O Brasil pode zerar emissões líquidas de gases do efeito estufa até 2040, revela estudo de pesquisadores brasileiros lançado na semana da Cúpula dos Líderes da COP30, em Belém. Ele foi idealizado pelo Instituto Amazonia 4.0 e financiado pela Sequoia Foundation e pela Rockefeller Brothers Foundation.

O País tem compromisso, firmado em sua NDC – sigla em inglês que significa “contribuição nacionalmente determinada”, a meta climática –, de neutralidade de emissões até 2050. Neutralidade significa que tudo o que um país emite é compensado de alguma forma, como pela absorção de gases-estufa por florestas, por exemplo. Em discurso na reunião do G20 ano passado, no Rio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) propôs que os países desenvolvidos do grupo antecipem as metas de neutralidade climática para 2040 ou 2045.

O estudo, do qual participam cientistas climáticos de renome, como Carlos Nobre, membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), aponta dois caminhos possíveis para a neutralidade – também chamada de “net zero”. Em um, a neutralidade é alcançada ao focar em agricultura, florestas e uso do solo. Nesse conjunto, entra o desmatamento e o agronegócio, responsáveis pela maior parte das emissões de gases-estufa brasileiras.

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Nesse ponto, vale mencionar que o Brasil, na última meta climática, fala em zerar o desmatamento e eliminar o desmate ilegal, mas não dá data para tal situação. Há anos, porém, Lula promete acabar com o desmatamento até 2030. Análise do Observatório do Clima, porém, aponta que o prometido e o que foi colocado na NDC não estão alinhados.

Segundo o estudo, para alcançar a neutralidade até 2040 seria necessário zerar a supressão de áreas nativas até 2030. Aqui vale mencionar que o desmatamento no Brasil não ocorre somente na Amazônia: o Cerrado vem sofrendo com a elevada derrubada de vegetação. Também seria necessário expandir o reflorestamento e a restauração de áreas naturais, além do incentivo à agricultura regenerativa.

Esse cenário focado em agro e florestas, segundo o estudo, é o mais sustentável e o mais realista. Nesse caso, seriam mantidas a produção e a exportação de petróleo. O governo Lula, assim como anteriores, não demonstra que abrirá mão da exploração dos combustíveis fósseis. Na Cúpula de Líderes, Lula, inclusive, disse ser válido que países em desenvolvimento direcionarem parte dos lucros com a exploração de petróleo para a transição energética.

A outra opção apontada tem exatamente no setor energético – incluindo, com isso, o petróleo – o ponto central para o Brasil chegar em 2040 com neutralidade de emissões. Esse cenário requer, porém, a descarbonização da indústria e do setor de transportes, um rápido declínio na demanda por petróleo e expansão de biocombustíveis e de energia renovável, e redução da exportação de petróleo e derivados. Há também menções à necessidade destacada de emprego de bioenergia com captura e armazenamento de carbono (Beccs) e fechamento de todas as refinarias nacionais que não operem com coprocessamento de biomassa.

Para a concretização desse cenário, também é levada em conta a eliminação do desmatamento ilegal até 2030. Também há necessidade de participação da agropecuária, com sistemas de alta produtividade e com um ganho na área total de vegetação nativa. A questão desse cenário é que exige a eliminação quase total de energias baseadas em combustíveis fósseis, como o petróleo, sendo assim tido pelo estudo como um cenário mais radical e tecnológico.

O documento diz ainda que o esforço para a neutralidade até 2040 exige investimentos inéditos, mas que tem potencial de criação de empregos verdes. Caso se concretize a neutralidade até essa data, dizem os autores, o Brasil se tornará um modelo internacional. O estudo ainda não foi entregue ao governo, o que deverá ocorrer em breve. Ele também será apresentado na COP30.

Brasil tem potencial para zerar emissões de gases estufa até 2040, diz estudo

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Metas 

Dos 14 territórios de Goiás e da vivência da agricultura familiar, ligada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, surge a esperança de uma refundação territorial do Estado brasileiro. Ela não nasce de decretos, mas da recuperação do Oikos — a casa que sustenta a vida, onde o humano e o natural se reencontram na partilha da terra e da água.

