A primeira filha da consultora Nara Nazareth da Silva Barbosa, de 36 anos, ainda no ventre da mãe, com 28 semanas, já enfrenta uma batalha pela vida. Há cerca de um mês, Helena foi diagnosticada com Tetralogia de Fallot, um problema grave no coração. Após orientação médica, a gestante, que reside em Senador Canedo, Região Metropolitana de Goiânia, foi para São Paulo, onde pretende ficar por dois meses para o tratamento e o parto.Acompanhada do pai de Helena, o empreendedor Itabira Ferreira da Silva, de 34 anos, Nara buscou o Hospital da Beneficência Portuguesa, especializado em casos do tipo. As consultas com os especialistas na capital paulista foram pagas de forma particular. Nara diz que somente os exames foram feitos pelo plano de saúde. “Tive de fazer exames genéticos e específicos para saber do caso da minha filha. Helena provavelmente vai precisar de uma cirurgia paliativa nos primeiros dias de vida, por isso a decisão de ficarmos em São Paulo”, pontua.O parto está previsto para o intervalo entre os dias 4 e 10 de dezembro deste ano, e um advogado foi contratado para dar suporte à família nas negociações com o plano de saúde. “Sozinhos não conseguiríamos arcar com as despesas. Até hoje não temos uma aprovação formal do plano (para o parto e outros procedimentos). Mas estamos em negociação e estamos confiantes para que dê tudo certo”, relata Nara.Além da cardiopatia, Helena também está com restrição de crescimento, e por isso o casal realiza uma ação de arrecadação de dinheiro para ajudar a cobrir parte dos gastos. “A ‘vaquinha’ não é para cirurgia, porque eu espero que o plano cubra. O objetivo da ação é ajudar nos gastos com consultas, exames que não são cobertos pelo plano de saúde, além das despesas judiciais, remédios, tratamentos, passagem, hospedagem e alimentação”, afirma.Até a tarde deste sábado (20), a ‘vaquinha’ havia arrecadado mais de R$ 17 mil, no entanto, longe do objetivo: R$ 45 mil. As doações podem ser feitas no endereço eletrônico http://vaka.me/2509904 ou pelo Pix: e-mail: naranbarbosa@gmail.com. Problema complexoA coordenadora do departamento de cardiologia da Sociedade Goiana de Pediatria, Mirna de Sousa, diz que a Tetralogia de Fallot é uma cardiopatia congênita que tem quatro defeitos: comunicação interventricular, estenose pulmonar, hipertrofia do ventrículo direito e dextroposição da aorta. “Nos casos mais complexos, tem a necessidade da cirurgia paliativa para jogar mais sangue no pulmão e outra cirurgia para correção do coração”, afirma.A coordenadora ainda relata que o diagnóstico no pré-natal e o acompanhamento adequado por meio de exames e especialistas ajudam na avaliação das cardiopatias congênitas. “Aqui em Goiás ainda temos um diagnóstico tardio. Por isso as famílias buscam a Medicina no Estado de São Paulo. Mas Goiás tem, há muito tempo, feito o tratamento das crianças com Tetralogia de Fallot”, pontua.O tratamento realizado de forma planejada é fundamental para um melhor acompanhamento e desenvolvimento dos casos. “São as crianças que chegam para a gente muitos anos depois do melhor momento cirúrgico. Aí todo o procedimento é mais arriscado, perigoso e os resultados são comprometidos”, afirma.A médica explica que o primeiro procedimento no recém-nascido é mais delicado, porém tem muito resultado positivo. “Eles conseguem dar continuidade (à vida) sendo pessoas saudáveis e longevas. A grande maioria dos adultos com cardiopatia congênita é a Tetralogia de Fallot”, afirma.A coordenadora ainda explica que um problema que o Brasil tem é uma deficiência na assistência em cardiopatia congênita. “A maior parte dos pacientes que precisa de uma cirurgia cardíaca, não recebe o atendimento. De cada cem bebês nascidos vivos, um tem cardiopatia congênita. E desses bebês, cerca de 25% precisam de cirurgia no primeiro ano de vida”, relata.Coração valenteO caso de Helena tem algumas semelhanças com a história de Elisa. Esta última foi diagnosticada com a síndrome do meio coração e o tratamento também precisou ser realizado no Hospital Beneficência Portuguesa. Após um vai vem na Justiça, em uma disputa da servidora pública Gabriella Castro Silva, de 30 anos, com o Instituto de Assistência Médica dos Servidores do Município de Senador Canedo (Iamesc), a criança nasceu. Ela passou por cirurgia e foi para casa meses após o parto.(Joyce Vilela é estagiária do GJC em convênio com a PUC Goiás)