Superando o número de acidentes de rodovias, a Avenida Perimetral Norte, em Goiânia, é a via com o maior número de acidentes de Goiás. O problema que já é conhecido ganhou, segundo especialistas, pouca atenção do poder público nos últimos anos. A Prefeitura de Goiânia diz que a maioria dos mais de 400 acidentes por ano está ligada à imprudência de motoristas, tese que é contestada por técnicos.Localizada na Região Norte, a avenida é classificada como via arterial. Ligando vários pontos da cidade, os mais de 10 quilômetros de extensão atraem todo tipo de fluxo, com movimento de caminhões semelhantes ao de rodovias. Inicialmente pensada em localização distante da região central, a via foi alcançada pela expansão urbana, o que incluiu o trânsito de pedestres em vários de seus trechos.Foram 33 óbitos em quatro anos, decorrentes de 1.640 acidentes que envolveram, ao todo, 3.540 pessoas. Os trechos com maior número de ocorrências no período foram os situados na Vila João Vaz, com 238 acidentes e no Setor Goiânia 2, com 208. Entre as avenidas municipais, a Avenida Anhanguera é a segunda com mais ocorrências: 877 em quatro anos.Entre os vários acidentes registrados em um mês, dois ocorridos nas últimas semanas chamaram atenção. Em dias distintos, motoristas saíram da pista em um mesmo trecho e precisaram ser resgatados por equipes de socorristas. Para a Secretaria Municipal de Mobilidade (SMM), as mais de 27 mil multas por excesso de velocidade no ano passado mostrariam que o principal problema da via é a imprudência dos condutores.Para o consultor em Engenharia de Transportes, Benjamin Jorge Rodrigues, que é professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), além do tráfego e da alta velocidade, a Perimetral sofre com problemas estruturais. “A superfície do asfalto está bastante deteriorada em alguns pontos, principalmente nas proximidades da Avenida Goiás”, aponta.O professor também considera que a sinalização da Perimetral é insuficiente. “Devíamos ter mais sinalização de regulamentação de velocidade, placas educativas. Tanto a sinalização vertical quanto a horizontal, que é praticamente inexistente”, diz o engenheiro, que cobra campanhas educativas focadas na avenida.O gerente de Educação Para o Trânsito da SMM, Horácio Ferreira, diz que a via tem recebido atenção do poder público municipal, tanto na estruturação quanto na sinalização. O limite de velocidade, que era de 70km/h até 2021, passou a ser de 60km/h. Além disso, a pasta aumentou de quatro para seis o número de lombadas eletrônicas. Segundo Ferreira, a avenida ainda deve ganhar três novos equipamentos de verificação de velocidade.“A gente entende que há necessidade em monitorar o principal problema da Perimetral, que é o excesso de velocidade”, diz o gerente. Segundo o representante da SMM, a análise dos acidentes também mostra a recorrência de infrações, como conversões proibidas e alto índice de motoristas não habilitados.ResponsabilidadeO perito judicial e assistente técnico de trânsito Antenor Pinheiro discorda de que a situação já tenha diagnóstico preciso. “Atribuir ao fator imprudência é uma comodidade das autoridades de trânsito. Preciso que outros aspectos sejam igualmente investigados”, diz Pinheiro. “O problema é saída de pista? Então é preciso investigar o coeficiente de atrito da pavimentação asfáltica. Também se há excesso de óleo depositado. Quando temos uma doença, nós temos que examinar e aplicar o remédio correto”, aponta o perito.Mesmo quando reconhece a existência de imprudência, Pinheiro diz que mesmo nesses casos pode haver responsabilidade do poder público. “Se está havendo cometimento de infração é porque o fator fiscalização não está apresentando resultados, e a fiscalização é atribuição exclusiva do poder público. Então talvez seja preciso melhorar a capacidade de fiscalização”, pondera o especialista.O gerente da SMM discorda de que haja influência da qualidade do asfalto e da sinalização da via nos inúmeros acidentes. “A condição do pavimento deveria fazer o condutor diminuir a velocidade. Nenhum pavimento inconsistente obriga o condutor a exceder a velocidade”, diz Ferreira. Já sobre a sinalização, o gerente afirma que a mesma está nítida e que também para essa questão o excesso de velocidade seria o problema“Qualquer sinalização não é nítida de acordo com a velocidade que se trafega nela”, enfatiza o representante. “Apesar disso, vamos passar isso para o corpo técnico e para a engenharia e, se for preciso, revitalizar e ampliar a sinalização”, acrescenta.-Imagem (1.2399173)