Atualizada em 20.06 às 12h49.O indígena e estudante do 5º período de Pedagogia na Universidade Federal de Goiás (UFG), Hilário Ab Reta Awe Predzawe, de 43 anos, morreu nesta quinta-feira (18) por conta do novo coronavírus (Sars-Cov-2). Ele morava na Aldeia Xavante Nossa Senhora de Guadalupe, em Barra do Garças, no Mato Grosso, na divisa com Goiás.A informação foi confirmada pela coordenadora do Distrito Sanitário Especial Indígena Xavante (DSEI) de Barra do Garças, Luciene Gomes, que disse ainda que Hilário tinha comorbidades que contribuíram para o agravamento do estado de saúde dele. Até a última atualização desta reportagem, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) ainda não havia informado quantos casos confirmados da doença existem na comunidade indígena que Hilário morava. Segundo apuração feita pelo POPULAR, Hilário deu entrada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Barra do Garça e após o médico solicitar uma tomografia dos pulmões ele foi transferido para o Hospital e Pronto Socorro Municipal Milton Pessoa Morbeck, onde teria dado entrada direto na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) destinada para pacientes com o novo coronavírus (Sars-Cov-2) e morreu na madrugada de quinta-feira (18). Ele já foi enterrado e deixa mulher, cinco filhos e três enteados.A secretária de saúde de Barra do Garças, Clenia Monteira Silva Ibrahin, através de mensagens, informou que o caso deve ser tratado junto com a Saúde Indígena. No entanto, ela não respondeu se Hilário ao ser internado na UPA e depois transferido ao Hospital, que são geridos pelo município, foi submetido a algum exame para o novo coronavírus.Em nota, a UFG lamentou a morte de Hilário, que era aluno da instituição através do UFGInclui. “A Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae), a Coordenação de Inclusão e Permanência (CIP) e a Coordenação de Ações Afirmativas (Caaf) desejam força e superação para os familiares, parentes e colegas de curso”, comunicou a Universidade. SaudadeNo Facebook, a escola que Hilário dava aulas e trabalhava com intérprete em Goiânia lamentou a morte do colaborador. “Hoje o dia está cinza! Perdemos um amigo, um companheiro de trabalho”, diz um trecho da publicação.Hilário era conhecido pelos colegas de turma como um homem calado, tímido, mas digno. “Lembro dele no dia da matrícula. Falava muito mal nossa língua e não se aproximou muito de ninguém. Com o passar do tempo ele começou a confiar na gente e viramos amigos”, explica a colega de Hilário, Raysa Carvalho, de 32 anos.Uma das colegas de Hilário, Dorany Mendes, de 28 anos, o homenageou nas redes sociais. Em uma publicação no Facebook ela comentou como foi difícil e angustiante receber a notícia da morte do amigo e lidar com o fato de que não irá mais encontrá-lo. "É uma pena Hilário. É uma pena que você tenha ido embora. Você ia se orgulhar de ver hoje todos os professores reunidos emocionados falando do quanto aprenderam com você, nas mínimas coisas. Todos os nossos amigos, a sua, a nossa turma C que o tem em alta estima", diz um trecho da publicação. No texto, a amiga de Hilário ressaltou as dificuldades que o amigo passou para conseguir ter acesso à educação. "Esteja em paz meu querido. Nos ajude porque a luta aqui continua. A luta aqui é agora mais do que nunca por você. Te amo", escreveu.Ela conta que o indígena era muito reservado. “Ele não costumava falar dos problemas dele. Uma vez cortaram a bolsa dele e ele ficou sem condições de permanecer em Goiânia e voltou para a aldeia. Foi quando nós nos juntamos e arrecadamos um dinheiro para que ele pudesse voltar para capital para estudar. Então, ele veio junto com um dos filhos. Com o tempo ele arrumou um emprego na escola que o filho estudava e as coisas se ajeitaram. Entretanto, ele sempre teve uma vida simples e difícil”, relata.Raysa diz que assim que as aulas foram suspensas, Hilário não quis voltar para a aldeia pois tinha medo que as atividades acadêmicas retornassem e ele estivesse longe. “Ele decidiu ir embora depois que soube que a família dele não estava acreditando que o vírus existia. No dia 19 de abril, ele foi para o Mato Grosso para poder avisá-los sobre a gravidade da doença”, enfatiza.Ela afirma que continuou tendo contato com o amigo durante o período que ele estava na comunidade. “Não paramos de trocar mensagens e uma das últimas foi sobre o retorno das aulas através da internet. Estávamos lutando para não acontecer, pois da aldeia ele não teria acesso. Nos últimos dias, ele começou a relatar que estava passando mal, mas afirmou que não era Covid-19 e que estava fazendo um tratamento indígena para cura”, explica.Rayssa conta que todos os colegas que estudavam com Hilário estão bastante abalados. “Todo mundo está muito triste. Ele era uma pessoa excepcional. Muito esforçado e apaixonado pela cultura dele. Ele tinha muito orgulho de ser Xavante. Saber que na volta às aulas ele não vai estar lá, é muito difícil”, esclarece.