A taxa de ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) já são um reflexo da terceira onda da Covid-19 em Goiás. Neste mês ela voltou a ficar acima dos 90% nos leitos estaduais e, em Goiânia, se mantém assim há quatro dias consecutivos. A circulação de variantes e velocidade da campanha de vacinação podem atrapalhar a queda dos números, aponta especialista.>> Receba gratuitamente em seu whatsapp notícias de Goiás sobre vacinação, Covid-19, decretos e outras informações relevantes. Clique. <<A previsão do titular da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), Ismael Alexandrino, é que o número se mantenha alto durante todo o mês de junho. “Vamos até o fim do mês de junho com isso alto e não temos a expectativa de uma queda no começo de julho”, aponta. Para conter o aumento dos números, ele orienta que a população precisa colaborar. “É usar máscara e se vacinar.”Alexandrino aponta que inicialmente, o aumento da curva da doença foi visto como um repique da segunda onda, que ocorreu em março. “Ele está se mantendo lá em cima, se caracterizando como uma terceira onda”, avalia. Entretanto, de acordo com ele, só é possível ter certeza se o movimento da curva foi uma onda ou apenas um repique da doença quando se “olhar para trás”.Um alerta epidemiológico da SES-GO publicado nesta segunda-feira (21) destacou o caráter de atenção da situação depois de ser percebido um aumento substancial de casos nas últimas semanas epidemiológicas. O documento afirma que esse aumento impacta diretamente na taxa de ocupação dos leitos e óbitos e destaca aos gestores que “as medidas a serem adotadas nas próximas semanas são cruciais para conter o avanço da doença.”Em Goiás, 29% da população já tomaram a primeira dose da vacina contra a Covid-19. A tendência é que com o avanço da vacinação, a taxa de ocupação e óbitos pela doença caia mais rápido. Entretanto, o biólogo e professor da Universidade Federal de Goiás, José Alexandre Felizola Diniz Filho aponta que é difícil dizer isso com precisão. “A campanha não está indo tão rápido quanto gostaríamos.”De acordo com o Painel da Covid-19, Goiás possuía no fim da tarde desta quarta-feira (23) 793 pessoas internadas nos hospitais estaduais destinados para o tratamento da doença. “Temos de 1,2 mil a 1,3 mil pessoas na U TI nas últimas duas semanas. Isso é 50% a mais do que o pico da primeira onda”, diz Diniz Filho.No Estado, desde o pico da segunda onda a taxa de ocupação dos leitos tem ficado acima de 70%. Mesmo com a queda dos casos, internações e mortes, nos meses seguintes, o dia em que a taxa ficou mais baixa foi 18 de maio, quando atingiu 77%. A última vez que ela ficou abaixo dos 60% foi no dia 18 de janeiro deste ano. Já na capital, os números tiveram uma queda em maio, quando a taxa de ocupação ficou em torno de 60% ao longo de todo o mês, mas voltou a subir em junho.Alexandrino explica que isso causa a sensação de repique, levando em consideração a ocupação dos leitos, que não teve uma grande queda. “Do ponto de vista técnico, existe essa sensação de repique da segunda onda mantendo um platô alto. O que conseguimos abaixar, foi a velocidade da contaminação.”A terceira onda também é vista pelos óbitos. Nas últimas 24 horas foram confirmadas 109 mortes. “Estamos ‘estáveis’ e constantes em algo como 400, 500 mortes por semana. Na semana epidemiológica 23 de 2020 (6 a 12 de junho) foram 384 óbitos, desconsiderando os atrasos. Isso é quase a mesma coisa do pico da primeira onda”, aponta Diniz Filho.AtividadesParalelo ao crescimento da ocupação dos leitos de UTI, foi constatada a transmissão comunitária da variante Delta da Covid-19, que foi identificada primeiro na Índia. A circulação da variante, que é considerada mais infecciosa, preocupa porque especialistas acreditam que ela tenha ligação íntima com o grande número de casos graves da doença no país asiático. Na capital, também já existe a transmissão comunitária da variante Gamma, encontrada pela primeira vez em Manaus.Mesmo com a circulação das variantes e da taxa de ocupação dos leitos acima de 90%, a Prefeitura publicou um decreto na última terça-feira (22), em uma edição suplementar, ampliando de 30% para 50% a ocupação das salas de aula na capital. O texto também muda a forma de cálculo para capacidade de bares e restaurantes: em vez dos 30% da capacidade, o limite será por distanciamento entre as mesas, que devem ficar a pelo menos 2 metros umas das outras.Diniz Filho aponta que o crescimento de casos, internações e mortes, é um movimento responsivo aos relaxamentos feitos pelo poder público. “Como ficou muito tempo ‘estável’ (no alto), o pessoal aumenta a flexibilização e começamos a detectar nova aceleração.”A reportagem questionou a Secretaria Municipal de Saúde sobre o assunto, mas não houve resposta. Análise requer cuidadoA análise da taxa de ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para medir avanço da Covid-19 em Goiás precisa ser feita levando em conta outros parâmetros como, por exemplo, o aumento dos casos e mortes que vem ocorrendo no Estado. “Estas porcentagens de utilização são uma medida mais administrativa, super importante, mas podem enganar um pouco em relação à progressão da pandemia”, alerta José Alexandre Felizola Diniz Filho, biólogo e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG). Diniz Filho esclarece que, em uma semana, por exemplo, o Estado pode ter 1,2 mil leitos e mil pessoas internadas, com uma ocupação de 83%. Na semana seguinte, hipoteticamente, a situação piora e o Estado passa a ter 1,1 mil pessoas na UTI. Porém, prevendo o problema, o poder público realoca ou abre mais leitos e passa a ter 1,5 mil UTIs disponíveis. “Na prática, a pandemia piorou, mas mesmo assim a ocupação caiu para 73%. A verdade é que as pessoas normalizaram a doença. A nossa situação é tão ruim quanto no pico da primeira onda (início do segundo semestre de 2020)”, finaliza Diniz Filho.-Imagem (1.2273149)