O século 21 chegou ao limite de suas promessas. A COP-30, em Belém do Pará, marcará o instante em que a humanidade terá de admitir: o futuro não se decide nas cúpulas, mas nos territórios. Enquanto o planeta negocia metas, o Cerrado já ensaia a regeneração — não como discurso, mas como existência concreta e coletiva.

No coração do país, o Projeto Rede Arca de Agroecologia e Segurança Alimentar do Cerrado tornou-se uma das experiências mais sólidas de construção territorial de políticas públicas. Pelo Termo de Fomento nº 969638/2024 – MDA/Arca, no edital Da Terra à Mesa, o projeto reúne 14 territórios, 37 municípios e 24 organizações da agricultura familiar, cobrindo 75% do território goiano. Sob coordenação da Territórios Globais (TG), oficinas e diagnósticos viraram processo coletivo: as 17 Agendas Ambientais Territoriais, expressão de um pacto entre sociedade e natureza.

Essas agendas nasceram do chão e das veredas. São sínteses de cenários e futuro: transição agroecológica, recuperação de nascentes, reflorestamento produtivo, energia solar cooperada, sucessão rural, envelhecimento digno e inovação comunitária. Cada pauta é gesto político e horizonte possível — juntas, delineiam uma forma inédita de Estado enraizada na vida e sustentada pela cooperação solidária.

Esse movimento funda o conceito de federalismo biocêntrico — pacto em que o humano reconhece sua interdependência com todas as formas de vida. O Cerrado deixa de ser periferia e torna-se centro ético e político da regeneração nacional.

Nele, o Estado volta a ter chão: cada nascente é decisão, cada comunidade, governo. O país deixa de ser pirâmide e torna-se rede viva. A Rede Arca inaugura também uma pedagogia do território: mapear nascentes é compreender o mundo; planejar é cultivar e persistir.

O saber técnico e o popular se unem, criando uma inteligência pública que transforma planejamento em consciência e política em aprendizado. Enquanto o Norte global busca compensações financeiras, o Cerrado propõe reparação simbiótica e ética — regenerar a vida humana regenerando o ambiente.

Essa é a vanguarda ambiental que o Cerrado oferece à COP-30: projeto civilizatório baseado na reciprocidade entre natureza, trabalho e comunidade, onde o desenvolvimento se mede pela capacidade de cuidar e de criar alternativas locais sustentáveis, justas e solidárias.

O desafio agora é político: transformar as 17 agendas em políticas oficiais, instituir audiências ecológicas e consolidar uma federação que aprenda com a terra. Porque não há futuro sem território, e não há território sem cuidado — nem humanidade sem o Cerrado que ainda resiste e nos ensina a permanecer.

Carlos Osório, engenheiro florestal, especialista em Economia Política e doutorando em Ciências Geográficas.&nbsp;Coordenador de Projetos da&nbsp;Empresa Social Territórios Globais TG. Com: Maria Eugênia Guimarães, doutora em Ciências Sociais, e Alexandra Santos, doutora em Artes Visuais

Os artigos publicados não refletem a opinião de O POPULAR. Sua publicação obedece ao propósito de estimular e fomentar a diversidade e o debate de temas locais, nacionais ou mundiais.

Vanguarda do Cerrado na COP-30

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Carlos Osório

No final dos anos 1990, a Prefeitura de Goiânia decidiu pela implantação da Rua 85-A, conhecida atualmente como Avenida Cora Coralina, ligando a Praça do Ratinho, via Avenida 87, à Praça Cívica, como meio de reduzir o tráfego da Avenida 85, que naquela época teria um trecho de mão única. A construção contou com a implantação de uma “ampla galeria de águas pluviais para evitar <a href="https://opopular.com.br/cidades/veja-onde-est-o-os-mais-de-100-pontos-de-alerta-para-alagamentos-inundac-es-e-enxurradas-em-goiania-1.3333380" target="_self">alagamentos nas proximidades da Praça Cívica e do Fórum de Goiânia</a>”, conforme publicou O POPULAR na época. Já em 1998, havia uma preocupação da Prefeitura e moradores do Setor Sul com alagamentos “abaixo da Avenida 87 até as cercanias do Tribunal de Justiça”. A solução, porém, não demorou a se mostrar falha. Em 2004, há 21 anos, ocorria o primeiro alagamento registrado na própria Avenida 87.

