Maluco, louco e estranho são alguns dos adjetivos que Gaspar Alves Rodrigues recebe desde que, em 2003, resolveu construir no Cemitério Municipal de Trindade sua futura sepultura.“Se você acha que sou doido de gastar tanto dinheiro para fazer meu túmulo, doido é quem acha que não vai morrer”, ele avisa. Mas não é apenas pela excentricidade de preparar com antecedência o repouso eterno que o empresário chama a atenção. Em seu futuro túmulo ele colocou estátuas de mulheres com seios nus e uma réplica de Davi, também nu, ao lado de anjos, São Francisco e Jesus Cristo.“Os trem (sic) dele aqui no cemitério estava muito relaxado e o povo reclamou. Até a polícia esteve aqui.” Quem conta a história é Urias Alvarenga, funcionário do cemitério há mais de 14 anos. Segundo ele, diante da reclamação, um juiz determinou que o dono do túmulo tapasse as partes íntimas. “Ele fez de qualquer jeito. Colocou uns plásticos aí, mas o vento levou e ficou tudo do mesmo jeito”, diz o trabalhador. No primeiro Dia de Finados após o término da construção, o túmulo virou atração. “O povo ficava só nessa capela em vez de ir rezar”, conta Urias Alvarenga.Outro funcionário, Luismar Luciano, lembra do dia em que Gaspar Alves entrou em um caixão dentro da pequena capela para uma reportagem de TV. “Acho que, de doido, ele não tem nada. Se fosse abilolado não tinha esse dinheiro todo.” Gaspar é mineiro de São João Batista do Glória, onde nasceu há 65 anos, mas está em Goiás desde criança. A família veio para Paraúna, passou por Trindade nos anos 50 e depois veio para Goiânia. Ele diz que nunca frequentou escolas e o pouco que se alfabetizou foi na vida. Não esconde que tem dinheiro e que gosta de se exibir. Por onde passa abusa dos excessos, principalmente em termos decorativos. É assim com a fachada do hotel que mantém em Campinas e com o mausoléu que construiu no cemitério de Trindade.InspiraçãoNo topo da construção de 4,5 metros de altura por 4,2 de largura em um estilo arquitetônico que lembra um castelo, ele instalou oito estátuas - uma de Cristo com os braços abertos, uma de São Francisco, anjos e três mulheres com seios nus. Ele diz que a inspiração veio das muitas viagens que fez mundo afora. “Fui seis vezes até Niterói buscar essas estátuas”. Ele gostou tanto que trouxe cerca de 30 delas, religiosas ou não.No interior do túmulo, imagens de duas mulheres que se assemelham a deusas gregas e o aviso incomum na parede. Ele admite ao terminar a construção as autoridades de Trindade não gostaram, mas “pelo fato de estar vivo”. O POPULAR apurou que Gaspar foi proprietário da Trovão Azul, uma casa noturna nas imediações da rodoviária de Campinas. Família é assunto proibido para ele. “Quem trabalha comigo não vai me levar para onde não quero”, explica sobre o motivo de ter erguido o próprio túmulo. “Parente não existe”, reforça.