A defesa do empresário Maurício Borges Sampaio, apontado como mandante do assassinato do jornalista Valério Luiz de Oliveira, ocorrido em junho de 2012, voltou a acusar o juiz e os promotores do caso de serem parciais. Nesta segunda-feira (25), a defesa dele entrou com um pedido de investigação no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) para apurar a conduta dos três promotores envolvidos no caso. Outro pedido deve ser enviado ao Conselho Nacional Justiça (CNJ) para investigar o juiz responsável. Depois de sofrer três adiamentos, o júri popular está agendado para a próxima segunda-feira (2).O advogado Luiz Carlos Silva Neto, que assumiu a defesa do empresário em março deste ano, diz que em 2015 teria havido ilegalidades em um depoimento prestado por Marcus Vinícius Pereira Xavier, um dos cinco acusados do crime. Na ocasião, Marcus Vinícius entregou o esquema, do qual ele foi um dos articuladores, que culminou na morte de Valério Luiz. Além disso, o advogado afirmou que no dia 14 de março, data em que o júri popular foi adiado pela última vez, o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) pediu a prisão preventiva de Sampaio, que estava presente, mas não solicitou a de Marcus, que não estava.Na ocasião, Marcus Vinícius, que mora em Portugal, iria comparecer à audiência remotamente. O advogado criminalista Roberto Serra, que é membro da diretoria da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Goiás (OAB-GO), explica que não é necessário que os réus estejam presentes para o julgamento ocorrer. “O artigo 457 do Código de Processo Penal (CPP) estabelece que um julgamento não será adiado pelo não comparecimento do acusado solto, do assistente ou do advogado do querelante, que tiver sido regularmente intimado.”JuizEsta não é a primeira vez que a defesa alega imparcialidade por parte do juiz e dos promotores. Silva Neto havia feito a mesma declaração ao se apresentar à imprensa em 29 de março, mas agora diz que conseguiu os documentos que comprometeriam a imparcialidade do magistrado que vai presidir o júri.Ele divulgou documentos que mostram que Lourival Machado da Costa era sócio de um escritório que, em 1998, entrou com uma ação de execução de dívidas contra Sampaio e a família dele. Desde então, de acordo com o advogado, o juiz nutriria uma animosidade pelo empresário, que tem interferido nas diligências e no andamento processual. “Esse caso concreto (suposto fato ocorrido há quase 30 anos), quando o juiz era advogado, por si só, não caracterizaria alguma ‘inimizade capital’ para além do exercício profissional e regular do direito”, pontua Serra.RecursosSilva Neto já entrou com seis recursos desde o fim de março, sendo um deles no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Dois foram para pedir que o depoimento de Marcus Vinícius seja desconsiderado. Um deles foi requerendo exceção de suspeição no Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) contra o juiz Lourival Machado da Costa, sendo que a defesa teve duas respostas negativas para a petição.O advogado relata que em nenhum momento as ações da defesa são uma jogada para adiar o júri ou então causar um tumulto processual. Ele diz que desde que assumiu o caso, aguardou por um pedido de suspeição vindo do próprio juiz, o que não aconteceu. Por isso, ele decidiu entrar com os pedidos. “Respeito o Judiciário e o Ministério Público, mas ele (Sampaio) está em um processo com um juiz parcial. Caso ele e os promotores continuem no caso, vamos comparecer ao tribunal, mas não participaremos.”Além de Sampaio, que é acusado de ser mandante do crime, também são réus o sargento da Polícia Militar Ademá Figueredo Aguiar Filho, acusado de ser o autor dos disparos, o sargento reformado da PM Djalma Gomes da Silva, o empresário Urbano de Carvalho Mota e o comerciante Marcus Vinícius Pereira Xavier. Os últimos três são acusados de atuar como articuladores do crime.Valério Luiz foi morto a tiros, aos 49 anos, em julho de 2012, quando saia de uma emissora de rádio na qual trabalhava no Setor Serrinha. O motivo do assassinato seriam as duras críticas que o jornalista fazia aos dirigentes do Atlético Clube Goianiense, time no qual Sampaio já foi presidente e era diretor na época do crime. (Colaborou Márcio Leijoto) Filho de Valério reage à movimentaçãoValério Luiz Filho é assistente de acusação da promotoria no caso do assassinato do pai. Ele afirma que vai pedir para que um defensor público seja intimado para comparecer ao júri popular do caso, que começa na próxima segunda-feira (2). A reação vem depois de o advogado de Maurício Sampaio, Luiz Carlos Silva Neto, afirmar que caso o juiz e os promotores envolvidos no caso não sejam trocados, ele não irá participar do julgamento. “Se ele estiver presente e se negar a prosseguir, pode ser multado, além de sofrer um processo administrativo na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Pensando nisso, vou peticionar para que um defensor fique à disposição. O que estão fazendo é tentar adiar o júri”, diz Valério Luiz Filho. A principal argumentação da defesa de Sampaio, que entrou com recursos recentes para a desqualificação do réu como mandante do crime, é de que as provas que ligam o empresário ao crime não são fortes o suficiente como, por exemplo, o depoimento de Marcus Vinícius Pereira Xavier, ocorrido em 2015. Todos os pedidos da defesa tiveram as liminares negadas pela Justiça. Silva Neto diz ainda que outras linhas de investigação poderiam ter sido levantadas como, por exemplo, o fato de que Valério Luiz recebia ligações com ameaças de morte na rádio em que trabalhava. Entretanto, segundo o advogado, por conta da parcialidade do juiz, todas as diligências neste sentido foram indeferidas. “Não deu a chance para que o Maurício possa se provar inocente”, afirma. “Tudo isso já foi trazido anteriormente. Quebraram o sigilo telefônico e bancário do meu pai e não acharam nada. Outras linhas de investigação foram exploradas, porém não se sustentaram por falta de elementos. Se eles têm tantos argumentos a favor do Maurício como eles dizem que têm, esta argumentação tem de ser apresentada para os jurados.”Em nota, o MP-GO comunicou que a instituição e os promotores não vão se manifestar neste momento. Já a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) informou que não comenta movimentações processuais.-Imagem (Image_1.2444532)