Desde então, o problema se tornou recorrente e cada vez mais com maior risco aos transeuntes, ao ponto de, neste ano, a atual gestão ter informado que há um projeto para proibir o tráfego na Avenida 87 durante as chuvas. O motivo é conhecido. Segundo a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra), “o levantamento sobre o assunto, alinhado aos estudos do Plano Diretor de Drenagem Urbana (PDDU), em desenvolvimento pela parceria científica da Prefeitura com a Universidade Federal de Goiás (UFG), confirmam que o problema é geográfico e estrutural”. O primeiro se dá porque o local foi construído sobre o leito do Córrego Buritis, cujo curso d´água foi sendo ocupado já desde a década de 1930, quando da fundação da capital.

O córrego, descrito como de baixa vazão e intermitente, possui nascentes difusas, que criaram uma vereda de buritis (ou campo de murundus, como também é chamado), o que concedeu nome a ele. Sua nascente principal é localizada no Clube de Engenharia, da Rua 132 do Setor Sul, segundo o estudo “Subtração do Córrego Buritis no Espaço Urbano de Goiânia”, tese de mestrado da engenheira e arquiteta Fernanda Nogueira de Amorim Braga. A pesquisa explica também que a área de influência do curso d’água se dá desde a região mais alta do Setor Marista, nas proximidades da Alameda Ricardo Paranhos. Ou seja, toda área até o deságue no Córrego Capim Puba, no Setor Aeroporto, é o leito e sua área de influência pode ser alagada.

<ul style="padding-right: 0px; padding-left: 0px; margin: 0px 0px 5.5px 25px; color: rgb(0, 0, 0); font-family: &quot;Lucida Grande&quot;, &quot;Lucida Sans&quot;, geneva, arial, sans-serif; font-size: 11px;">
	<li>Confira mais detalhes sobre as medidas tomadas pela Prefeitura no g1 Goiás:&nbsp;<a href="https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2025/09/30/definidos-locais-de-bloqueios-e-de-instalacao-de-cancelas-automaticas-em-ruas-de-goiania-durante-chuva-veja-lista.ghtml" style="color: rgb(0, 136, 204); text-decoration-line: none;" target="_blank">Veja pontos de bloqueio e de cancelas automáticas em ruas de Goiânia durante as chuvas</a></li>
</ul>

O Córrego Buritis passa por locais como o Fórum de Goiânia, Bosque dos Buritis, Avenida Tocantins, Estádio Olímpico, região do antigo Bairro Popular e Setor Aeroporto, pela Avenida Oeste. Fernanda conta que a ocupação do córrego se deu já na década de 1930, em que se tem uma ordem de serviço datada de 23 de maio de 1936 para a instalação de manilhas no cruzamento do Córrego Buritis com a Avenida Tocantins, indicando as primeiras ações de infraestrutura que acompanharam o processo de construção da cidade. Na década de 1960, porém, as imagens na tese citada mostram ainda o córrego, inclusive com pinguelas usadas para os moradores cruzarem suas águas na região da Avenida 87.

