-Imagem (1.2040756)Já são 89 bairros em Goiânia com casos confirmados de novo coronavírus, mas destes são 16 os que apresentaram evolução no número de ocorrências nas últimas duas semanas. Um exemplo é o Setor Bueno, que passou de 8 moradores com a Covid-19 no dia 7 de abril para 31 no último dia 22. O bairro concentra 12% dos registros comprovados na capital.O POPULAR comparou os dados fornecidos pela equipe da plataforma de monitoramento da Covid-19 da Universidade Federal de Goiás (UFG), que por sua vez recebe os relatórios da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS). No dia 7 de abril, eram 31 bairros com registro da doença. O número passou para 50 no dia 13, para 80 no dia 20 e 89 no dia 22. A maioria destes bairros, entretanto, não apresentou mais nenhum novo caso após entrar na lista.Dois bairros que registraram apenas um caso no dia 7 presenciaram um salto em 15 dias: Jardim América e o Setor Pedro Ludovico agora contam com sete casos cada. O Setor Cândida de Morais, na região noroeste, que até o boletim do dia 13 não tinha nenhuma pessoa confirmada com Covid-19, passou para três casos na segunda-feira (20) e para quatro na quarta-feira (22).Os números apresentados são bastante subnotificados, pois a rede pública só faz testes em pessoas com sintomas que estão internadas em estado grave com alguma síndrome respiratória aguda grave (Srag). Na rede particular, são testados quem tem plano de saúde ou paga pelo exame, não necessariamente havendo relação com a gravidade do quadro clínico. Isso explicaria a grande concentração de registros nos bairros centrais, segundo profissionais de saúde da rede municipal ouvidos pela reportagem. Até esta quinta-feira, dos 256 casos confirmados pela SMS, pelo menos 132 não necessitaram de internação, a maioria foi testada por laboratório particular.O professor Rherison Almeida, que atua na área de geoprocessamento na UFG e é o coordenador da base de dados da plataforma Covid-19, destaca que nos últimos dias tem aumentado bastante o número de bairros mais periféricos com casos confirmados, principalmente na região noroeste e oeste da capital. “Está havendo uma evolução muito rápida nos últimos dias. No começo os casos se concentravam na região centro-sul, agora com a transmissão comunitária são em todas as regiões”, comentou. Só entre os dias 20 e 22 de abril, por exemplo, foram oito novos bairros, entre eles o Goiá, na região oeste, e o Jardim Colorado, na noroeste.Alguns bairros, mesmo centrais, não registraram novos casos nos últimos dez dias, como o Setor Marista, que tem seis casos desde 13 de abril. Também desde o dia 13, o Leste Universitário ficou em quatro registros.O mapa dos bairros com casos de Covid-19 apontam algumas dificuldades enfrentadas pela SMS para rastrear a disseminação do vírus pela capital. Um deles está na captação das informações dos pacientes, muito prejudicada quando o teste é feito pela rede particular. Dos 256 pacientes confirmados com a doença em Goiânia, até a tarde desta quinta-feira a SMS só tinha informações detalhadas de 193 deles. Faltavam de 25%.O superintendente de Vigilância em Saúde da SMS, Yves Mauro Ternes, explica que sempre que um caso é confirmado de Covid-19, a unidade que atendeu a pessoa é obrigada a notificar a rede municipal de saúde, que em seguida busca os dados sobre o paciente infectado. Em alguns casos, as informações chegam incompletas e noutros os consultados se recusam a passar os dados necessários. Outro problema está na hora de a SMS colocar os endereços corretos das pessoas no relatório. Muitos bairros têm nomes parecidos e endereços confusos e isso reflete no levantamento. Além disso, há registros que indicam que a pessoa na verdade mora em outra cidade, como Santa Luzia, em Aparecida, e um que, segundo relatado ao POPULAR, seria de Goianésia.RastreamentoO fato de 51 bairros terem registrado até agora apenas um caso confirmado de Covid-19 não significa que não haja mais nestes locais. Goiânia é tratada como um dos focos epidêmicos do novo coronavírus no Brasil, por já estar consolidada desde o final de março a transmissão comunitária do vírus, quando a pessoa não sabe a origem da infecção e não tem histórico recente de viagem. A maioria dos registros comprovados da doença se enquadra neste caso.A SMS começa na próxima semana um inquérito epidemiológico que pretende rastrear a dimensão mais próxima da realidade do nível de contaminação do coronavírus. “Já temos dados suficientes para dizer com certeza que os cidadãos estão se contaminando em todas as regiões (por transmissão comunitária), mas a partir de agora, vamos ter um cenário um pouco mais real para mostrar como está a circulação e então poder explicar que vamos precisar tomar tais medidas”, disse Ternes. A previsão é que um primeiro resultado do inquérito fique pronto em duas semanas com a aplicação de ao menos 2 mil testes rápidos na população em geral, de todas as regiões da capital, seja a pessoa sintomática ou não.Em entrevista na quarta-feira, a titular da SMS, Fátima Mrue, afirmou que o trabalho será dividido em etapas, com intervalos de duas semanas cada.Também deve ajudar a dimensionar melhor a Covid-19 em Goiânia o início dos trabalhos do laboratório contratado pela SMS para realizar os testes rt-PCR, com a promessa de resultado em 24 horas. São 50 por dia, desde esta quinta-feira. Isso possibilitará a testagem de pacientes com quadro leve.Movimento intensoA reportagem esteve ontem em três bairros de Goiânia que aparecem na lista dos que tiveram uma evolução no número de casos confirmados de Covid-19 nas últimas duas semanas: Jardim Novo Mundo, Setor Central e Setor Pedro Ludovico. Em todos, o movimento de veículos indica um relaxamento da população após a flexibilização das atividades comerciais e de serviço promovida pelo governo estadual no dia 19.Apesar de o número de pessoas com máscaras nas ruas nos três bairros ser alto, O POPULAR registrou uma série de problemas. No Novo Mundo e no Pedro Ludovico, muitos estabelecimentos permitiam a entrada de gente sem o adereço, não tinham nenhum aviso de alerta e nem álcool em gel visível para o público. Também era visível a quantidade de moradores interagindo nas ruas sem proteção, empinando pipa ou sentados em cadeiras na calçada.No Setor Central, havia mais pessoas circulando nas calçadas e o problema estava principalmente nos trechos onde haviam ambulantes, pois restringia muito o espaço de circulação dos pedestres. Muitas lojas não permitiam a entrada de clientes, fazendo o atendimento no balcão. Mas havia bastante exceções.Autoridades sanitárias ouvidas pelo POPULAR dizem que a flexibilização pressiona ainda mais o trabalho dos profissionais de saúde, que já é prejudicado pela falta atual de dados precisos que indiquem a extensão da Covid-19.