O assassinato do empresário Fabrício Brasil Lourenço, morto em outubro desse ano, pode ter sido motivado por vingança por um suposto caso de estupro. O processo ao qual a reportagem teve acesso indica como a principal linha de investigação um relato de abuso envolvendo uma familiar do coronel Alessandro Regys de Carvalho, superintendente de Aviação da Casa Militar do Estado de Goiás. Segundo apuração da Polícia Civil, Fabricio chegou a ser julgado pelo caso, ocorrido em 2019, mas acabou inocentado. Por conta da denúncia, Fabrício chegou a ter condenação em primeira instância. Depois, houve absolvição em segunda instância. Após a morte de Fabrício Brasil, em frente a pastelaria que era dono, o episódio passou a constar oficialmente como hipótese de motivação para a execução, conforme relatado pela Delegacia de Investigação de Homicídios (DIH).A Polícia Civil começou à investigação por meio de câmeras de vigilância que acompanharam o percurso dos veículos usados no crime. A DIH concluiu que o sargento Leneker Breno Campos Ayres de Oliveira e o sargento Tiago Lemes de Oliveira, assassinaram Fabrício com dez disparos de arma de fogo. De acordo com a DIH, a ação foi coordenado por José Antônio Moreira dos Santos, empresário e ex-integrante do Exército Brasileiro, suspeito de dar todo o suporte logístico antes e depois da execução, também preso na operação desta quinta-feira. Além dos três, Cleyton Souza Lima foi preso suspeito de envolvimento com o crime. Após o crime, os executores fugiram pela região do Setor Village Campos Verdes, onde se esconderam em uma área de mata por cerca de 25 minutos. Depois, seguiram em uma caminhonete, pertencente à empresa cujo responsável é José Antônio Moreira dos Santos, apontado como mentor da ação. Já na madrugada, eles retornaram a Goiânia e foram deixados em uma residência no Setor Santa Genoveva, suposta base de apoio para a logística do crime.As investigações revelam que José Antônio esteve na pastelaria cerca de 20 minutos antes da execução, comprou uma água e uma cerveja, pagou em dinheiro e foi embora logo após confirmar a presença da vítima no local. Segundo a polícia, isso reforça a tese de crime de mando.O coronel Alessandro Regys foi ouvido no inquérito em novembro, como investigado, após a viúva de Fabrício apontá-lo como suspeito. Em depoimento, ele negou qualquer tipo de ameaça, perseguição ou envolvimento com o homicídio. Segundo relato, a denúncia contra Fabrício foi feita por meios legais, com acompanhamento da polícia e do Judiciário. A familiar foi submetida a exames médicos, atendida em hospital infantil, ouvida em juízo e acompanhada formalmente durante todo o processo.Ainda conforme o depoimento, após o encerramento do caso judicial, nenhum contato foi mantido com Fabrício, e qualquer aproximação teria sido evitada. Ele afirmou que só voltou a ouvir falar da vítima anos depois, de forma indireta, ao saber por conhecidos que Fabrício estaria envolvido em problemas financeiros e investigações.O oficial também relatou ter tomado conhecimento, à época dos fatos, de outros indícios de comportamento de cunho sexual envolvendo Fabrício, inclusive por meio de informações de terceiros sobre armazenamento de material ilícito, desconfianças dentro da própria família da vítima e isolamento excessivo em uso de computador e celular durante a madrugada, fatos que também constam nos autos como elementos acessórios da investigação.Outras linhasA Delegacia de Homicídios também investiga duas outras linhas de motivação. A primeira é referente à Operação Speed Cash, que apurou lavagem de dinheiro, estelionato, movimentações financeiras ilícitas e possível ligação com organizações criminosas. O caso ganhou notoriedade pela ligação com o ex-secretário de Saúde de Goiânia Wilson Pollara. Fabrício era conselheiro da União Mais Saúde (UMS), associação suspeita de irregularidades em convênio com a pasta da Saúde na capital. Segundo a investigação da Polícia Civil, os investigados teriam distribuído R$ 10 milhões recebidos duas semanas após a assinatura do contrato com a pasta, em 15 de agosto de 2024. Outra motivação levantada pela polícia está relacionada com esquemas financeiros envolvendo criptomoedas. De acordo com os investigadores, o empresário teria passado a operar nos últimos anos, com promessas de altos rendimentos por meio de aplicações em criptoativos, atraindo investidores e movimentando valores expressivos. A apuração indica que Fabrício mantinha relações comerciais conflituosas, acumulava dívidas significativas e teria deixado prejuízos a diversas pessoas, algumas delas com histórico de atuação no submundo financeiro. Há relatos de investidores que não teriam conseguido reaver os valores aplicados, além de indícios de que parte do dinheiro circulava por meio de carteiras digitais de difícil rastreamento. Em nota, a Polícia Militar informou que a Corregedoria acompanhou integralmente o cumprimento dos mandados judiciais relacionados à investigação conduzida pela Polícia Civil. A Instituição permanece à disposição das autoridades competentes e cumpre rigorosamente todas as determinações legais e judiciais.A defesa de Tiago Lemes afirmou que vai se pronunciar nos autos do processo. Já a defesa de Leneker Oliveira “destaca a total ausência de provas mínimas de autoria delitiva em relação ao cliente, tratando-se de meras ilações desfundamentadas”..