Cerca de 100 mil usuários do Instituto de Assistência dos Servidores do Estado de Goiás (Ipasgo), o equivalente a quase um sexto do total de conveniados, tiveram seus cadastros avaliados como suspeitos e deverão ser chamados a passar por um recadastramento. A direção do instituto ainda afirma que todos os contratos com credenciados serão revistos. As medidas são anunciadas em meio ao andamento da primeira fase da Operação Morfina, desencadeada na última segunda-feira (1º) pela Polícia Civil de Goiás, que estima até agora prejuízos na casa dos milhões para o órgão.Segundo o presidente do Ipasgo, Silvio Fernandes, entre estes 100 mil identificados como suspeitos, têm, por exemplo, em torno de 40 casos de titulares do plano com 10 anos de idade. Ainda foram encontradas situações como um titular com 46 dependentes e vários titulares com mais de 100 anos. “Este número pode diminuir, pode aumentar, são suspeitas, está em avaliação”, ressaltou a assessoria de imprensa do instituto, que explicou que estes dados mostram que “teve erro no cadastro”.O presidente do Ipasgo confirmou que chegaram a estes dados por meio do trabalho de conformidade que adotaram na atual gestão. “Estamos revendo todos os contratos”, pontua.Segundo Fernandes, a situação destes 100 mil identificados como suspeitos poderá ser conferida por meio de um chamamento para censo e recadastramento presencial, medida que demandará licitação.“O que precisamos é deixar realmente aqueles (usuários) que estão aptos a receber o serviço do Estado”, afirmou o governador Ronaldo Caiado (DEM) em coletiva nesta quarta-feira (3), após solenidade em que assinou termo autorizando o reinício das obras de construção do Hospital do Servidor Público de Goiás, no Parque Acalanto, em Goiânia. O governador, que também assinou na cerimônia convênio com a Polícia Rodoviária Federal em Goiás (PRF-GO) para que seus servidores ativos e inativos possam se conveniar ao Ipasgo, afirmou que com menos 100 mil pessoas (usuários com cadastro suspeito) o Ipasgo terá espaço para acolher a além da PRF outros órgãos no Estado que tenham interesse, ao ser questionado sobre as atuais condições do instituto para receber mais conveniados.CredenciadosSilvio Fernandes informa também que toda rede credenciada está sendo reavaliada, tanto prestadores pessoas jurídicas como pessoas físicas. O número não foi informado. “Quero que eles me provem que eles estão prestando esses serviços”, disse. Nesse trabalho disse que o instituto deverá ter ajuda externa, como da Controladoria do Estado.Segundo as investigações da Polícia Civil, funcionários da área de tecnologia da informação (TI) de empresa terceirizada fraudavam o sistema do Ipasgo ao credenciaram empresas de saúde e médicos para realizar serviços sem passar pelos critérios e burocracias do instituto. Ganhos de até R$ 800 por inserção irregularNa deflagração da Operação Morfina, na segunda-feira (1º), foi determinado o afastamento de oito funcionários do Ipasgo suspeitos de realizar credenciamentos de prestadores de serviços para a rede de forma irregular. Seis destes colaboradores eram contratados por meio da terceirizada Hominus Gestão e Tecnologia Ltda, conhecida como GT1, que, segundo a Polícia Civil, não é investigada na primeira fase desta investigação, apenas seus funcionários. Todos os oito colaboradores já prestaram depoimento à Polícia Civil. Seis deles na segunda-feira e outros dois nesta quarta-feira, segundo informou a assessoria de imprensa da corporação.De acordo com o delegado titular da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra a Administração Pública (Decarp), Webert Leonardo Lopes da Silva Santos, com base nos depoimentos, funcionários com atuação suspeita ganhavam de R$ 600 a R$ 800 por inserção irregular de credenciados no sistema do Ipasgo. Nesta quarta-feira o governador Ronaldo Caiado (DEM) chegou a citar uma estimativa de que os desvios no instituto seriam de no mínimo R$ 500 milhões. A Polícia Civil, por sua vez, informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não estão trabalhando com valores estimados, mas que os prejuízos ficam na casa dos milhões. Ainda segundo a Polícia Civil, nesta primeira fase da operação estão investigando fatos de 2015 para cá. Caiado disse que a operação está na primeira etapa e que “os desdobramentos virão.” “Pelo que o secretário de segurança pública me informou hoje (quarta-feira, 3) de manhã estão fazendo uma força-tarefa para ouvir o maior número das pessoas que foram elevadas como suspeita, tem também todo um material que foi apreendido e isso aí demanda um certo tempo”. Ele acrescentou que “o secretário está extremamente direcionado a tentar ressarcir o Ipasgo com o dinheiro que foi desviado.” Revisão pode gerar economiaCom seis funcionários entre os oito afastados do Ipasgo na segunda-feira (1º), a Hominus Gestão e Tecnologia Ltda, conhecida como GT1, afirmou na terça-feira (2) ao POPULAR que apenas fornece colaboradores para atuar, de forma terceirizada, no instituto e que não tem responsabilidade pela gestão e fiscalização dos profissionais, o que caberia ao órgão estadual. O presidente do Ipasgo, Silvio Fernandes, afirma que foi o que fizeram e estão fazendo agora, não podendo responder pelo que não foi feito no passado. Ele assumiu a gestão do instituto no início do governo Ronaldo Caiado (DEM) e, ontem, apresentou balanço dos seis meses à frente do órgão. “O mais importante foi buscar estancar a sangria de recursos”. Segundo ele, com a revisão de contratos já estimam uma economia inicial de R$ 50 milhões neste ano. Ele ainda afirma que alguns levantamos internos e também feitos por pessoas fora do instituto apontam que “em torno de 15% dos nossos recursos estão sendo no mínimo mal gastos.”Sobre o recente aditivo de contrato com a GT1, afirmou que o contrato estava no prazo final para vencer e o procedimento foi realizado enquanto preparam um novo processo licitatório. “Este ano o contrato já ia ser licitado (independente de operação)”, diz.Segundo informações da assessoria do instituto, a GT1 fornece hoje 70% da mão de obra terceirizada do Ipasgo. O contrato atual com a empresa venceria em maio. “Foi aditivado em abril para dar tempo de fazer o processo licitatório em setembro”, reforçou a assessoria, que ressalta que a investigação foi depois e que, conforme divulgado, neste momento a empresa não é investigada.A GT1 afirmou na terça-feira (2) ao POPULAR que sua conduta vai ser ajudar para que todos os fatos sejam esclarecidos o mais rápido possível. “Quem tiver culpa, que assuma sua responsabilidade”.