Conforme a orientadora de Fernanda, a arquiteta e professora da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Sandra Pantaleão, a 87 é uma planície, onde já era comum que a água acumulasse no período chuvoso. A Seinfra esclarece que “o alagamento ocorre especificamente na Avenida 87 porque ela foi construída exatamente no talvegue — o ponto mais baixo do antigo leito do vale. Quando há <a href="https://opopular.com.br/clima/tempestades-devem-atingir-todas-as-cidades-de-goias-alerta-cimehgo-1.3334268" target="_self">ocorrência de chuvas intensas</a>, toda a água daquela microbacia escoa por gravidade para seu caminho natural, que hoje é o asfalto da Avenida 87. Não alaga ‘antes ou depois’ porque topograficamente, ali é o fundo da bacia”. Fernanda explica que é como se a 87 fosse um ponto de recarga do córrego, onde recebe água e aumenta a vazão.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/clima/tempestades-devem-atingir-todas-as-cidades-de-goias-alerta-cimehgo-1.3334268" style="font-size: 12px;" target="_self">Tempestades devem atingir todas as cidades de Goiás, alerta Cimehgo</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/veja-onde-est-o-os-mais-de-100-pontos-de-alerta-para-alagamentos-inundac-es-e-enxurradas-em-goiania-1.3333380" style="font-size: 12px;" target="_self">Veja onde estão os mais de 100 pontos de alerta para alagamentos, inundações e enxurradas em Goiânia</a> 
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A pesquisa aponta que a localização do Córrego Buritis entre dois outros córregos, Botafogo e Capim Puba, favoreceu a sua ocupação desenfreada, visto que havia planos para a preservação dos outros dois. “O córrego é uma barreira para a ligação dos bairros. E já tinham o Botafogo e o Capim Puba, em locais que eram bairros nobres. Havia já na década de 1960 o início do adensamento do Setor Oeste e, depois, do Setor Aeroporto. Mas ainda estamos pesquisando como foram as doações dessas áreas”, diz Fernanda. A professora Sandra comenta a curiosidade sobre a presença de equipamentos públicos ao longo do leito do córrego, como o Estádio Olímpico e o Fórum.

<h2>Estrutura</h2>

Até por isso, a via que liga a Praça do Ratinho à Praça do Cruzeiro se tornou o trecho crucial para a drenagem na região, ou seja, o local onde há a maior quantidade de tubulações e poços de visita na tentativa de evitar o alagamento do Córrego Buritis. Ao mesmo tempo, há subdimensionamento da rede atualmente, o que confirma o problema estrutural citado pela Seinfra. As obras de construção da Avenida Cora Coralina, finalizadas no ano 2000, foram as que construíram a atual estrutura, que ampliou a rede até o Córrego Botafogo, onde antes só havia a tubulação para a região do Lago das Rosas, que é leito do Córrego Capim Puba.

Na época, a arquiteta da então Secretaria de Planejamento, Kátia do Carmo, afirmou que “as águas pluviais são carreadas para o córrego, que não suporta o volume despejado, e a drenagem passa a ser superficial, com as consequências que nós conhecemos bem”. Era a justificativa para a necessidade da obra, que chamou a atenção dos moradores do Setor Sul no final dos anos 1990 e início dos anos 2000 por não terem sido avisados do serviço. A rede existente antes disso era da década de 1980, já no final da formação do Setor Sul, o que demonstra uma capacidade planejada para uma quantidade de água menor do que a atual.

Para ter ideia, em toda a região não há sequer uma área de recarga, que seria uma estrutura para segurar um alto volume de água para dar tempo de a galeria levar a substância ao destino final. A Seinfra ainda informa que, “ao contrário do que se pensa, o Córrego Buritis não está canalizado sob a avenida”. O relato é que, durante a formação do Setor Sul, o que ocorreu foi um processo de supressão do córrego. “A cidade se estabeleceu diretamente sobre o leito original, que era intermitente, sem a terraplanagem adequada.” Ou seja, não há uma canalização do córrego em si, como ocorre, por exemplo, com o Botafogo ao longo da Marginal Botafogo, mas a construção da cidade em cima do curso d´água, com exceção da região central.

A falha estrutural é tamanha que, em 2015, um poço de visita – que é uma estrutura como uma caixa que recebe as tubulações para jogar água nos tubos que levam ao destino – quebrou. O poço está localizado na Avenida 87 com a Rua 132 e a explicação da então gestão municipal é que o asfalto colocado na base do tanque foi se desfazendo com o tempo, devido à ação da água, e, sem a sustentação, as laterais da estrutura racharam, o que fez com que o solo cedesse, bem como a base inferior. Na semana passada, a Seinfra realizou serviço de recuperação de um processo erosivo que começou a se formar em uma das pistas da Avenida 87, também com a Rua 132.

O trabalho contou com a recuperação da vala, a reconstrução (novamente) do poço de visita e da ilha na esquina com a Rua 132, além da recuperação da erosão e pavimentação do trecho. A explicação da pasta foi de que o problema se deu a partir da infiltração de água das chuvas recentes. Segundo o vice-coordenador-geral do PDDU-GYN e professor da Escola de Engenharia Civil e Ambiental (Eeca) da UFG, Raviel Basso, na 87 também há um problema que vem desde a 132, com subdimensionamento das galerias. “A maior quantidade de água vem da 132, porque praticamente não tem drenagem no Setor Marista. E é uma microdrenagem abaixo do necessário”, conta.

