Membro do Grupo de Modelagem da Expansão da Covid-19 em Goiás, de iniciativa da Universidade Federal de Goiás (UFG), o professor doutor Thiago Rangel prevê que o número de óbitos no Estado, que acabou de ultrapassar mil mortes, deve dobrar nas próximas duas semanas.O pesquisador esteve entre aqueles que participaram do estudo da UFG, adotado pelo governador Ronaldo Caiado para elaborar o último decreto, intercalando entre 14 dias de quarentena por 14 dias de reabertura das atividades comerciais.Em videoconferência com o Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás (Adufg-Sindicato), Thiago defende que não existe evidência de controle da doença no Estado, que a flexibilização deve piorar o quadro e que a única forma de coibir o avanço do novo coronavírus é por meio do isolamento social.“Essa flexibilização deve piorar o que já está muito ruim. A ideia deveria ser tomar todas as medidas para evitar que o vírus seja ainda mais propagado. Devíamos discutir estratégias para manter as pessoas em casa. Seria necessário um auxílio econômico mais efetivo para as empresas e para as pessoas que não podem exercer trabalho remoto. Isso não veio, o que acabou fazendo com que gestores de Estados e municípios optassem pela flexibilização”, diz.“É uma ação que trata a população como um todo. Todos os países mais desenvolvidos conseguiram lidar por meio do isolamento. Não adianta tentar passar a ideia de que o pior já passou, pois ainda não chegamos ao pico. Se o isolamento alcançasse mais de 66%, o pico passaria e a curva começaria a cair”, complementa.Em entrevista ao POPULAR publicada na edição impressa desta sexta-feira (17), o pesquisador ressalta que se os inquéritos realizados pelo Paço, que apontaram incidência de 2,1% da doença na população, estiverem certos, o modelo da UFG está correto e o pico será no fim de agosto.Por outro lado, se a incidência da doença for maior do que a apontada no inquérito, é provável que o pico seja antes, mas não menos que a partir de meados de agosto. Na ocasião, mantendo as premissas do cenário verde, o Estado deve chegar a cerca de 4 mil óbitos.Ampliação de leitosCom o aumento constante do número de casos em Goiás, o professor alerta que, embora a rede hospitalar esteja em processo de expansão de leitos, a medida é paliativa. “A data de um possível colapso vai ser definida pela capacidade das prefeituras de remarem contra a maré. Tratar uma pandemia com estratégias baseadas em expansão hospitalar é uma ideia infeliz”, afirma. Ele lembrou, ainda, que outros países, como França, Itália, China e Estados Unidos não tiveram sucesso com esse tipo de medida.Pelos dados da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO) Goiás está com taxa de letalidade de 2,51%, número abaixo da média nacional, que é de 3,8%. “Já o aumento no índice de gravidade era previsto antes mesmo de a pandemia atingir o Brasil, visto que o maior número de casos também resulta no aumento de internações e óbitos”, informa a secretaria.Segundo a pasta, a região metropolitana de Goiânia, o Entorno do Distrito Federal, e “aquelas cidades que detêm grandes indústrias, além de cidades que margeiam as principais rodovias do Estado, inclusive com fluxo interestadual, são as que mais preocupam o Estado”.A SES-GO reitera que “a estratégia adotada até agora pelo governo de Goiás de ampliar e regionalizar leitos de internação tem bons resultados na assistência às pessoas que precisaram de internação”.A pasta ressalta que foram criados 373 leitos de UTI no Estado neste ano. “Já estão em operação seis hospitais de campanha, sendo que o de São Luís de Montes Belos foi entregue nesta quinta-feira (16), com 34 leitos dedicados a Covid-19, sendo 10 UTIs. Mais dois estão sendo preparados em Formosa e Jataí.”A SES informa ainda que vai ampliar a “testagem para rastrear e monitorar os casos em 78 cidades estratégicas, isolando os positivos de forma seletiva”.A Secretaria também diz que “já era esperada a dobra do número de casos em um intervalo cada vez menor de tempo”. “A segunda quinzena de julho foi apresentada como a fase mais crítica da doença no Estado, de acordo com estudos da Universidade Federal de Goiás. Assim, o esperado é que na próxima semana Goiás atinja o pico, seguido de uma fase de platô no número de casos, até iniciar uma redução diária das notificações, como já observado em outros locais.”-Imagem (Image_1.2077781)