Autoridades municipais de Saúde de Goiânia devem receber ainda esta semana um alerta de pesquisadores do Instituto de Química (IQ) da Universidade Federal de Goiás (UFG) sobre o aumento da carga de coronavírus (Sars-CoV-2) na rede de esgoto da capital. Desde o dia 18 de agosto do ano passado não havia uma concentração tão alta do vírus no sistema, um aumento crescente constatado a partir da penúltima semana epidemiológica de 2021. Os estudos mostram que é preciso se preparar para o crescimento da demanda de testes e leitos hospitalares. Uma nova rodada de análises testes está marcada para esta quinta-feira (20).“O número de casos está explodindo e vai piorar. É preciso preparar o sistema de saúde para mais testes e maior número de leitos”, afirma a coordenadora do estudo, a professora doutora Gabriela Duarte. Segundo ela, o que chamou a atenção da equipe de pesquisadores é a tendência de elevação dos números observada desde o final do ano. A UFG participa da Rede Vírus MCTI, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, um comitê de especialistas criado em 2020 que estuda medidas estratégicas de combate a viroses emergentes.A análise do comportamento do Sars-CoV-2 na rede de esgoto de Goiânia, em amostras coletadas na ETE Dr. Hélio Seixo de Brito, no Setor Goiânia 2, vem sendo realizada pela equipe coordenada por Gabriela Duarte desde maio de 2021. Os boletins semanais são encaminhados à Rede Vírus MCTI. Em Goiânia, os dados apurados entre o final de outubro e o início de dezembro mostraram inexistência de carga viral no esgoto, dando a impressão de abrandamento da pandemia. Entretanto, do Natal para cá, a evolução é espantosa, levando os pesquisadores da UFG a acreditar na piora do cenário.Gabriela Duarte, à frente do Laboratório de Biomicrofluídica do IQ/UFG, sente no cotidiano o agravamento da situação. Com vários integrantes de sua equipe com Covid-19, ela está com sobrecarga de trabalho e pessoalmente tem realizado dezenas de testes para diagnosticar a doença, tanto dentro, quanto fora da UFG. Ela foi responsável pelos estudos que levaram ao teste RT-LAMP, que detecta o RNA do coronavírus, um diagnóstico molecular rápido e de baixo custo. A tecnologia já é utilizada pelo Hospital das Clínicas da UFG e outros laboratórios de Goiânia. A análise da concentração do Sars-CoV-2 em águas residuais da capital é a continuidade da pesquisa.Gabriela Duarte teme uma grande concentração do RNA do coronavírus no esgoto da capital a partir da coleta desta semana. “Embora tenhamos verificado uma tendência de aumento nas últimas análises, as chuvas dos últimos dias diluíram, mas agora, com a estiagem, esse quadro deve mudar, e para pior.” A ETE Dr. Hélio Seixo de Brito, sob a responsabilidade da Saneago, recebe 70% do esgoto de Goiânia. Dois pesquisadores da companhia estatal, Felipe João Carvalho Filho e Carlos dos Santos, integram a equipe de estudiosos coordenada pela professora da UFG.O protocolo utilizado pelo grupo, do qual também fazem parte as professoras Andréa Fernandes Arruda, Núbia Natália de Brito e os alunos de pós-graduação Paulo Felipe Neves Estrela e Geovana de Melo Mendes, foi desenvolvido pelo professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), Rodrigo de Freitas Bueno, vinculado ao Laboratório de Tecnologias de Tratamento de Águas Urbanas Servidas e Reuso de Água (LabTAUS). Rodrigo de Freitas também criou o modelo de boletim divulgado na Rede Vírus MCTI.Pesquisa passou pelo crivo do CNPqO estudo “Desenvolvimento de testes moleculares rápidos e de baixo custo baseados em Lamp para diagnóstico da COVID-19 no point-of-care” foi um dos quatro da UFG aprovados em 2020 pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para enfrentamento da pandemia de Covid-19 e suas consequências. Na época, foram destinados à instituição mais de R$ 3 milhões para a execução dos quatro projetos, três deles coordenados por mulheres. Após o desenvolvimento dos kits inovadores para testes moleculares rápidos para diagnóstico de Covid-19, a mesma metodologia passou a ser aplicada para monitorar amostras ambientais, como matrizes aquosas, água e esgoto, contaminadas pelo vírus Sars-CoV-2, que possui potencial para sobreviver e continuar infectando por vários dias. Outras duas agências de fomento participam do estudo: a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) e o Ministério Público do Trabalho (MPT).