-Imagem (Image_1.1813583)Unidade estadual de saúde pública de referência para doenças infecciosas e dermatológicas, com mais de 10 mil pacientes cadastrados, o Hospital Estadual de Doenças Tropicais Dr. Anuar Auad (HDT) passa por dificuldades em decorrência do atraso de repasses do governo de Goiás à organização social (OS) responsável por sua gestão. Cerca de R$ 23 milhões não chegaram aos cofres do Instituto Sócrates Guanaes (ISG) desde o início do segundo semestre de 2018.Presidente do Conselho Local de Saúde do HDT, do Centro Estadual de Atenção Prolongada e da Casa de Apoio Condomínio Solidariedade, Samara Natacha Borges Gonçalves de Melo confirma ao POPULAR que a situação no HDT é preocupante. “Há salários atrasados de médicos, falta estoque de insumos e medicamentos e os fornecedores não irão mais fazer entregas até sanar as dívidas”, comenta. Segundo ela, o hospital está com superlotação, não vem realizando cirurgias eletivas e há pacientes nos corredores.O assunto tem sido discutido sistematicamente nas reuniões do conselho às terças-feiras e nesta terça-feira (4) foi tema de debate no Conselho Estadual de Saúde. Os R$ 23 milhões, como adianta Samara, são correspondentes aos meses de julho, setembro, outubro, novembro e dezembro de 2018 e janeiro de 2019. Segundo ela, o volume não repassado à OS, de acordo com contrato assinado entre ISG e Secretaria Estadual de Saúde (SES), está impactando em atividades básicas, como serviços de lavanderia.O depoimento de um paciente de 41 anos que começou o tratamento no HDT em 2007 revela a queda na qualidade do atendimento. “Quando comecei tínhamos consulta de dois em dois meses, acompanhamento completo, exames e acesso a outras especialidades. A última vez que procurei a emergência esperei quatro horas e não consegui ser atendido. Alegando superlotação, o médico me pediu para procurar um posto de saúde”. Hoje, segundo o mesmo paciente, as consultas ocorrem uma ou no máximo duas vezes ao ano.Coordenadora da Associação Grupo Aids: Apoio, Vida, Esperança que há 24 anos trabalha com pessoas soropositivas em Goiás, a irmã Margareth Hosty está preocupada. Segundo ela, há muita reclamação sobre dificuldades no atendimento e para fazer exames no HDT, além da falta de medicamentos para doenças oportunistas. “Uma coisa que pode parecer simples, mas é complicado para quem é pobre são os telefones nunca atendidos para marcar ou desmarcar exames e consultas”.As irmãs Lúcia, de 29 anos, e Leila, de 27, (nomes trocados para proteger a identidade de ambas) pacientes do HDT desde o início da infância após contrair o vírus HIV por transmissão vertical, temem o fechamento da unidade. “Estamos ouvindo isso a o todo momento. Depois que a OS entrou ficou muito mais difícil. Antes o atendimento era mais humanizado”, comenta a mais velha das irmãs.Presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde no Estado de Goiás, Flaviana Alves Barbosa revela que no final de abril a entidade foi acionada em decorrência do atraso no pagamento de salários. “A SES fez um depósito e o problema foi parcialmente solucionado, mas quem ganha acima de R$ 5 mil ainda não recebeu o 13º salário todo. A OS fez um parcelamento de seis vezes”. SES diz que não pode pagar dívida de imediatoO HDT existe desde 1977 como unidade da SES, resultado das fusões dos antigos hospitais públicos Oswaldo Cruz e do Pênfigo. Desde 2012 é gerido pelo ISG. Em nota, a SES informa que trabalha para manter os repasses referentes ao ano de 2019 às OSs responsáveis pela gestão das unidades públicas estaduais. “O objetivo é realizar o pagamento dos valores no mês subsequente ao trabalhado”.Conforme a SES, este ano foram repassados ao ISG cerca de R$ 23 milhões, dos quais R$ 2.742.082,73 são referentes a pagamentos de 2018, deixados pela antiga gestão da pasta estadual da Saúde. No dia 30 de maio foi realizado outro repasse de R$ 2.839.734,17 à OS, valor que, segundo a SES, é referente à competência do mês de maio de 2019.A SES não nega a dívida, que chama de “débitos herdados”, mas enfatiza “que é totalmente impraticável arcar, em tão pouco tempo, com dívidas de meses ou anos, apesar de todo empenho para angariar recursos junto ao governo federal, a fim de reequilibrar as finanças ao longo desta gestão”.Diretor geral do HDT, Moisés Wanderley, confirma ao POPULAR a irregularidade dos repasses por parte da SES, mas ameniza a situação. “O Governo de Goiás vem saldando os pagamentos com a unidade”, diz em nota. Segundo ele, não há limitação de leitos na unidade que são disponibilizados conforme demanda da Central de Regulação de Vagas de Goiânia. E em relação à denúncia de acomodação de pacientes no corredor, o diretor garante que “esta não é a realidade do hospital”. Moises Wanderley explica que os procedimentos cirúrgicos realizados na unidade são exclusivamente emergenciais. Quanto à denúncia da falta de insumos, o diretor diz que “todos os itens de materiais e medicamentos da grade do hospital estão garantidos pelo giro de estoque praticado pelo setor de suprimentos. A unidade ainda tem, inclusive, auxiliado outras unidades de saúde da rede com empréstimos pontuais”.