A curva do número de óbitos por Covid-19 a partir do dia do ocorrido indica que Goiás possa estar num platô da pandemia, ou seja, uma tendência de manutenção do cenário e possibilidade de queda a cada semana. A Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO) calcula os dados por semana epidemiológica, em que os casos são registrados a partir das datas dos primeiros sintomas e os óbitos, desde a semana passada, pela data do ocorrido. Nesse sistema, a semana entre 12 e 18 de julho (semana 29) foi a que mais apresentou óbitos até então, com 269 mortes causadas pelo coronavírus Sars-CoV-2.O entendimento da superintendente de Vigilância em Saúde da SES-GO, Flúvia Amorim, é que os dados de óbitos estão mais consolidados, podendo confirmar que há uma estabilização. No entanto, não se pode dizer o mesmo com relação aos casos confirmados de Covid-19, já que, para a SES-GO, houve uma ampliação da testagem nas últimas semanas, o que pode culminar em um aumento de positivos para a doença.Nesse caso, a se confirmar a estabilização do número de óbitos, há uma tendência de diminuir a taxa de letalidade em Goiás, hoje em 2,31%. No início de julho, quando se chegou a 1 mil óbitos registrados pela SES-GO, a taxa era de 2,52%.Para o biólogo e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Thiago Rangel, que tem estudado os números da pandemia no Estado, ainda é necessário esperar pelo menos mais duas semanas para confirmar que houve o pico de mortes por Covid-19. Ele explica que há um atraso nos registros de óbitos em que se demora cerca de 15 dias para se obter 75% dos registros dos municípios na SES-GO. Neste sentido, há grande possibilidade dos registros da semana 31, a última de julho, superarem os dados da semana 29.Até então, a SES-GO conta com 260 óbitos da semana 31, mas levando em consideração o atraso no registro dos ocorridos, é possível que o número de mortes ainda supere os registrados na semana 29, com 269 óbitos.Flúvia explica, no entanto, que há uma tendência de estabilização nos registros de óbitos, mesmo com o aumento do número de casos. A situação é semelhante ao que se vê em Goiânia, segundo o superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Yves Mauro Ternes. “O que se pode dizer é que temos a estabilização de óbitos”, confirma.Para Rangel, há apenas três situações que podem indicar um platô quanto aos óbitos mesmo com aumento de casos. A primeira é a ampliação da testagem, chegando a casos menos graves e mesmo assintomáticos. Em seguida é uma melhora das práticas médicas, em que se consegue salvar mais pessoas, e a outra opção é o aumento da transmissão em uma população mais jovem e sem comorbidades. Na sua opinião, não há evidências de que essas situações estejam ocorrendo, o que leva a uma incerteza na análise das curvas epidemiológicas.O pesquisador da UFG lembra ainda que há subnotificação de óbitos, mas que não se consegue saber qual o tamanho disso e o quanto implica para estabelecer o pico de registros. No entanto, as evidências de que ela existe são as pessoas que morrem por Covid-19 fora do ambiente hospitalar e um número maior de registros de óbitos nos cartórios e por síndrome respiratório aguda grave (SRAG). “Nada disso me diz o quanto está subnotificado, mas apontam que alguma subnotificação existe”, explica Rangel, ao confirmar que ainda não se pode dizer que há estabilização no número de óbitos por Covid-19 em Goiás.Situação prova estabilizaçãoOs gestores das secretarias de Saúde do Estado e do município de Goiânia afirmam que as três situações descritas pelo pesquisador Thiago Rangel como possíveis para estabilização de óbitos com aumento de casos estão ocorrendo. A superintendente da SES-GO, Flúvia Amorim, diz que se tem ampliação de testagem, incluindo pessoas assintomáticas, a partir do aplicativo Dados do Bem, que rastreia os contatos do caso positivo, o que não ocorria até então. Ela diz ainda que o número de casos em pessoas mais jovens, até 39 anos, já representa mais de 50% das confirmações. “Nossa prioridade é aumentar a testagem”, diz. Superintendente na SMS, Yves Mauro Ternes completa que na capital houve ampliação do número de leitos e a taxa de ocupação, que chegou a ser de 95%, hoje está na faixa de 70% a 75%. “As pessoas estão recebendo mais informações da doença, estão fazendo testes e procurando as unidades de saúde mais precocemente. Com o diagnóstico rápido, com os protocolos de segurança sanitária sendo seguidos, a gente tem visto esta estabilização dos óbitos sim”, afirma. Flúvia lembra que há um mês o Estado mantém a taxa de ocupação de leitos para Covid-19 em 85%.Definição do pico está em 2º planoSe no começo da pandemia de Covid-19 havia uma força-tarefa para tentar estimar quando seria o pico da doença no Estado, hoje esse dado já passa a ser irrelevante, na visão dos gestores estaduais e do município de Goiânia. Para a superintendente de Vigilância em Saúde da SES-GO, Flúvia Amorim, atualmente, a taxa de prevalência da doença, ou seja, o número de casos positivos pelo número de testes realizados, e a taxa de transmissão é o que mais importa.Flúvia conta que se tem atualmente uma taxa de 50 casos positivos a cada 100 testes realizados e o objetivo é diminuir este número. “Não se tem ainda um padrão internacional, mas Nova Iorque tem utilizado o índice de 5% para permitir a volta das escolas, por exemplo. Já procurei um índice considerado aceitável, mas ainda não temos. Sabemos que 50% ainda é muito alto”, explica.No entanto, Flúvia lembra que essa taxa em Goiás já chegou a ser de 70%. “Tem caído gradativamente e nosso objetivo agora é testar cada vez mais, sintomáticos e assintomáticos, e isolar os casos, para baixar a transmissão.” Nesse caso é levado em conta a taxa de transmissão ou o R0, que é para quantas pessoas uma pessoa infectada consegue transmitir. Em Goiás, esse número já foi de 1,6 e hoje está calculado em 1,3.Se o índice for menor que 1 a indicação é de que a doença está controlada na região. O superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia, Yves Ternes, reforça que essa busca para a definição de pico ou platô da situação atual foi deixada para um segundo plano. “A ideia é evitar a circulação. Temos agora que conviver com a doença. Se estamos no pico, no platô ou em uma segunda curva claro que vamos acompanhar, mas não é o mais relevante agora. Temos de testar cada vez mais e atender cada vez melhor.”