos é de suspensão, pneus e cubos de roda, o que evidencia a “culpa” do asfalto.Para a estatal, a solução já está em curso, destacando o início do processo de locação de 114 ônibus elétricos ao custo de R$ 1,46 bilhão em 16 anos. A estimativa é que as primeiras unidades comecem a rodar em setembro deste ano, chegando a 15 veículos no fim do ano. Pelo edital, a frota estará completa em 2024. Serão os primeiros veículos que não usam diesel no sistema.Paço preparava projeto de VLTA Prefeitura de Goiânia usou o projeto de construção do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) em substituição ao sistema atual do Eixo Anhanguera para não ter de fazer já em 2022 o serviço de reconstrução da pistaque o próprio Executivo Municipal admite ser necessário para corrigir os problemas de trafegabilidade dos ônibus no Eixão. O problema é que, segundo o próprio titular da Secretaria Municipal de Mobilidade, Horácio Mello, é bem provável que o projeto seja arquivado, dependendo ainda de uma conversa final com o prefeito Rogério Cruz (Republicanos) e com a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra).Para a Justiça, a Prefeitura afirmou que estava em “avançada negociação” com o governo federal para obtenção de recursos para a implantação do VLT e que, por isso, não fazia sentido uma reforma mais onerosa e definitiva neste momento no asfalto do Eixão. “Em consequência da implantação do VLT, a SMM e a Seinfra advertem que a realização desta alteração no pavimento no presente momento acarretará em um importante desperdício de recurso público, com graves consequências ao erário.”A SMM ainda informou que havia se reunido com o Ministério do Desenvolvimento Regional em 9 de junho de 2021 e que em setembro conseguiu com que o projeto fosse “acolhido”, “restando a consolidação dos instrumentos legais”, referindo-se à aprovação de projeto de lei na Assembleia Legislativa, mudando a forma como é gerido o transporte coletivo na região metropolitana - o que aconteceu no fim do ano.Procurada pelo POPULAR, a Metrobus não se manifestou sobre o projeto do VLT e a Secretaria Geral de Governo (SGG) informou desconhecer tal proposta. Entretanto, no processo judicial, a Metrobus afirmou saber sobre o VLT e alertou que a Prefeitura estava usando isso para adiar a reforma mais drástica no Eixo Anhanguera. Para a reportagem, a SMM afirmou que não seria interessante dar início a um projeto que não pudesse ser concluído na atual gestão.Adiamento se arrasta há 2 anosA ordem da Justiça, publicada no dia 9 de março, para que a Prefeitura de Goiânia recupere o asfalto do Eixo Anhanguera foi a sétima decisão neste mesmo sentido dentro de uma ação proposta pela Metrobus há quase um ano e meio, pedindo que o serviço seja feito com urgência. Em todas as vezes, o Executivo Municipal entrou com um recurso para conseguir postergar a sentença.A Metrobus acionou o Judiciário em novembro de 2020 para que o paço cumprisse uma outra determinação judicial, em outro processo que teve início em março de 2018 para definir se a manutenção do asfalto do Eixão seria de responsabilidade do Estado ou do município.É nesta ação anterior que a Justiça entendeu que a responsabilidade pelo asfalto é da Prefeitura. Somando os dois processos, há mais de quatro anos que tem sido determinado que a Prefeitura faça a revitalização e a manutenção do asfalto no Eixo Anhanguera.Quando a Metrobus cobrou o cumprimento da revitalização na ação judicial iniciada em 2020, a primeira desculpa do Paço foi um acordo entre o então prefeito Iris Rezende (MDB) e o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) assinado naquele ano para um serviço de tapa-buraco em toda a extensão do Eixo. Foram gastos na ocasião, como revela o Executivo na mesma ação, 196,2 toneladas de massa asfáltica para reparos. Porém, para a Justiça, este acordo foi paliativo e ainda cabia à Prefeitura uma “recuperação definitiva”.Em junho de 2021, a Metrobus apresentou um estudo técnico feito por um engenheiro no qual se aponta que seria necessário o recapeamento de toda a extensão do eixo de forma imediata, retirando a capa asfáltica existente e colocando uma nova, com 5 cm de espessura. É dito também que o serviço de tapa-buraco já não é mais suficiente pelo estado de conservação da pista. A Justiça acatou o relatório e o usou como base para as novas decisões.Em janeiro, a juíza Patrícia Carrijo emitiu a sexta decisão dentro deste processo mais recente. Foi quando a Prefeitura então recorreu dizendo que estava em andamento o projeto do VLT, que custaria mais de R$ 1 bilhão, e que não fazia sentido reformar a pista de forma definitiva para depois refazer todo o serviço. O pedido para que se aceitasse o tapa-buraco foi acatado em março.Leia também:- Metrobus vai alugar 114 ônibus elétricos ao custo de R$ 1,46 bi- Goiânia vai entrar na era dos ônibus elétricos-Imagem (Image_1.2280063)