-Imagem (1.2595124)As crateras gigantes que apareceram em uma fazenda de Vila Propício, no centro de Goiás, surpreenderam os moradores da cidade pela dimensão (vídeo abaixo). Elas se chamam “dolinas” e são erosões que podem indicar cavidades subterrâneas ainda maiores, como explica Renata Momoli, engenheira agrônoma, doutora em solos e professora na Universidade Federal de Goiás (UFG). A professora explica que as crateras têm a ver com o tipo de rocha da região. “É aquele velho ditado: ‘água mole em pedra dura, tanto bate, até que fura’, só que, nesse caso, elas furam por baixo, em uma parte que não é visível. As rochas carbonáticas são solúveis em água, então quando esse material rochoso vai se dissolvendo, o solo que está por cima não tem sustentação. Desce e colapsa”, diz. Inicialmente, foi falado que as crateras na região seriam as chamadas “voçorocas”, crateras oriundas de um processo erosivo que acontece na superfície dos terrenos. Seja pela chuva ou pelo declive do terreno. Já as dolinas são um indicativo de um processo subterrâneo.A professora diz que o aparecimento de uma dolina é como se fosse a ponta de um iceberg, pois mostra na superfície do solo que abaixo existe um buraco bem maior. “Esse buraquinho da superfície é uma indicação do que existe em baixo, um processo natural e que não tem como reverter. Ele é um processo químico por conta do material rochoso”, fala Renata. Leia também:- Crateras se abrem em fazenda de Vila Propício; entenda- Cratera formada por queda de asteroide em Goiás é reconhecida em lista internacionalA professora diz que as dolinas acontecem no ambiente chamado carste e diz que ele se assemelha a um queijo suíço. “O carste é um tipo de relevo composto por rochas que têm rachaduras, canais e cavidades subterrâneas conectadas à superfície. Nele, a água penetra pela superfície e circula por canais e galerias formando rios e lagos subterrâneos”. No carste, no seu interior, é onde se formam as cavernas. É por esse motivo que as dolinas não podem ser fechadas ou resolvidas de forma permanente. Renata explica que colocar entulhos ou terras apenas postergam a situação e que os buracos não estão ligados ao período chuvoso, sendo este apenas um catalizador do problema. “As pessoas acham que a resolução é tapar o buraco com terra, entulho ou até mesmo lixo. Mas isso é pior, pois não resolve a situação. Mais cedo ou mais tarde essa terra será puxada para dentro e poderá até mesmo assorear um rio, pois dentro dessas rochas existem águas, e isso alimenta um aquífero subterrâneo importante, causando uma série de impactos negativos”, explica. A professora diz então que a área deve ser isolada e que o buraco vai continuar existindo, não sendo impossível impedir que ele cresça. Vale ressaltar que o solo se tornará inútil para a produção agrícola mecanizada ou para ser usado no tráfego de máquinas pesadas. Em Goiás, o Lago Azul, em Niquelândia é um exemplo de dolina que possui água dentro do buraco e hoje é usado para fins turísticos. Renata Momoli atua no grupo Pequi de Pesquisa e Extensão do Laboratório de Geomorfologia, Pedologia e Geografia Física do Instituto de Estudos Socioambientais da UFG.-Imagem (1.2597304)