O número de pessoas infectadas por Covid-19 em Anápolis pode ser 60 vezes maior do que o confirmado por meio de testagem até o momento na cidade. Inquérito sorológico feito pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) aponta que 30.179 pessoas já teriam desenvolvido anticorpos para o novo coronavírus (Sars-CoV-2), o que representa 7,8% da população total. Oficialmente, Anápolis tem 503 casos confirmados da doença, de acordo com boletim epidemiológico divulgado nesta segunda-feira pela prefeitura.O porcentual da população contaminada chama a atenção das autoridades e profissionais de saúde envolvidos nas estratégias de combate ao novo coronavírus em Goiás porque é bem maior do que o constatado em outros inquéritos já realizados, como em Goiânia e Goianésia. Na capital, cuja coleta das amostras foi feita no dia 30 de maio, o resultado ficou em 1%. O de Goianésia – que ainda não foi divulgado oficialmente - ficou um pouco acima. As amostras em Anápolis foram recolhidas entre os dias 27 de maio e 6 de junho.Três fatores podem ser apontados como causas para esta alta prevalência do vírus em Anápolis: o começo precoce da transmissão comunitária (quando não é possível detectar a origem da contaminação), o baixo índice de isolamento social verificado na cidade e a presença de empresas com grande fluxo de funcionários. Situação semelhante à registrada em Rio Verde, onde se descobriu pelo menos 2.571 pessoas com Covid-19 após testagem em larga escala nas indústrias locais.A gerente de Vigilância Epidemiológica da SMS de Anápolis, Mirlene Garcia, diz que a maioria dos casos detectados no inquérito é de pessoas assintomáticas ou que não apresentaram os sintomas clássicos que levam à internação, como febre, tosse e falta de ar. Ela comentou que houve muitos casos em que os identificados com anticorpos apresentaram uma forte dor de cabeça ou sintomas de sinusite e até mesmo diarreia combinada com alguma outra característica.Para Mirlene, um dos focos de contágio está nas empresas com concentração de funcionários. Isso pelo perfil dos infectados, que teria relação com o local de trabalho. É uma situação semelhante à de Rio Verde, onde acredita-se que as indústrias podem ter sido pontos de contágio da doença pelo volume de pessoas que precisavam atuar dentro das instalações simultaneamente.A gerente também destaca o fato de Anápolis ter detectado mais cedo do que em outras cidades o começo da transmissão comunitária. Enquanto em Goiânia, por exemplo, isso começou quando já havia mais de 15 casos confirmados, no fim de março, em Anápolis a primeira notificação por este tipo de contaminação foi no dia 2 de abril, no quinto paciente internado por Covid-19, um homem de 62 anos. Ao contrário dos casos importados, de pessoas que chegam de outras cidades, a comunitária é mais difícil de controlar, principalmente considerando que a política de testagem adotada no Estado envolve só os casos graves de internação. Conforme O POPULAR apurou, desde a situação de Rio Verde, aumentou a pressão nos municípios para se mudar a política de testagem e aumentar a gama de pessoas a ser avaliadas.Isolamento baixoOutro ponto destacado pela servidora é o baixo índice de isolamento social na cidade, que chegou a 30,7% no dia 5 de junho, segundo dados repassados à reportagem pela empresa In Loco, que faz monitoramento por geolocalização. Nos dias úteis o índice em Anápolis tem ficado entre 33% e 35%, em média. Dos municípios com mais casos, conforme já mostrou O POPULAR, Anápolis é um dos que estão em pior situação neste quesito. Cerca de uma semana após a flexibilização das medidas restritivas pelo governo estadual, em 19 de abril, a prefeitura foi além e afrouxou mais as regras, liberando, por exemplo, abertura de bares e restaurantes.Mirlene destaca a forma como foi realizado o levantamento, explicando que todas as amostras foram analisadas em laboratório e que as coletas foram feitas conforme protocolos definidos pelo governo estadual e pela Universidade Federal de Goiás (UFG), que estão subsidiando o planejamento dos inquéritos municipais pelo Estado. “Fomos bem criteriosos”, disse.A gerente diz que o resultado mostra um aspecto positivo, pois a proporção de pessoas internadas é bem menor, mas também emite um alerta pois não se sabe o impacto que pode ter um alto nível de incidência do vírus, principalmente no ritmo de transmissão. O resultado do inquérito, por mostrar só quem já desenvolveu anticorpos, é um retrato de 10 a 15 dias atrás. Não se sabe quantas pessoas contraíram o vírus destes casos encontrados nem quantas pessoas podem estar, atualmente, com o vírus. Em Rio Verde, foram feitos testes chamados rt-PCR, que detectam o vírus, então é possível dizer que pelo menos 2 mil pessoas estão hoje infectadas.Atualmente, Anápolis tem apenas 16 dos 48 leitos de UTI para Covid-19 ocupados e 15 dos 55 de enfermaria. Do total de leitos, 68% são da rede municipal, enquanto 61% dos pacientes estão na rede estadual por serem em boa parte moradores de cidades da região. Está previsto para começar no dia 20 um segundo inquérito, como o mesmo volume de amostras, para se confirmar os resultados do primeiro levantamento e aprofundar o conhecimento sobre o avanço da Covid-19 na cidade.