O estudante de 15 anos responsável pelo ataque a tiros no Colégio Goyases, em Goiânia, que deixou dois mortos e quatro feridos na manhã do dia 20 de outubro de 2017, vive hoje em um alojamento de 8m² na ala E do Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) de Anápolis. Ele deve sair em outubro de 2020. Sua pena é a máxima prevista na legislação para uma pessoa que não atingiu a maioridade. A unidade começou a ser administrada por uma organização social (OS) em agosto e é considerada um modelo a ser seguido dentro do sistema. Inaugurada e reformada recentemente, incentiva a prática de esportes, artes marciais, pintura e até o uso de videogame.Por decisão judicial, a segurança do adolescente do caso Goyases é diferenciada, já que o crime teve grande repercussão midiática. A ala E, onde ele fica alojado, é vigiada por um policial militar durante 24 horas por dia e seus horários de estudo e atividades são separados dos outros internos. Apelidada de “ala da elite”, ela possui 14 alojamentos com banheiro, sendo que 11 são ocupados atualmente, cada um por um adolescente. Eles são pintados de bege por dentro e possuem janelas grandes amarelas com grades. O colchão do interno fica sobre um suporte de cimento.A mesma ala segura é ocupada por outros adolescentes que cometeram crimes bárbaros e conhecidos. Entre eles está o menino de 13 anos que matou com facadas a estudante Tamires Paula de Almeida, também de 13 anos, na escada de incêndio de seu prédio, no Jardim América, em Goiânia, no mês de agosto do ano passado. Também está na mesma ala o adolescente de 15 anos que estuprou e matou uma criança de três anos em Niquelândia, em julho.O atirador do colégio Goyases nunca teve problema disciplinar dentro do Case e é considerado como tendo um excelente comportamento, educado e disciplinado. Ele teria uma boa relação com os outros adolescentes da ala, mas é introvertido. “Ele é na dele”, descreve uma fonte ouvida pela reportagem.Durante a semana, tem aula com professores da rede pública de ensino e participa de atividades de judô, karatê e futsal. Além de ações recreativas com pintura e jogos, como dominó e xadrez. Nos momentos sem atividade, é dado à leitura. Lê romances, crônicas e outros livros que os pais levam nos dias de visita.Em um atendimento psicológico em novembro do ano passado, quando já estava no Case, ele disse que precisava apenas de seus livros e não de tratamento. O estudante relatou na época que queria cumprir a pena e voltar a viver com seus pais em uma nova casa. “Penso na minha casa, no João Vitor e onde estaria se nada disso tivesse acontecido”, disse na ocasião, sem expressar sentimento, segundo anotação da psicóloga. João Vitor Gomes, de 13 anos, era um amigo próximo do atirador e foi morto por ele durante o atentado com um tiro na cabeça.MúsicaCada interno do Case de Anápolis pode ter uma escova de dente, óculos, roupa, lápis e um aparelho de MP3 com fone de ouvido. Segundo um servidor da unidade, a peculiaridade foi possível depois que o pai do atirador do Colégio Goyases comprou o equipamento para todos os internos. A reportagem questionou a defesa do adolescente sobre a veracidade da informação mas não recebeu retorno até o fechamento desta edição.A OS Instituto Idtech, responsável pela administração da unidade, avalia o MP3 como uma medida sócio-recreativa. Os arquivos de áudio são levados pelos pais dos internos nos dias de visita, que acontecem todas as quinta-feiras. Os cartões de memória passam por uma espécie de perícia feita pelos servidores, em que músicas com apologia ao crime são excluídas. A unidade já adquiriu um videogame com óculos de realidade virtual, que ainda vai começar a ser usado.O Case de Anápolis possui 48 internos e três alas em funcionamento. Outras três passam por reforma com a colocação de grades nas janelas e outros ajustes de segurança. Com a conclusão da reforma, a ala de segurança deve ser transferida para a ala C, com estrutura específica para esse tipo de interno. O máximo de lotação que existe na unidade é de dois adolescentes por alojamento, sendo que um dorme em um colchão no chão.Com um ano de internação, o atirador do colégio Goyases passa por um processo de reavaliação, que deve ser marcado para os próximos dias. Ele funciona como um novo julgamento, com a presença de um juiz, um promotor e da defesa. É avaliada a adequação do interno ao seu plano individual de atendimento, que é um planejamento do que ele deve fazer enquanto está internado.O resultado dessa avaliação pode ser a substituição da medida socioeducativa por outra mais leve como a semiliberdade ou a liberdade assistida. “Essa é a expectativa, para começar a oportunizar, ao menos, saídas esporádicas para reinserção social, para datas festivas como o Natal. Que com o passar do tempo ele possa ir voltando ao convívio social”, defende a advogada da família do atirador, Rosângela Magalhães.Em junho deste ano, Rosângela informou que os pais do adolescente internado temiam pela vida de seu filho e que teriam ficado muito abalados com o incêndio no Centro de Internação Provisória (CIP), no Jardim Europa, na capital, que resultou na morte de dez internos. Na unidade haviam 11 adolescentes em uma única cela.-Imagem (1.1644642)