Ele explica, porém, que não é possível nem mesmo saber dimensionar o quão a canalização é deficitária, pois há falha até mesmo em como levar a água para as bocas de lobo. O POPULAR percorreu a região do Marista até a Praça do Ratinho e contou 66 bocas de lobo no trecho. Dessas, 47 tinham algum tipo de problema, como entupimento por resíduos ou por concreto das tampas quebradas ou mesmo a redução da entrada por concreto ou por asfalto após o recapeamento da região. Há pelo menos duas bocas de lobo entre as ruas 1.136 e 1.135 no Setor Marista em que as entradas das estruturas estão totalmente tapadas pelo asfalto das vias, não permitindo o escoamento das águas pluviais.

<h3>Solução virá com obra no Córrego Botafogo</h3>

De acordo com a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra), a Prefeitura de Goiânia, possui “um diagnóstico técnico e histórico aprofundado sobre os desafios de drenagem na região da Avenida 87”. A pasta argumenta que a situação é tratada com seriedade, “dentro de uma estratégia de engenharia que visa soluções definitivas e responsáveis para todo o sistema de drenagem da capital, não apenas ações paliativas e isoladas”. Como o trecho possui duas saídas pluviais – uma galeria que deságua no Lago das Rosas e outra que deságua no Córrego Botafogo –, a solução para a via passa pela macrodrenagem da bacia desse último.&nbsp;

“Por uma questão de responsabilidade técnica e de engenharia, a prioridade da Seinfra é a solução de macrodrenagem do Córrego Botafogo, que inclui projetos de bacias de contenção (piscinões) para amortecer o volume de água. A intervenção na Avenida 87 será realizada de forma coordenada, assim que o sistema arterial (Botafogo) tiver sua capacidade de suporte garantida”, informa a Seinfra. O projeto para a macrodrenagem do Botafogo foi aprovado recentemente para ser parte do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) do governo federal, na modalidade de Prevenção a Desastres Naturais – Drenagem Urbana, que prevê um investimento de R$ 267 milhões.

A ideia é realizar a recuperação e ampliação do canal da Marginal Botafogo, com contenção de erosões e revisão dos pontos de lançamento que chegam ao canal, além de ações ao longo da via, mas, quanto à Avenida 87, o principal aspecto é a realização das bacias de retenção, que devem segurar a água por mais tempo antes de chegar ao leito do córrego. Isso, em tese, pode fazer com que os lançamentos a partir da Avenida 87 possam chegar com maior fluidez e com tempo para “esvaziar” a rua. Segundo a Seinfra, ao mesmo tempo, o trabalho em curto prazo tem sido realizado pela secretaria.

“No final do último mês, a Seinfra fez manutenção na rede de drenagem da Avenida 87. Foram limpas 166 bocas de lobo e 150 metros de ramais, com a retirada de 15,4 toneladas de entulho e detritos. Foram construídas duas bocas de lobo e contida uma erosão causada pelas últimas chuvas”, garante. A pasta assegura ainda que, em parceria com professores e especialistas da UFG, parceiros no desenvolvimento do PDDU, “concorda que há uma deficiência histórica na rede de drenagem da capital, impactada pelo adensamento da cidade e o aumento das precipitações intensas nas últimas décadas”.&nbsp;

Segundo o vice-coordenador-geral do PDDU-GYN e professor da Escola de Engenharia Civil e Ambiental (Eeca) da UFG, Raviel Basso, entende que há a necessidade de realização do redirecionamento do escoamento para as bocas de lobo, sobretudo na Rua 132 e acima dela, na região da divisa entre os setores Sul e Marista. “Há locais que estão sendo fechados com os recapeamentos nas vias. Ali não é um problema da canalização do Córrego Buritis, mas de microdrenagem”, afirma. Ele explica que não é certo que esse redirecionamento resolveria 100% do alagamento na Avenida 87, mas reduziria muito o problema e seria possível, assim, dimensionar as galerias da região.

