A cada dez pessoas que morreram em Goiás no primeiro semestre deste ano, quatro foram por conta da Covid-19. O número representa 39% do total e cresceu em relação ao semestre anterior, quando a proporção de mortes por Covid-19 em relação ao total de óbitos ficou em 26%, de acordo com dados do Registro Civil (veja quadro).>> Receba gratuitamente em seu whatsapp notícias de Goiás sobre vacinação, Covid-19, decretos e outras informações relevantes. Clique. <<No total, foram 11,6 mil vidas ceifadas nos primeiros seis meses de 2021 por conta da doença. Entretanto, o número ainda pode aumentar por conta dos atrasos no registro dos óbitos. Neste período, Goiás enfrentou, em março, o pior momento da doença até agora. Durante o pico da segunda onda, o Estado chegou a ter mil mortes por semana epidemiológica.No segundo semestre do ano passado, quando Goiás enfrentou a primeira onda da doença em agosto e setembro, com quase 500 mortes por semana epidemiológica, a quantidade de mortos pela doença foi quase metade. Das 25,1 mil pessoas que morreram, 6,5 mil foram por conta da Covid-19. De um semestre para o outro a proporção de mortos pela doença em relação ao total de óbitos aumentou 46%.O infectologista Marcelo Daher aponta que ao longo do primeiro semestre de 2021 a situação foi pior. Só em março, foram 3,9 mil óbitos, o que representa 33% das mortes de todo o semestre. “A gente ainda não tinha um corpo de vacinação bem estruturado. Isso aconteceu somado a uma segunda onda dramática”, avalia. Já nos meses seguintes, quando a maior parte do grupo com mais de 60 passou a ter o esquema vacinal completo, o número de óbitos teve queda, apesar de terem sofrido uma leve aumento em junho (1,6 mil). Em abril foram 2,6 mil e em maio 1,5 mil. “Minha impressão pessoal é que já é um reflexo da vacinação”, diz Daher. Média móvel Reportagem do POPULAR publicada na terça-feira (6) mostrou um levantamento da Universidade Federal de Goiás (UFG) que aponta a queda na média móvel dos óbitos no Estado nos últimos dias. No dia 2 de julho ela ficou em 57,86. Esse é o menor número desde o dia 17 de junho, quando ela ficou em 64,43.A queda também foi percebida no registro dos óbitos. “Sentimos uma diminuição no volume de registros, que estava bem alto em outros meses como, por exemplo, ao longo do mês de março”, relata Bruno Quintiliano, presidente da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais de Goiás (Arpen-GO).Apesar de alguns especialistas acreditarem que essa queda, mesmo que discreta, já se trata de um efeito da vacinação, a Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO) relembra que a situação ainda é de atenção e exige cuidados com a doença. “O sentimento que fica é de revolta”Quando a cientista social e comunicadora Aymê Sousa, de 31 anos, recebeu a notícia de que o irmão Augusto Sousa, de 41 anos, havia morrido em decorrência de complicações da Covid-19, ela teve apenas um sentimento: revolta. “Nunca vou me esquecer de tudo que passei ao lado dele nessa luta. É uma perda irreparável”, conta.Augusto, que morreu no início de maio, deixou para trás uma esposa de 39 anos, três irmãos e a mãe, de quem era extremamente próximo. Ele era diabético e contraiu a Covid-19 dentro de um hospital. O contador chegou a ir pra casa, mas depois precisou voltar para o hospital, onde foi levado para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Depois de sete dias de internação, morreu.A cientista social conta que o irmão sempre alertou toda a família a respeito da gravidade do vírus e que ele tomava os cuidados necessários para evitar a doença. “Ele usava máscara, evitava sair. Entretanto, acabou pegando quando ficou internado por outro motivo.”Aymê, que cuidou do irmão o tempo todo, conta que o processo foi muito difícil. “Meu irmão não queria morrer. Quando ele foi para a UTI ele me disse: ‘Cuida da mãe. Eu vou tentar lutar daqui e você continua daí’. Tudo foi muito doloroso. Estou fazendo tratamento psicológico para lidar com o que aconteceu”, relata.A ausência de uma despedida também afetou profundamente a família de Aymê. “Não pudemos nos despedir dele direito. Fomos tolhidos de todas as cerimônias. Depois de muita briga, consegui velar meu irmão por uma hora e só”, lembra.Augusto fazia parte do grupo de portadores de comorbidades e, quando contraiu a doença, estava próximo do momento de ser vacinado. “A minha revolta é que já existia vacina para a doença, mas ela não chegou até ele a tempo”, diz.Na tentativa de ressignificar o luto, Aymê se associou à Associação Vida e Justiça, que cobra do poder público providências em relação às vítimas da Covid-19. “Foi um descaso sistêmico, que vem desde as instituições, como os hospitais, até os profissionais de saúde, que já estão cansados. Porém, é preciso lembrar que a morte dele poderia ter sido evitada”, finalizou.-Imagem (1.2280758)