O Jornal do Tocantins, do Grupo Jaime Câmara, revelou com exclusividade os depoimentos prestados pelo aposentado Manoel Soares da Silva, 67 anos, e seu filho, o auxiliar de produção Edson Marinho da Silva, de 37 anos ao delegado plantonista José Lucas Melo da Silva. Os dois são negros e prestaram depoimento ao delegado por videoconferência da Secretaria da Segurança Pública (SSP). Silva estava na DP regional em Paraíso e os dois na delegacia em Miracema, para onde foram levados após o tiroteio que atingiu o policial Anamon Rodrigues de Sousa, 38 anos, que acabaria morrendo depois. A PM afirma que o militar estava no local em uma “levantamento de inteligência” para uma operação militar no dia seguinte. Ao depor, Edson conta ao delegado que trabalhava o auxiliar de produção há cinco anos em Miranorte e jamais havia preso ou que responda processo judicial. Na versão dele, que morava próximo à casa dos pais, teria ouvido tiros e correu para o local, mas acabou sendo atingido na perna esquerda. Segundo a versão dele, os tiros eram disparados por pessoas que estavam em um matagal próximo à casa dos pais. Segundo ele, vizinhos teriam visto um carro escuro parado perto da mata de onde vinham os tiros. Como foi o primeiro a ser baleado, foi levado para o hospital e não viu o restante da confusão. Do hospital, acabou sendo levado para a delegacia. Ele disse negou conhecer o policial morto nem o viu sendo atingido e contou sobre a vida criminosa do irmão, que teria saído da cadeia em razão da saúde. Como o JTo mostrou, Valbiano tinha uma colite ulcerativa, tipo de doença inflamatória intestinal que alcança a camada interna do cólon e do reto e tentava se aposentar como portador de deficiência. Segundo Edson, o irmão sofreu várias tentativas de morte. “Várias vezes, pessoal de facção, por sorte não acertaram ele”, afirma ao delegado. Ele diz a José Lucas que o irmão Valbiano nunca comentou sobre quem desejava matá-lo. Uma dessas tentativas, de acordo com o depoimento, o irmão chegou a ser atingido e o autor do disparo seria alguém conhecido como "Alanzinho" que também já morreu. Ao final do depoimento ele pede para passar a noite na delegacia. “Quero permanecer aqui eu não tenho como chegar em casa”. Ele justifica o pedido alegando que já era tarde e todos em casa estavam preocupados, por isso, queria esperar “até amanhã, mais calmo um pouquinho”. Confira o depoimento de Edson Marinho Pai revela medo do filho como motivo para ter assumido propriedade da armaO aposentado Manoel Soares da Silva começa seu depoimento falando de sua aposentadoria, de ter “trabalhado muito em roças e firmas” e confessa ao delegado que a arma, uma espingarda calibre 20, pertenceria ao filho Valbiano, morto naquela noite, na residência. Na hora da confusão, segundo narra o pai, o filho teria colocado a arma dentro da casa. "Ele estava com ela (a espingarda) do lado de fora, doutor", afirma no trecho do depoimento. Manoel revela medo do filho. "Se eu falasse para a polícia que a arma era dele eu iria ver o que que ia acontecer comigo. E eu sou uma pessoa de idade, eu tenho medo de apanhar, de ser machucado". Ele diz ao delegado por pelo menos duas vezes, que não sabia que o filho tinha a arma. O delegado insiste: "O senhor não sabia da existência dessa arma lá, não?". O idoso primeiro nega: "Não, de jeito nenhum". Depois complementa, que soubera da arma uns cinco dias antes, quando ele e a esposa teriam repreendido o filho. "Aí eu brigava, tanto eu como a minha senhora, brigava com ele, e ele era muito rebelde e nós tinha (sic) um pouco de medo dele". O delegado lhe indaga se ele assumiu a propriedade da arma aos policiais que revistaram a casa. "Falei. Porque se eu não falasse que era minha, depois ele iria querer me ofender, quando o policial saísse, mas eu iria descobrir quando chegasse aqui que a arma era dele".Chacinados dentro da delegaciaPai e filho passaram a noite na delegacia. Por volta das 6h29 de sábado, de acordo com o Boletim de Ocorrência de nº: 00010003/2022, cerca de 15 encapuzados com revólveres e rifles invadiram a 10ª Central da DP de Miracema, renderam o agente e a escrivã e executaram Manoel Soares e Edson Silva, "os quais haviam passado a madrugada na Delegacia em virtude de terem sido conduzidos e posteriormente liberados, mas estavam aguardando o dia amanhecer para irem para casa em segurança", segundo narra o agente, no boletim. Confira o depoimento de Manoel de Sousa Silva.Leia o que o JTo publicou sobre o casoSargento da PM morre ao ser baleado em troca de tiros com criminosos em Miracema Quinze homens armados invadem delegacia em Miracema e matam pai e filho suspeitos de morte de PMViúva de lavrador morto em delegacia diz que marido era evangélico, se sente ameaçada e com medo