O inquérito populacional realizado pela prefeitura de Aparecida de Goiânia entre os dias 8 e 13 de maio com o objetivo de monitorar a pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2) estima que o município tenha pelo menos 2.370 casos positivos da doença, com prevalência na população de 0,41%. A cada registro confirmado da Covid-19, acredita-se que outros 17 são subnotificados. A pesquisa foi realizada em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG) e fez a aplicação de testes rápidos e de questionários socioepidemiológicos em sete regiões da cidade, onde as residências foram escolhidas de forma aleatória. Dentre os 1.208 moradores entrevistados, apenas cinco apresentaram anticorpos, o que significa que tiveram contato com o vírus.Biólogo e membro de um grupo da UFG que estuda e faz a modelagem da expansão da doença em Goiás, Thiago Rangel considera o número um sucesso no que diz respeito à tentativa de achatar a curva de casos da doença. “É preciso lembrar que manter a curva deste jeito é importante, pois se houver picos de crescimento, o sistema de saúde pode ser sobrecarregado. Por isso, até o momento, dá para afirmar que o isolamento social tem sido eficaz”, explica.Por outro lado, Rangel diz que o número também mostra que o caminho até a normalização da rotina dos aparecidenses pode ser longo. “Se não acharmos uma vacina ou alguma outra maneira de tratamento, teremos de seguir com estas medidas por um longo tempo para termos menos pessoas doentes ao mesmo tempo e, consequentemente mantermos a curva achatada”, esclarece. O biólogo destaca que é preciso lembrar que as estatísticas não conseguem quantificar as pessoas que foram salvas. “Sempre que olhamos para este número, temos de lembrar que se a prevalência fosse maior, mais pessoas teriam morrido também. Por isso, com este número baixo temos permitido que inúmeras pessoas continuem a viver.”Em relação ao número de subnotificações, o biólogo acredita que é importante saber a quantidade de pessoas que está ficando doente sem o conhecimento das autoridades públicas, mas alerta que é preciso que a população contaminada haja com mais responsabilidade.O secretário municipal de Saúde de Aparecida de Goiânia, Alessandro Magalhães, explica que a pesquisa é de suma importância para a pasta traçar as próximas medidas a ser adotadas. Uma das primeiras será a ampliação da testagem na população. “Estamos fazendo cerca de 300 testes por semana e o intuito é subir para 300 por dia.”Magalhães faz uma ressalva em relação ao número baixo de pessoas infectadas. “Se o número de prevalência fosse maior, teríamos mais pessoas imunes à doença. Isso não quer dizer que queremos que todo mundo fique doente ao mesmo tempo. Não temos um sistema de saúde que aguenta todas as internações que seriam necessárias se tivéssemos um pico de casos.”O município deve realizar outra pesquisa no mesmo formato da finalizada nesta terça-feira (19) no fim deste mês ou no início de junho.Segundo dados da secretaria de saúde local, até esta terça-feira, Aparecida de Goiânia conta 181 casos confirmados de coronavírus, com 94 já recuperados e oito óbitos e mais de 1.100 pessoas com resultado negativo.A pesquisa que foi feita em sete regiões diferentes da cidade permitirá que o poder público formule estratégias de ação e flexibilização do isolamento diferentes para cada um destes locais. A região mais afetada pelo estudo e que deve ter as medidas de isolamento enrijecidas é a do Garavelo, que durante a pesquisa teve dois dos cinco resultados positivos da doença.Quando o inquérito foi finalizado a região contava com 41 casos confirmados da doença, ou seja, a estimativa é de que o local tenha pelo menos 988 casos positivos da Covid-19. “Se não houver o respeito às medidas, até a paralisação total das atividades pode ser feita”, diz.Além do teste, durante a pesquisa também foi aplicado um questionário, que em relação ao isolamento social, mostrou que 87,6% dos entrevistados disseram que não tiveram contato próximo (menos de um metro) com um infectado pela Covid-19 e 2,7% tiveram esta aproximação. A pesquisa mostrou ainda que grande parte dos entrevistados está cumprindo o isolamento social (veja quadro). Testes de vírus são concluídos em GoiâniaA pesquisa de Prevalência de Infecção por Covid-19 no Brasil (Epicovid-19) foi finalizada em Goiânia nesta terça-feira (19). O trabalho é financiada pelo Ministério da Saúde e coordenado pelo Centro de Pesquisas Epidemiológicas da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel). Objetivo é medir a prevalência do novo coronavírus e avaliar a velocidade de expansão da doença no País. A pesquisa, que teve início dia 14 deste mês, aplica testes rápidos para a detecção de anticorpos e também questionários. Ela é feita por meio de uma amostragem aleatória de participantes em 133 ‘cidades sentinelas’, que são os maiores municípios das divisões demográficas do País, de acordo com o IBGE. Manaus, que tem sido severamente afetada pela doença, foi a primeira cidade do País onde o estudo foi concluído. Além da capital, em Goiás o estudo alcança Iporá, Itumbiara, Rio Verde e Luziânia. Em cada município, 25 setores censitários serão selecionados com probabilidade proporcional ao tamanho. Dentro dos setores, dez casas serão selecionadas. A pesquisa incluirá três inquéritos populacionais, realizados a cada duas semanas por meio de visitas domiciliares. Em cada inquérito, serão realizadas 250 entrevistas em cada município, totalizando 33.250 por inquérito e 99.750 no total do estudo. Dois entrevistadores foram detidos pela Guarda Civil Municipal (GCM) de Rio Verde, em Goiás, e levados para prestar esclarecimentos na delegacia, na tarde da última quinta-feira (14), quando aplicavam a pesquisa. Segundo a Polícia Civil da cidade, os policiais não haviam sido informados sobre o trabalho e receberam diversas ligações de moradores desconfiados da presença dos profissionais. Alguns achavam que poderia ser uma ação de criminosos. Eles prestaram esclarecimentos e foram liberados.O diretor do Centro Nacional de Pesquisa e Estudo de Campo (CNPEC), Luciano de Paula Souza, afirma que depois do ocorrido, as atividades foram paralisadas. “Em Rio Verde ainda não temos data para voltar e isso acaba atrasando a pesquisa que deve ser terminada nesta quinta-feira (21). Em Itumbiara e Iporá voltamos amanhã (quarta-feira, 20) e em Luziânia voltamos hoje (terça-feira, 19). Depois do ocorrido, só voltamos a campo assim que as autoridades estiverem completamente cientes para não ocorrer mais nenhum episódio de hostilidade com os nossos profissionais.” Segundo Souza, apesar do ocorrido no interior do Estado, em Goiânia a receptividade da população à pesquisa foi muito boa. “Foi melhor do que esperávamos. Costumamos ter problemas em bairros nobres e no Setor Bueno, por exemplo, tivemos síndicos que acolheram nossos profissionais e os ajudaram a fazer as testagens.”Coronavírus Sem Mistério O novo episódio do Coronavírus Sem Mistério, projeto temporário em áudio de O POPULAR disponível no site do jornal e nas plataformas de streaming, publicado nesta segunda-feira (18), conversou um dos coordenadores do estudo populacional, o epidemiologista Bernardo Horta, que além de explicar quais decisões o poder público pode tomar a partir deste estudo, também comentou a desconfiança que a pesquisa enfrenta. Segundo o epidemiologista, a pesquisa vai permitir que se detecte qual o avanço regional da doença. “Ela vai produzir uma fotografia dizendo o quanto o vírus já circulou naquele lugar e para o indivíduo ela vai dizer se ele já teve o coronavírus ou não”, afirmou Horta.-Imagem (1.2055543)