O ensino a distância pode se tornar inviável para estudantes da Universidade Federal de Goiás (UFG) com a utilização do chip para celular que será fornecido pelo Projeto Aluno Conectado, do Ministério da Educação (MEC) e Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). A afirmação é do Especialista em Inteligência de Dados e Marketing Digital e professor do Instituto de Pós-Graduação e Graduação (Ipog), Guilherme Pinheiro que explica que o pacote inicial de 20 gigabytes (Gb) só é suficiente para 7 horas/aula pela plataforma G Suite for Education, da Google, utilizada pela universidade.No total, 900 estudantes da UFG estavam cadastrados no Plano Emergencial de Conectividade para receberem auxílio de 100 reais com a finalidade de contratação de internet. Agora, deverão se candidatar ao programa nacional que irá fornecer chip para celular com um pacote de dados inicial de 20 gigabytes podendo ser ampliado para até 40 Gb. As aulas da UFG foram retomadas nesta segunda-feira (31) e o edital para adesão ao projeto nacional foi publicado na última quarta-feira (26).Os estudantes com renda familiar de até um salário mínimo e meio possuem uma semana de prazo para o primeiro envio de informações. Isso significa que precisam realizar o novo cadastro até o dia 3 de setembro. O Plano Emergencial de Conectividade foi criado pela própria UFG, mas a pró-reitora de Assuntos Estudantis (Prae/UFG), Maísa Miralva da Silva, explica que a bolsa era apenas provisória até que governo federal determinasse uma nova forma de garantir o acesso às aulas. Até que os chips cheguem aos alunos, o auxílio continuará sendo repassado. Ela pontua também que o aumento para 40 Gb vai depender do consumo do mês anterior de cada aluno.Guilherme Pinheiro considera a plataforma desenvolvida pelo Google como a menos viável em relação ao uso dos dados. “Nesta plataforma, 1 hora de vídeo utiliza cerca de 3 Gb isso sem contar o download de arquivos recebidos. Essa conta utilizando um HD básico, uma qualidade baixa. Com o valor de 100 reais, por exemplo, era possível contratar uma infinidade de planos que deduzem uso de dados em aplicativos, como o WhatsApp, por exemplo. No caso destes alunos, se o WhatsApp estiver rodando ao mesmo tempo das aulas em um mesmo aparelho, pode consumir os dados da internet mesmo que ele não perceba”, completa.A UFG pontua que nem todas as aulas são ao vivo e que o acesso ao Google Sala de Aula e às atividades não demandam muita transmissão de dados, principalmente se forem atividades que não contemplem vídeos. Por este motivo, Leandro Oliveira, Secretário de Tecnologia e Informação da UFG diz que é muito complicado afirmar que o plano de 20Gb não é suficiente. “Depende da qualidade do vídeo, uma vez que o Meet da Google e outros utilizam algoritmos de compressão de dados que deixam os vídeos com qualidade para internet, diferentemente de utilizar vídeos com alta definição.” Inclusão é desafioMonitora no curso de Pedagogia da Universidade Federal de Goiás, Raysa Carvalho, de 32 anos, explica que os problemas são ainda maiores e que alunos indígenas e quilombolas, por exemplo, não serão atendidos pelo programa do MEC porque não há sinal de telefonia onde muitos residem. Entre vários casos, ela conta o de uma estudante caloura, indígena Boé-bororo, que está na aldeia, na região de Barra de Garças. Como demorou a se inscrever nos programas emergenciais, mesmo a inscrição sendo contínua, a estudante só seria atendida em outubro. Uma professora sugeriu fazer uma vaquinha na internet. “Conseguimos comprar um notebook, que já está com a estudante, e garantir o pagamento da instalação da internet rural na aldeia, para que ela estude neste mês de setembro.” ENTREVISTA - Estudante do 8º período de Pedagogia da Universidade Federal de Goiás, Paula Moura enfrenta dificuldades para acompanhar ensinoPaula, onde você mora e como é o acesso à internet móvel na sua casa? Eu moro em Senador Canedo, na divisa com a cidade de Caldazinha. Devido ao declive, aqui não pega rede móvel de celular dentro de casa. Para conseguir sinal da rede, eu teria de ficar na calçada, do lado de fora de casa. As aulas começaram. Você conseguiu participar? Sim, minha mãe contratou uma internet Wi-fi, no nome dela. Porém, ela sofreu um acidente vascular encefálico há algumas semanas e não pudemos efetuar o pagamento da fatura e a internet já está limitada. Eu consegui o benefício de 100 reais da UFG e este valor ia contribuir com o pagamento do plano. Digo contribuir porque o plano contratado tem valor maior, 200 reais e está em fidelização. Minha mãe também precisa de internet no celular quando está no trabalho, fora de casa. Hoje (segunda-feira, 31) era para ser duas horas de aula, mas como tive dificuldade para acessar foram apenas 30 minutos. Você foi comunicada da mudança no benefício ou de como deve proceder agora? Eu assisti à assembleia universitária e descobri sobre o edital do Ministério da Educação (MEC). Não ficou claro pra mim que eu poderia requerer o benefício de 100 reais. Tomei conhecimento por você, agora na entrevista. Quando assisti à assembleia e vi que era o chip, achei que era causa perdida, que não ia conseguir outro apoio.