Com cinco votos contrários e seis a favor, a Câmara Deliberativa do Transporte Coletivo (CDTC) aprovou nesta terça-feira (23) as mudanças na gestão do sistema de transporte da Região Metropolitana de Goiânia. A aprovação ocorreu um dia depois de o prefeito Sandro Mabel (UB) pedir ao governador Ronaldo Caiado (UB) reunião com os prefeitos para afastar as divergências em relação ao tema. A princípio, não há disposição do governador de fazer a reunião por acreditar que o assunto já foi exaustivamente debatido.Votaram contra o projeto na CDTC os quatro representantes da prefeitura de Goiânia: Ana Carolina Nunes de Souza Almeida, secretária de Planejamento e Urbanismo; Valdivino de Oliveira, secretário de Finanças; Francisco Elísio, secretário de Infraestrutura; e Tarcísio de Abreu, secretário de Transporte e Mobilidade. O voto contrário de Senador Canedo foi do secretário de Finanças, Alessandro Rodrigues.Votaram a favor, Andrey Azeredo, secretário de Planejamento de Aparecida de Goiânia; Wellington Lima, secretário estadual de Desenvolvimento Social; Marcos Tadeu, controlador-geral do Estado; e Miguel Pricinote, subsecretário de Políticas para Cidades e Transportes da Secretaria da Governadoria. Com o empate em 5 a 5, coube ao secretário Geral da Governadoria e presidente da CDTC, Adriano da Rocha Lima, o desempate a favor do projeto.Depois da reunião, a prefeitura de Senador Canedo divulgou uma nota à imprensa em que afirma ver como “natural o ajuste realizado no sistema” e que “aceita a decisão da Assembleia Legislativa e da Câmara Deliberativa em função da nova realidade financeira adotada”, em referência ao aumento da participação do estado no subsídio do transporte. Em entrevista ao quadro Na Trilha da Política, na CBN Goiânia nesta terça, o prefeito Fernando Pellozo (UB) foi questionado sobre essa contradição entre o voto e a nota.Pellozo justificou que Senador Canedo se alinhou a Goiânia em defesa do municipalismo na votação na Câmara Deliberativa. Mas ressalvou que, como a proposta foi aprovada pela CDTC, ele acha que o melhor a fazer é seguir com as mudanças no transporte e não se prender a essa discussão. O prefeito afirmou que Senador Canedo não participará de eventual judicialização da futura lei, conforme defendeu o prefeito Mabel.A prefeitura de Aparecida de Goiânia também divulgou manifestando “apoio integral ao projeto de lei que reformula a gestão da Rede Metropolitana de Transportes Coletivos (RMTC)”. Segundo a nota, a gestão municipal participou ativamente da construção do novo modelo, “elaborado de forma conjunta com os municípios”. Para o segundo maior município da região metropolitana, o novo formato fortalece a governança do sistema sem retirar dos municípios o poder de decisão.Mabel disse, em entrevista ao POPULAR, ter sido pego de surpresa em relação à estadualização da CDTC. No entanto, o secretário Adriano da Rocha Lima destacou a quantidade de reuniões para debater o tema. Afirmou que o item da pauta referente à mudança na governança do transporte foi adiado há dois dias, a pedido da prefeitura de Goiânia. Segundo ele, o assunto foi debatido na segunda-feira e sua decisão novamente transferida para esta terça, daí a reunião realizada nesta manhã.Na reunião de hoje os representantes de Goiânia apresentaram argumentos jurídicos contrários à proposta, rebatidos pela Procuradoria-Geral do Estado e pelo secretário Andrey Azeredo, de Aparecida. “Eles foram enfáticos na total legalidade e constitucionalidade e que o modelo de governança adotado é o mais adequado por caber ao estado e não a um município, a gestão do sistema.Críticas de MabelO prefeito Mabel discorda de o estado assumir o controle total da gestão do transporte, retirando o poder dos municípios e reclama de não ter sido ouvido. A proposta chegou na Assembleia no fim da tarde da quinta-feira (18), foi apreciada e aprovada pela Comissão Mista no mesmo dia e pelo plenário em definitivo nesta segunda. Mabel reclama da urgência com que a proposta foi aprovada.O prefeito chegou a dizer que não foi consultado, informação negada por Adriano da Rocha Lima e pelo prefeito de Aparecida de Goiânia, Leandro Vilela (MDB). Nesta terça-feira, fontes da prefeitura confirmaram ao programa Plural, da rádio CBN Goiânia, que o prefeito participou dessas reuniões para discutir a minuta do projeto de lei, mas ressalvaram que Mabel esperava ver o projeto de lei pronto antes de ele ser enviado ao Legislativo, mas que ele só tomou conhecimento de seu conteúdo depois que ele já tinha sido aprovado em primeira votação.A prefeitura de Goiânia considera que o Estado fará uma “intervenção branca” no transporte da região metropolitana. Assessores do prefeito apontam que não procede o argumento de que o estado vai pagar a maior parcela e que, por isso, tem o direito de fazer a gestão.É que o estado ficará responsável por 47,6% do subsídio ao transporte público (era 41,6%). A prefeitura de Goiânia, que antes pagava os mesmos 41,6% do Estado, ficará responsável por 36,7%. Na nova divisão do subsídio, Aparecida de Goiânia pagará 8,4%; Senador Canedo, 4,3%; Trindade, 1,9% e Goianira 1,1%. Mabel soma a participação de todas as prefeituras (52,4%) para argumentar que o estado não paga a maior parte do subsídio, mas as prefeituras.Adriano da Rocha Lima admite que o estado terá mais peso nas decisões, mas disse que o governo sozinho não decidirá absolutamente nada. “Primeiro, porque tem menos de 50% de participação, segundo porque o fórum das decisões é qualificado, exigindo dois terços dos votos para aprovar as matérias. Com isso, nós mantemos a governança do sistema de maneira equilibrada, com correspondência com o que cada ente custeia do sistema”, disse me vídeo encaminhado à imprensa.Em resposta à coluna Giro, a Prefeitura de Goiânia reafirmou a intenção de questionar na Justiça as mudanças na gestão do transporte coletivo assim que elas forem sancionadas. Conforme apurado pela coluna, uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) já está praticamente pronta e vai questionar, junto ao Tribunal de Justiça (TJGO), principalmente o fim do revezamento do comando da CMTC). (Leia mais na página 2)