Um homem de 60 anos foi indiciado por injúria racial contra uma atendente negra de uma distribuidora de bebidas, em Aparecida de Goiânia. O crime aconteceu no dia 5 de março, no Setor Serra Dourada III e o inquérito foi concluído nesta sexta-feira (25).De acordo com as investigações, ao pedir para encerrar a conta, o homem duvidou dos cálculos realizados e disparou contra a mulher: “Gente como você, que tem esse tipo de cabelo, não sabe fazer nada direito, fazem gambiarra. A gente tem que desconfiar desse tipo de gente, sempre fazem coisas erradas, olha essa menina, olha a cor dela, olha esse cabelo horroroso dela, essa coisa esquisita, feia.”Em depoimento à polícia, o suspeito teria dito que não se lembra dos fatos. A delegada responsável pelo caso, Luiza Veneranda, gravou um vídeo em que afirma que a investigação confirmou que as injúrias realmente foram proferidas pelo suspeito. O inquérito foi remetido à Justiça do município.Leia também:- “Brincadeira sem graça”, diz médico indiciado após gravar vídeo com apologia à escravidão em Goiás- Turista é preso depois de chamar segurança de “preto safado” em Caldas Novas“É inacreditável que em pleno século XXI, no atual estado educacional e civilizatório em que vivemos, ainda tenhamos que conviver com práticas criminosas como o caso em questão”, escreveu a delegada na conclusão do inquérito.A investigação concluiu que o suspeito praticou o crime de injúria racial “pela utilização de elemento referente à raça/cor da vítima, fato que ofendeu a honra subjetiva desta e constitui, sem dúvida, um verdadeiro vilipêndio à sua dignidade humana, cabendo ao Estado-Juiz adotar as medidas penais necessárias para a punição do autor e posterior inibição de casos semelhantes.”Como tudo aconteceuAo POPULAR, a atendente da distribuidora, de 28 anos, Meire Torres, que também é estudante de Direito, contou como os ataques aconteceram. O suspeito chegou ao local, que é do irmão da atendente, por volta de 18h45. As agressões verbais ocorreram por volta de 20h20, quando o cliente, que estava com outro homem, pediu para encerrar sua conta.Segundo Meire, eles haviam consumido uma porção de frango e cervejas. A atendente dividiu a porção pela metade e somou as cervejas de cada um dos clientes. Foi nesse momento que tudo aconteceu. O homem teria discordado dos valores e dito que ele iria somar. “Esse tipo de gente faz maracutaia. Esse tipo de gente que tem esse cabelo feio faz coisa errada”, teria dito o indiciado.A estudante de Direito encerrou o atendimento a outros clientes e retornou à mesa do suspeito. Ela perguntou sobre a forma de pagamento, mas o homem se recusou a pagar o valor informado e pegou a calculadora da atendente para somar os valores. “Na hora de somar ele descobriu que era o valor que eu tinha dito”, conta Meire.Não satisfeito, o idoso teria reforçado as injúrias. “A gente tem que desconfiar desse tipo de gente, sempre tem que somar antes.” Ele teria repetido as frases até o momento em que entrou no carro e saiu do local.Em choqueA atendente relatou que ficou sem chão. “Eu comecei a tremer e ficar muito nervosa. Minha dignidade que estava em jogo.” Segundo Meire, após o ocorrido ela ficou pálido e não conseguiu realizar os atendimentos. “Uma ofensa que me deixou tão triste que eu não consegui nem disfarçar para as outras pessoas.”A estudante procurou a 1ª Delegacia de Polícia Civil na terça-feira (8), registrou Boletim de Ocorrência e foi ouvida pela delegada no dia 15 de março. A investigação analisou termo de declaração, termo de depoimento de testemunhas, análise de vídeos e outros.O que dizem os citadosA Polícia Civil não divulgou o nome do acusado e por isso a defesa não foi localizada. O espaço segue aberto.