Doutor em Comunicação, Rodrigo Gabrioti de Lima desistiu de tomar posse como docente de Telejornalismo e Audiovisual, na Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal de Goiás (UFG). Ele tinha ganhado liminarmente na Justiça Federal o direito à vaga alegando erro nos cálculos para a aplicação da Lei 12.990/2014 (Lei de Cotas). Para atender a decisão judicial, a instituição nomeou o candidato branco em detrimento da também doutora em Comunicação, Gabriela Marques Gonçalves, candidata negra.A decisão, comunicada pela UFG nos autos do processo no dia 29 de dezembro, só veio a público neste domingo quando o coletivo Cotistas da Pós-Graduação da UFG, criado para denunciar o caso, se manifestou no Instagram. “Vitória do Movimento Negro. O Branco desistiu.” Rodrigo Gabrioti de Lima assinou um Termo de Desistência que foi encaminhado à UFG. A instituição, por sua vez, requereu junto à Justiça Federal a revogação da decisão de tutela de urgência deferida em favor do candidato branco e a extinção do processo.Leia também: - MPF pede revogação da decisão judicial que nomeou candidato branco em vaga de cota na UFG- Juiz nomeia outro no lugar de cotista e causa protesto na UFG- Protesto questiona reversão de cota em seleção para professor na UFGA ação judicial teve início depois que a jornalista Gabriela Marques Gonçalves foi aprovada em dezembro de 2021, com base na Lei de Cotas, no concurso para docente da UFG. Sua nomeação foi publicada em abril do ano passado e suspensa um mês depois por decisão do juiz Urbano Leal Berquó Neto, da 8ª Vara Federal de Goiás, que nomeou para a vaga, Rodrigo Gabrioti de Lima, primeiro colocado na ampla concorrência. Gabriela ficou em terceiro lugar entre cinco aprovados no processo, mas como era cotista, foi considerada vencedora e nomeada.A Lei de Cotas prevê a reserva de 20% de vagas para candidatos negros em concursos públicos. O magistrado acatou os argumentos da defesa de Rodrigo Gabrioti que alegaram que os cálculos foram errados porque havia somente uma vaga, e não três ou mais conforme estipula o artigo primeiro da referida lei. Para a UFG, a aplicação da lei é para todo o quantitativo estipulado no edital, no caso do objeto em disputa eram 15 vagas, três destinadas às pessoas negras. As outras duas eram para as disciplinas História das Relações Internacionais e Patrimônio e Enfermagem Fundamental e Clínica.“A decisão do demandante demonstra o absurdo jurídico que foi esse processo”, disse neste domingo ao POPULAR, um dos advogados de Gabriela, Marcus Macedo. “Ele criou uma problemática para nada. Esse processo não passou de uma aventura jurídica do autor que movimentou toda a máquina judiciária para depois desistir.” Marcus Macedo explicou que os prazos judiciais estão suspensos até 20 de janeiro e ainda não é possível saber como o representante da Justiça Federal irá se manifestar. “Pode ser que o juiz abra um prazo para o autor ratificar sua decisão, mas é provável que o processo seja sentenciado”.Gabriela Marques Gonçalves, está otimista. “Com esta desistência, minha expectativa é de que eu seja nomeada e possa finalmente tomar posse. Espero que agora o edital seja finalmente cumprido, com a vaga sendo destinada às cotas raciais. O apoio e a mobilização de estudantes e pesquisadores cotistas foram muito importantes para pressionar o cumprimento da lei”, afirmou ela ao POPULAR.Para o advogado de Gabriela Marques é importante que o processo seja julgado. “Nossa tese é de que ele não tinha o direito de tomar posse. O simples fato dele desistir pode abrir precedente para outro candidato entrar na Justiça.” Gabriela Marques concorda. “É importante fortalecer a Lei de Cotas para os concursos futuros, não só na UFG, para que outras pessoas não precisem passar pelo que estou passando.”Revolta A decisão do juiz federal Urbano Leal Berquó Neto causou revolta na comunidade acadêmica. Em dezembro, o Coletivo de Cotistas da Pós-Graduação da UFG fez uma manifestação dentro da instituição exigindo o cumprimento da Lei de Cotas. O Sindicato dos Docentes da Universidade Federal de Goiás (Adufg-Sindicato) também se posicionou. “Cotas raciais representam um avanço histórico da luta do movimento negro e contribui para a construção de ambientes capazes de abarcar as muitas diferenças que existem na comunidade acadêmica”, informou em nota.O Ministério Público Federal (MPF) pediu a revogação da decisão judicial. Para o procurador federal Marcello Santiago Woll, os argumentos usados pela defesa de Rodrigo Gabrioti “não possuem fundamento legal ou moral”. O advogado Marcus Macedo afirmou que a manifestação do MPF, que atua como fiscal da ordem jurídica, não foi nenhuma surpresa. “Já havia um parecer contrário ao pedido do autor.O POPULAR não conseguiu contato com Rodrigo Gabriotti e nem com a defesa dele.