-Imagem (1.2423067)Carreiros se preparam para retornar presencialmente à Festa do Divino Pai Eterno, em Trindade, na região metropolitana de Goiânia. Após dois anos sem a celebração religiosa – considerada uma das maiores do País -, devido à pandemia, o anúncio do Santuário Basílica do Divino Pai Eterno anima fiéis e todos que guardam saudade do evento. Em especial, os participantes das romarias, tradição comumente feita através dos carros de boi, que possui, para muitos, uma origem familiar e liga a fé dos devotos à manutenção de histórias que fazem parte da cultura goiana.A festa que reúne diversos fiéis realizou a sua última edição presencial em 2019, quando teve a participação de 3 milhões de pessoas. Agora, a expectativa para a celebração de 2022, que deve ocorrer entre o fim de junho e primeiro domingo de julho, mantém os carreiros esperançosos para tempos melhores e reviver suas identidades. “A tradição do carro de boi pra mim é preservar minha história, do meu povo, da minha família e é isso que eu quero passar”, afirma o carreiro e trabalhador rural, Antônio Araújo Filho, de 56 anos.Com a vivência que “vem de berço”, Araújo conta que tem o carro de boi na sua vida desde que nasceu e aprendeu com os pais e os avós a seguir esse caminho. Com filhos e um neto ainda bebê, Araújo defende que as próximas gerações devem manter a tradição e se prontificar a ensinar. Ele reconhece que além da herança familiar, o carro de boi carregou também a construção de muitos locais da região e do país. “Foi de uma vida rústica e simples, mas de muita força, de muita coragem e de muita bravura”, diz.Hernandes Luiz Moreira, carpinteiro e carreiro de 49 anos, conheceu de perto a importância dos carros de boi para sua família. Sabendo que seus avós se mudaram de Minas Gerais para Goiás através do transporte, a inspiração aumentou com os anos. “Fui crescendo e pegando amor pela vida de carreiro que hoje trago no peito”, comenta. O mesmo aconteceu com o carreiro, que também constrói e conserta de carros de boi, Luiz Carlos de Sousa, de 53 anos. Para ele, a experiência sempre foi única.A busca por manter a tradição e devoção ao Divino Pai Eterno intensifica a relação entre os próprios carreiros que se ajudam a realizar a romaria durante o período da festa e criam uma rede de contatos durante todo o ano. “As pessoas com certeza ajudam muito mesmo, alguns tem paixão pelo carro de boi e não tem como comprar os bois, a gente reúne e compra, cada um dá um pouquinho, disse Moreira. Ele afirma que a união e o hábito de troca são comuns entre os carreiros.ExpectativasCom o retorno da festa, as expectativas vão desde as promessas até as vendas no período da romaria. Souza aponta que as buscas por carros de boi aumentaram durante a pandemia e ainda mais depois do anúncio da festa de Trindade voltando a ser presencial. Questionado dos motivos para esse crescimento, o carreiro diz que a razão está ligada às promessas. “Teve muita gente que fez voto por ter adoecido, ou alguém da família, com a doença”, afirma.Poder colocar as rodas de madeira e percorrer durante dias o caminho até Trindade, dependendo da cidade de origem, é motivo de alívio entre os devotos. O trabalhador rural Antônio Araújo Filho está esperançoso para restabelecer o vínculo com a romaria. “O sentimento que eu tive na primeira suspensão da festa foi de um vazio era com se faltasse algo na minha vida”, desabafa. Agora, o carreiro pode se preparar novamente: “é uma alegria que toma conta do meu coração”.O mesmo se estende para o soldador Antônio Cândido da Cunha, de 59 anos. “A gente tá muito acostumado com essa romaria, a participar e tudo então a gente tem aquele compromisso com o Pai Eterno, todo ano a gente ia e a expectativa pra gente retornar de novo esse ano é alta porque a vontade é muita”, diz o carreiro que já está preparando os bois para o dia de ir a Trindade.Ainda receosos com a pandemia e aglomerações, os carreiros afirmam que, entre a organização para retomada, está a vacinação em dia e o cuidado redobrado para não se contaminarem com a Covid-19. “Tenho amor a minha vida e a vida da minha família, porém o desejo de estar lá é grande e com certeza esse cuidado todos nós teremos”, diz.Moreira vê os rumos das coisas melhorando e está animado para o momento. “Se todos fizerem sua parte na prevenção e cuidado acredito que é possível ter uma romaria bonita.”Tradição com benfeitorias sociaisO presidente da Vila São José Bento Cottolengo, padre Marco Aurélio Martins da Silva, afirma que o período em que a festa acontece produz uma rotina diferente no hospital filantrópico.“Os voluntários e colaboradores preparam todos os corredores para receber romeiros que entram na nossa casa para visitar os internos (pacientes)”, diz Silva. O local, que possui 336 pacientes, oferece mais de dez especialidades médicas para pessoas em vulnerabilidade social e com deficiências múltiplas.Por conter uma demanda alta de mantimentos aos pacientes e também seus 760 colaboradores, a Vila exige um compromisso financeiro alto e difícil de ser mantido, de acordo com o padre. Mas com a parceria e ajuda dos romeiros em doações, o padre diz que as despesas da instituição são garantidas por muitos meses após a festa com os alimentos, recursos de limpeza e higiene e animais deixados pelos devotos no hospital. “É muito importante para nós”, diz. Um fator que contribui para alta de doações é, inclusive, a quantidade promessas realizadas dentro da própria instituição ou, ainda, aguardadas para serem cumpridas no local. Por isso, o presidente da Vila conta que os colaboradores preparam uma forma criativa os moradores e pacientes do hospital para se encontrarem dos devotos do Pai Eterno que querem conhecer as demandas da instituição e seguirem com as doações.-Imagem (Image_1.2422944)