“Existe uma grelha grande ali na Avenida 87, em frente ao Ingoh, e é possível ver que ela não transborda durante as chuvas, o que mostra que o problema não tem relação com a canalização, pois, se fosse isso, ali mostraria. O problema é mesmo pela força do escoamento da Rua 132, pela água que vem do Setor Marista”, diz Basso. De acordo com ele, trata-se de obras simples, como o posicionamento de blocos para impedir a água de ir para a calçada e jogar para dentro da galeria, assim como o abaulamento da via, forçando a água a não correr pela rua, mas, sim, descer rumo às bocas de lobo, além da limpeza das entradas. “Isso tiraria a água da superfície, faria uma adequação. Aí na 87 se faria um reforço, caso fosse necessário”, garante o professor.

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Alagamentos constantes da Avenida 87 têm causa geográfica e estrutural

Drenagem urbana

O tornado no Sul do Brasil, com efeitos destruidores, em especial no Paraná, serve como um alerta drástico e contundente para os perigos do aquecimento global, exatamente quando a COP30 ocorre no Pará. Não se trata de uma "coincidência feliz", porque não há nada feliz nisso, mas de uma "coincidência útil" para cobrar seriedade e responsabilidade na questão climática. 
 
Tornados, enchentes e tragédias semelhantes não são novidade e nem incomuns no Cone Sul das Américas, como acabamos de ver no Rio Grande do Sul, e vemos agora em toda a região. Logo, são eventos históricos e não se pode dizer que sejam causados pela crise climática que se aprofunda no mundo. Mas... 
 
... Os especialistas estão roucos de gritar, na academia, nos parlamentos e nos governos que a emissão de gases de efeito estufa e o aquecimento global impactam a frequência e o grau de intensidade desses eventos. Têm efeito direto na piora da situação. 
 
Se a fase pré-COP 30 foi tomada pela (justa) discussão sobre preços abusivos das estadias e falta de estrutura em Belém, com um certo pânico de fiasco, a logística funcionou na hora H e a conferência centrou no debate, liderado pelo Brasil, sobre a responsabilidade dos países ricos com a preservação do ambiente natural nos países pobres. 
 
Como os tornados do Sul, a cobrança não é nova e ganha senso de urgência diante de algo bastante objetivo: a realidade. O mundo rico se desenvolveu destruindo suas florestas, mas hoje qualquer um sabe que uma coisa não se contrapõe à outra e, quanto mais preservação, mais desenvolvimento. Se destruíram o que havia, os ricos devem ajudar a salvar o que sobrou. 
 
A grande aposta do Brasil foi no Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que, claro, encontra apoio dos beneficiários e resistência de quem é chamado a financiar. A previsão de uma arrecadação de US$ 25 bilhões é considerada excessivamente alta, até inviável. Talvez Lula tenha pedido o máximo, para chegar no possível. 
 
Em paralelo, corre solta a discussão sobre combustíveis fósseis, com o anfitrião Brasil tentando compatibilizar a defesa da transição energética com estudos para a exploração de petróleo na Margem Equatorial e Lula fazendo uma ginástica retórica para justificar a dubiedade. 
 
Depois de criticar os pesados investimentos dos maiores bancos privados do mundo em óleo e gás, ele defendeu a exploração de petróleo... "para financiar a transição energética", com menos combustíveis fósseis e mais etanol. Bom pretexto, mas soou como um jeitinho para encobrir a incoerência e como o slogan da "transição gradual, lenta e segura" da ditadura militar.

Chuvas no Sul respingam no Pará

Opinião

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ELIANE CANTANHÊDE

O tornado que&nbsp;destruiu 90% da cidade paranaense&nbsp;de&nbsp;Rio Bonito do Iguaçu e&nbsp;deixou <a href="https://opopular.com.br/clima/numero-de-feridos-chega-a-750-apos-passagem-de-tornado-pelo-parana-1.3334415" target="_self">ao menos 750 feridos</a>&nbsp;deveria servir como alerta de “desespero e urgência” para as autoridades reunidas da Conferência das Nações Unidas para o Clima&nbsp;(COP-30), defendeu o secretário-executivo do Observatório do Clima, Márcio Astrini.&nbsp;O evento começa na próxima segunda-feira (10), mas o&nbsp;encontro de chefes&nbsp;de Estado&nbsp;foi realizado nas últimas quinta e sexta-feira.&nbsp;

“O que aconteceu no Paraná, que é triste e grave, é mais uma repetição do que vem acontecendo não apenas no Brasil, na Amazônia, no Rio Grande do Sul, em São Sebastião, em Petrópolis, no norte de Minas, sul da Bahia, como no mundo inteiro também", destacou.

