Atualizada às 21h14 do dia 2/5/2022Após dois adiamentos, o júri do assassinato do jornalista esportivo Valério Luiz de Oliveira, ocorrido em junho de 2012, está previsto para ocorrer nesta segunda-feira (2). O clima é de tensão já que no início da última semana o advogado de defesa do empresário Maurício Sampaio, acusado de ser mandante do crime, afirmou que iria se recusar a participar do julgamento caso o juiz e os promotores não fossem mudados. Leia também:- Defesa questiona procedimento de 2015 no caso Valério- Justiça nega pela 5ª vez pedido de Maurício Sampaio para adiar júriDepois de passar por outros dois juízes, com o caso já nas mãos do juiz Lourival Machado da Costa, ele foi adiado em junho de 2020, devido a pandemia da Covid-19. Ele foi remarcado para o dia 14 de março deste ano. Entretanto, na data do início do julgamento, ele foi adiado novamente para o dia 2 de maio, pois Ney Moura Teles, advogado de Sampaio na ocasião, renunciou ao caso.Na última segunda-feira (25), Luiz Carlos Silva Neto, advogado de Sampaio, voltou a afirmar que existem fortes indícios de parcialidade dos atores jurídicos envolvidos no caso. Ele já havia feito a mesma acusação ao se apresentar à imprensa como o novo advogado do empresário em 29 de março. Na segunda, ele levantou a possibilidade de não participar do júri. “Respeito o Judiciário e o Ministério Público, mas ele (Sampaio) está em um processo com um juiz parcial. Caso ele e os promotores continuem no caso, vamos comparecer ao tribunal, mas não participaremos .”RecusaO professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás) e pós-doutor em Direito, Clodoaldo Moreira, diz que caso Silva Neto se recuse a participar do júri, o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO), pode solicitar ao juiz que o advogado seja condenado ao pagamento de multa pelo abandono injustificável. “O magistrado poderá determinar ainda que seja comunicado ao presidente da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Goiás (OAB-GO) que o advogado abandonou de forma injustificável a sessão plenária, para que sejam adotadas as providências cabíveis perante a OAB.”Moreira explica que caso o advogado renuncie, o júri popular teria que ser adiado novamente. “Não existem limites à renúncia de um advogado, e a realização do júri sem advogado geraria nulidade”, pontua. Ele afirma que o juiz pode pedir para que um defensor público fique de prontidão para que o julgamento prossiga. “Mas ele pode ser mudado até o novo júri. Cabe ao réu o direito de substituir o advogado público pelo advogado particular em razão de que a sua defesa estaria sendo prejudicada. Nesse caso, novamente, o novo advogado constituído também pode renunciar.”O advogado esclarece que esse tipo de ação pode ser interpretada pelo juiz como má fé. “Porém, o máximo que ele poderá aplicar será uma multa em razão do adiamento constatado pela má-fé, ou seja, sem justificativa, e solicitar à OAB-GO que apure e tome medidas que achar conveniente. Lembrando sempre da possibilidade da prescrição do crime.” Neste caso, a prescrição é de 20 anos.A Defensoria Pública do Estado de Goiás (DPE-GO) informou, por meio de nota, que mesmo que algum advogado não compareça ao julgamento , ela está legalmente impedida de realizar a defesa de quaisquer dos réus. Mas, de acordo com o órgão, “é possível que, caso haja o adiamento, a DPE-GO assuma a defesa, mas há procedimentos legais a serem seguidos.”Porém, para que isso ocorra é preciso que haja decisão do juiz reconhecendo que a ausência do advogado particular não possui justificativa legítima e é preciso que a intimação da Defensoria Pública seja feita com prazo mínimo de dez dias, tempo necessário para que o órgão possa se inteirar de toda a situação.Tentativas Desde quando o julgamento foi adiado pela terceira vez, a Justiça já negou sete pedidos de adiamento do júri feito pela defesa de Sampaio, sendo um deles no Superior Tribunal Federal (STF). O Judiciário negou ainda um pedido de liminar feito pela defesa do sargento da Polícia Militar Ademá Figueredo Aguiar Filho, acusado de ser o autor do crime.O jornalista foi morto a tiros, aos 49 anos, em julho de 2012, quando saía de uma emissora de rádio na qual trabalhava no Setor Serrinha. O motivo do assassinato seriam as duras críticas que o jornalista fazia aos dirigentes do Atlético Clube Goianiense, time no qual Sampaio já foi presidente e era diretor na época do crime.*Errata: reportagem continha a informação de que o júri popular do caso Valério Luiz havia sido adiado três vezes, uma delas em 2019. Entretanto, foram apenas duas vez: em 2020 e 2022.-Imagem (1.2448095)