Indiciado por ajudar Lázaro Barbosa de Sousa em sua fuga, o proprietário rural Elmi Caetano Evangelista, de 73 anos, deu sua versão para os fatos pelo qual é acusado em depoimento na audiência de custódia realizada após sua prisão no dia 24 de junho e negou qualquer envolvimento com a fuga de Lázaro, procurado desde o dia 9 após a chacina de uma família em Ceilândia (DF).Elmi afirmou à juíza que sempre deixou a polícia entrar em sua chácara, que chegou a abordar o titular da Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO), Rodney Miranda, em um sábado de manhã para alertar sobre algumas situações estranhas identificadas em sua propriedade, que se irritou com a forma como os policiais andavam pela sua propriedade, causando pequenos estragos, e que é uma pessoa brincalhona e por isso gritava na frente do caseiro como se estivesse chamando Lázaro para almoçar, conforme relatado pelo caseiro em seu depoimento.Na fala que durou pouco mais de 21 minutos, Elmi foi questionado pela juíza Luciana Oliveira de Almeida Maia da Silveira e pela promotora Gabriela Starling, ambas de Cocalzinho, e por advogados, o dele e o do caseiro Alain Reis de Santana, de 33 anos, a quem o dono da chácara chamou de uma pessoa “muito trabalhadora, muito honesta”.Em um determinado momento, ele diz que a “perdição” dele foi não ter pedido, em um dia no qual policiais visitaram pontos de sua chácara para instalar câmeras, que colocassem uma na sede principal. “Esqueci de pedir para colocar lá em casa. Minha perdição foi isso, porque se eu tivesse colocado a gente teria sabido se era ele ou outra pessoa.”Prisão por ajudar Lázaro BarbosaO dono da chácara foi preso um dia depois de ter se recusado a deixar uma equipe da força-tarefa criada para capturar Lázaro entrar em sua casa e ter, segundo relato dos policiais, tratado com rispidez e grosseria os agentes. Na tarde seguinte, novas equipes estiveram na propriedade, encontraram o caseiro na cerca a alguns metros da casa principal e dizem terem visto um vulto na janela e depois correndo em direção a um milharal.Alain admitiu depois que o vulto era Lázaro e que ele ficou escondido no quarto com uma arma enquanto os policiais conversavam com ele na cerca. No depoimento prestado na delegacia, o caseiro contou que o patrão conhecia o fugitivo, que a mãe e o tio de Lázaro trabalharam no local num período e que Elmi chegou a ajudar financeiramente a família quando o fugitivo esteve preso, em 2018.Polícia indicia dono de chácara por ajudar Lázaro BarbosaO indiciamento de Elmi por ajudar Lázaro entre os dias 18 e 24 de junho lhe dando abrigo e tentando despistar a polícia foi arrolado nesta terça-feira (29) ao processo que tramita na Justiça após a prisão do dono da chácara, que fica no distrito de Girassol, em Cocalzinho de Goiás. Após a chacina, o fugitivo conseguiu driblar o cerco policial até o dia 28, quando foi localizado em um bairro de Águas Lindas a 14 quilômetros da propriedade onde seu vulto foi visto quatro dias antes. Nesta ocasião, ele foi abordado por equipes policiais e morto após, segundo os policiais, ter atirado na direção deles.Elmi relatou na audiência pelo menos três ocasiões em que deixou as equipes da força-tarefa em sua chácara, sendo que em uma delas “eles andaram lá tudo, encheram de viatura”, pegaram o Alain e o levaram até um bairro próximo onde ele morava com a família e depois o levaram de volta. Em outra ocasião, um major o acompanhou até uma barragem e olhou vários pontos para instalar câmeras escondidas que pudessem flagrar Lázaro, caso ele passasse pelo local.Foi a partir desta visita, segundo ele, que a irritação com os policiais começou. No dia seguinte, mesmo tendo combinado deixar uma chave em um local específico para eles entrarem caso necessário, diz que encontrado o local