"Os últimos dez anos foram os dez anos mais quentes da história. Tudo isso deveria entrar para dentro da Conferência do Clima, mas, muitas vezes, o que a gente vê é que a reunião fica impermeável ao mundo real”, criticou Astrini, que representa a principal rede da sociedade civil brasileira com atuação sobre as mudanças climáticas.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/clima/tempestades-devem-atingir-todas-as-cidades-de-goias-alerta-cimehgo-1.3334268" style="color: rgb(0, 136, 204); text-decoration-line: none; font-family: &quot;Lucida Grande&quot;, &quot;Lucida Sans&quot;, geneva, arial, sans-serif; font-size: 12px;" target="_self">Tempestades devem atingir todas as cidades de Goiás, alerta Cimehgo</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/goias-e-5-entre-estados-brasileiros-no-ranking-de-aquecimento-mais-acelerado-1.3334235" style="color: rgb(0, 136, 204); text-decoration-line: none; font-family: &quot;Lucida Grande&quot;, &quot;Lucida Sans&quot;, geneva, arial, sans-serif; font-size: 12px;" target="_self">Goiás é 5º entre Estados brasileiros no ranking de aquecimento mais acelerado</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/justica-climatica-em-discuss-o-na-ufg-com-docentes-franceses-neste-sabado-8-1.3334199" style="color: rgb(0, 136, 204); text-decoration-line: none; font-family: &quot;Lucida Grande&quot;, &quot;Lucida Sans&quot;, geneva, arial, sans-serif; font-size: 12px;" target="_self">Justiça climática em discussão na UFG com docentes franceses neste sábado (8)</a></div>

Astrini espera que o&nbsp;evento do Paraná&nbsp;seja citado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na abertura oficial da COP, segunda-feira (10) e que essa “realidade” ajude a sensibilizar os países participantes sobre “o mundo real, que está agonizando”.

“A gente têm alguns países que são mais vulneráveis a essa situação, como o Brasil, que depende da agricultura, a geração da nossa energia depende da regularidade climática, com as hidrelétricas. O presidente Lula deve fazer a abertura, pode ser que ele cite. A gente sempre espera que essas citações e essas realidades tenham efeito lá pra dentro”, complementa.&nbsp;

A oceanógrafa Renata Nagai, pesquisadora da Universidade de São Paulo, apoiada pelo Instituto Serrapilheira, explica que&nbsp;tornados, como o que atingiu Rio Bonito do Iguaçu, não acontecem apenas por causa das mudanças climáticas, mas o desequilíbrio do clima pode contribuir para que eles sejam mais frequentes e intensos.&nbsp;

“As mudanças climáticas estão associadas a um aporte de combustíveis fósseis e de gases de efeito estufa na atmosfera e isso aumenta a energia, causando o aquecimento da atmosfera e também dos oceanos. Esse aumento do calor provoca também o aumento da umidade, pela evaporação. Mais calor e mais umidade servem quase como um combustível para esses eventos meteorológicos extremos”

A especialista explica que tornados são colunas de ar&nbsp;que giram em altíssima velocidade, formadas a partir de nuvens de tempestades. Apesar de serem rápidos e de pequena extensão, podem ter grande poder destrutivo, ao tocarem o solo. O fenômeno é favorecido pela alta umidade e pelo ar quente.&nbsp;

O professor e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) Michel Mahiques afirma que esse tipo de fenômeno pode se tornar mais comum.&nbsp;

"Tornados, como o que aconteceu no Paraná, ocorrem por conta de grandes diferenças de pressão, causadas por massas de ar com propriedades muito diferentes, como a temperatura. Agora, com as mudanças climáticas, essas diferenças se intensificam, e a possibilidade de ocorrer eventos extremos como esse aumenta"&nbsp;

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