O Centro Estadual de Referência e Excelência em Dependência Química – Prof. Jamil Issy (Credeq), em Aparecida de Goiânia, deixou de ser exclusivo para internações. Em série de mudanças que busca alinhamento às políticas nacionais, o local agora abriga um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPS AD) IV e quatro Unidades de Acolhimento Adulto (UAA). Com isso, os serviços serão diversificados, contemplando atendimentos de longa duração e em liberdade.O local inaugurado em 2016 tinha, até então, 108 leitos específicos para internação. No entanto, o modelo estava em desacordo com a Política Nacional de Saúde Mental, que tem como principal pilar o atendimento em liberdade. Por conta disso, o Credeq não recebia verba federal. Com a reformulação, o Ministério da Saúde irá repassar R$ 500 mil mensalmente para o complexo.Contudo, inicialmente serão mantidos 42 leitos de internação nos mesmos moldes que já eram feitos. Segundo a Secretaria de Estado da Saúde (SES), trata-se de um processo de transição e a intenção é de que no futuro todo serviço funcione dentro dos princípios da política nacional.A mudança na estrutura ocorre mais de sete anos após a gestão do então governador Marconi Perillo (PSDB), lançar o projeto de implementação de 16 unidades do Credeq em todo o Estado. No entanto, apenas a de Aparecida entrou em operação. Outros dois prédios, em Goianésia e Quirinópolis, chegaram a ficar prontos, mas nunca ofereceram atendimento. Segundo a gerente de Saúde Mental da SES-GO, Helisiane Figueiredo, o objetivo é expandir o modelo do complexo de Aparecida para todo o Estado, embora não haja previsão para tal.Leia também:- Organizações sociais poderão manter gestão por até 24 anos em Goiás- Hospital Municipal de Aparecida de Goiânia começa a realizar cirurgias bariátricas- Tratamento de HIV leva à carga viral indetectável e intransmissívelO Caps AD IV de Goiás é o quarto habilitado no País. A categoria indica a capacidade de atendimento, que no complexo de Aparecida será de 18 vagas. A gerente Helisiane Figueiredo explica que o Caps é um dispositivo extra-hospitalar. Sua função é oferecer atenção integral e contínua a pessoas com transtornos mentais graves e persistentes e às pessoas com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas. Esse atendimento não tem um tempo determinado, diferente do que previa o modelo do Credeq, que era de 90 dias.O complexo também terá quatro Unidades de Acolhimento Adulto (UAA), sendo 24 vagas femininas e 24 vagas masculinas. O objetivo das UAA é acompanhar os atendidos em situação de vulnerabilidade até que os mesmos consigam autonomia. As UAAs, explica Helisiane, são estruturas residenciais complementares. “Para pessoas que passaram pelo tratamento, estão em vulnerabilidade e que por isso precisam de um ambiente protegido até a reintegração”, diz. Cada UAA receberá R$ 25 mil por mês de recursos federais.“Isso mostra o compromisso do Estado de Goiás com a saúde mental”, defende a gerente de Saúde Mental da SES-GO. “É um avanço para a política de saúde mental. Coloca Goiás entre os principais estados”, diz Helisiane, que destaca o movimento importante no contexto pós-pandemia: “O que a gente pode perceber é que com a pandemia os problemas de saúde mental só se agravaram”.ResultadosEm julho deste ano o POPULAR mostrou que dos 3.679 pacientes internados no Credeq em seis anos, mas mais da metade deles, 56,59%, não completaram o tratamento. Apenas 1.597 pessoas com dependência química que estiveram na unidade ficaram os 90 dias previstos para a alta por melhora. Outras 1.539 pessoas abandonaram o local antes do fim do tratamento, o que representa 41,83% do total, enquanto que 262 tiveram alta administrativa, que é quando o próprio hospital concede a saída da unidade por entender que ele não está interessado em colaborar com o processo.Em 2021, a quantidade de pacientes que finalizaram o tratamento proposto foi de apenas 258, o que representa 39,03% do total de internações. O índice foi melhor em 2018, quando chegou a 50,28%, mas caiu nos anos seguintes, com porcentual de 45,60% em 2019 e 44,60% em 2020, ano em que foi reduzida a capacidade de atendimento na unidade em razão da pandemia da Covid-19.A unidade gastou, no ano passado, R$ 25 milhões. Neste ano, na planilha acumulada até novembro, as despesas totalizam R$ 30,6 milhões.AvaliaçãoA psicóloga e membro do movimento antimanicomial de Goiás, Larissa Arbués, diz que a transformação do local é bem-vinda, mas que precisa ser vista com cautela. A psicóloga lembra que a criação do Credeq recebeu muitas críticas. “Por conta do caráter do complexo, que inverte o modelo que a gente acredita, que é o psicossocial e territorial”, diz sobre aspectos que incluem atenção em várias áreas e observando itens como acesso dos atendidos entre a casa e o local.“A dependência é um problema complexo e uma grande internação é uma solução simplista. A gente entende que autoridades e famílias veem a internação como solução do problema, mas não é”, diz Larissa. Dessa forma, ela destaca que a proposta de transformar o local, incluindo um Caps AD, é positiva desde que observe os fundamentos de um Caps.Um dos pontos destacados pela psicóloga é o volume de recursos necessários para o funcionamento do Credeq. “É importante que boa parte da verba que hoje é aplicada ao Credeq seja revertida para ampliação da rede de atenção psicossocial do estado como um todo”, destaca também sobre a necessidade de criação de outras unidades.AtendimentoO funcionamento da unidade do Caps é de 24 horas, em todos os dias da semana, inclusive finais de semana e feriados. O atendimento é destinado a toda população do Estado e o agendamento deve ser realizado por meio da Central de Regulação Estadual.Goiás tem outros oito Caps AD, sendo esses administrados pelas redes municipais de saúde. A distinção entre eles - podendo ir de I a IV, depende da capacidade de atendimento. A capital tem quatro Caps AD, sendo dois tipo II e dois tipo III. Os demais ficam em Aparecida de Goiânia, Anápolis, Rio Verde e Caldas Novas. O atendimento desses é no sistema porta aberta, sem necessidade de agendamento.