com a cerca amassada, uns cadeados arrebentados e animais soltos. Ele disse que não tinha como saber se foram policiais ou o próprio Lázaro, mas que aquilo o aborreceu.O POPULAR registra fazendeiro tentando despistar forças policiais durante buscas por LázaroO dono da chácara também deu sua versão para o encontro que teve, por acaso, com Rodney em frente à propriedade. O momento foi presenciado pela equipe do POPULAR. Segundo ele, pela manhã, ele descobriu que tinha um problema estranho na bomba, que teria sido provocado por terceiros e encontrou algumas coisas mexidas na casa. Nem ele nem Alain passam a noite no local, mesmo antes da fuga de Lázaro. Ele pediu para o caseiro tentar arrumar o que fosse possível e subiu para a estrada de terra para procurar alguma viatura. Passou primeiro uma da PM, que não parou, e depois chegou a descaracterizada na qual estava o secretário. “Foi muito gentil comigo”, contou.Elmi teria dito a Rodney sobre a bomba, sobre ter encontrado um copo de leite e alimentos mexidos e que o secretário mandou uma viatura que chegou naquele momento com quatro policiais acompanharem Elmi, o que foi feito em seguida. “Falei para ele (o secretário) que pode ser os ladrão que já me roubou ou pode ser o Lázaro, falei desta maneira para ele.”O próprio Rodney falou sobre esta conversa em entrevista ao podcast do Fantástico, da Rede Globo, no último domingo. O encontro foi em 19 de junho, um sábado, um dia depois de Lázaro começar a frequentar a chácara, conforme depoimento de Alain. “Ele é um estelionatário, uma pessoa complicada”, disse o secretário em entrevista.Leia também:- Lázaro teria criado perfil falso nas redes sociais mesmo em fuga- Lázaro Barbosa morre após confronto policial em Goiás- Caseiro suspeito de ajudar Lázaro Barbosa é solto- Operação de buscas a Lázaro Barbosa custa 1,6 milhão em horas extras- Quem foi Lázaro Barbosa? Foragido desafio policiais em Goiás e Distrito FederalNa tarde em que teria evitado a entrada de policiais, um dia antes da sua prisão, Elmi conta que eles queriam acampar no local, mas que naquele momento específico estava mexendo com as galinhas e pediu para esperarem do lado de fora. “Eu falei se eles podiam esperar lá fora que eu ia mexer aqui com as galinhas ia deixar as portas abertas e eles podiam fazer o que quiser, e aí eu peguei o carro e fui embora. E não vi eles.”Em depoimento na delegacia, um dos policiais que estava neste dia conta que Elmi teria dito que os policiais não sabiam trabalhar e que não deixaria entrar na propriedade, mas de forma definitiva. Não foi questionado mais detalhes sobre isso na audiência.Relação com a família de Lázaro BarbosaO dono da chácara também falou para a juíza sobre sua relação com a família de Lázaro. Afirmou que o tio dele trabalhou na chácara por um tempo até arranjar um emprego melhor, mas ao sair indicou a mãe de Lázaro, que se mudou para lá com o marido dela e o filho. Eles teriam morado por 4 meses lá, mas segundo Elmi eram muito ruins de serviço e foram dispensados.Sobre o áudio que a imprensa divulgou dele afirmando que o fugitivo estava escondido no quarto que a mãe dormia ou das vezes que chamou Lázaro para almoçar na frente de Alain, disse que é uma pessoa que gosta de fazer brincadeiras assim e já recebeu broncas por isso da esposa. Também disse que o áudio foi enviado para um grupo de Whatsapp no qual “falam muita besteira”.O depoimento de Elmi durante a audiência – na delegacia ele se recusou a falar - não fez a juíza mudar de ideia em relação ao pedido feito pela polícia e corroborado pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) mantendo sua prisão. Já em relação a Alain, a juíza concedeu a liberdade dele no dia 25, por entender que ele agia por medo e intimidado e que estava colaborando com as investigações.