Um inquérito que investiga o envolvimento de Lázaro Barbosa de Sousa, de 32 anos, em um roubo a uma chácara em Ceilândia (DF) apura os motivos que o levaram a ter dito para as vítimas que havia entrado na “casa errada” e que tinha “ordens para levar a cabeça de alguém”. Durante o crime, que durou das 19h à meia-noite de 17 de maio deste ano, o criminoso – que foi identificado por meio de fotos pelas testemunhas como sendo Lázaro – insistia em saber se no local morava algum policial ou se algum deles era parente de um.A tese de que Lázaro não agia sozinho e que poderia estar a serviço de alguém nos crimes a ele atribuídos ganhou força na Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO) a partir da prisão do proprietário rural Elmi Caetano Evangelista, de 73 anos, no dia 24, suspeito de ajudar Lázaro na fuga dando abrigo e tentando despistar as forças policiais envolvidas na operação.Após a morte de Lázaro, na manhã de segunda-feira (24), o titular da pasta, Rodney Miranda, disse que as investigações continuavam para identificar e prender todos que integrariam o que ele chama de “rede apoio”. Ele afirmou ter certeza de que há outras pessoas envolvidas. “Não sabemos se é um grupo grande ou restrito. Ainda temos mais gente para buscar e vamos buscar”, disse horas após o fim das buscas.O crime em Ceilândia aconteceu 23 dias antes da chacina de uma família em outra chácara, na mesma região, o Incra 9. Lázaro entrou na propriedade com uma pistola e uma faca, um colete balístico, luvas e máscaras. Rendeu o caseiro, as duas filhas e a neta dele e um casal de amigos que o visitavam. Fez isso mandando que todos tirassem as roupas e deitassem de bruços no chão. Depois dividiu os homens em um quarto, as mulheres noutro e ficou com uma vítima andando pela casa.De imediato chamou a atenção das testemunhas que ele marcou no celular o alarme para tocar meia-noite e demonstrou preocupação com o horário, dizendo que precisava ficar no local até aquele momento. Ele também mandou todos rezarem um Pai Nosso e ameaçou matar quem não soubesse.As ameaças foram constantes no período em que esteve lá, mas sempre demonstrando muita calma. Ele teria dito que passou o dia observando a casa e citou coisas que viu e ouviu dos presentes durante a vigília. E como faz em todos os crimes pelos quais é acusado, pediu por armas e dinheiro.Enquanto revistava a casa atrás do que procurava, ele perguntou insistentemente se alguém ali era policial, parente de policial e se morava alguém ali que era policial. Como a vítima que foi mantida próxima respondia sempre com negativas, ele passou a dizer que se enganou de casa e chegou a pedir desculpas na hora de ir embora.Em depoimento, ao qual O POPULAR teve acesso, uma vítima ouviu ele se desculpando e explicando que “haviam encomendado uma cabeça, mas que ele havia entrado na casa errada”. Esta última afirmação ele teria repetido diversas vezes, segundo os depoimentos. Lázaro também teria dito que tinha informações de que naquele imóvel havia armas, mas segundo as vítimas não havia nenhuma.Essa vítima teve de preparar comida para ele e foi obrigada a beber todo vinho que havia na geladeira. Lázaro teria filmado e feito fotos de todos sem roupa e ameaçou jogar as imagens na internet caso a polícia fosse atrás dele. Ele disse, mais de uma vez, que as imagens “é que salvariam a vida deles”.Nas cinco horas que ficou no local, Lázaro informou que teria de ficar ali até meia-noite, demonstrando ansiedade com o horário e chegou a “pregar a palavra de Deus” intercalando com ameaças e conversas aleatórias. Ele também procurou informações no celular de uma das depoentes.O inquérito segue em tramitação no 24º Distrito Policial, de Ceilândia, e o delegado responsável pelo caso, Vitor Falcão Araújo Corte Real, disse apenas que nenhuma hipótese estava descartada, mas que não era possível ainda bater o martelo sobre o motivo que levou Lázaro a dizer que tinha ordens para levar uma cabeça dali e a perguntar se havia policial na chácara.O criminoso fugiu levando três celulares e dinheiro. Saiu tranquilamente da chácara, segundo as testemunhas. Depois deste crime, ele cometeu mais dois roubos violentos parecidos – um em Ceilândia mesmo, mas em outro bairro, e também no distrito de Girassol, em Cocalzinho. E também teria matado um caseiro em Girassol, no dia 5 de junho. Em todos estes crimes Lázaro foi reconhecido pelas vítimas como o autor.Investigações em GoiásA SSP-GO informou na tarde desta terça-feira, por meio de nota, que as investigações relativas à fuga de Lázaro Barbosa seguem com uma força-tarefa da Polícia Civil formada por delegados da área de Homicídios (DIH), Investigações Criminais (Deic) e da 17ª Regional, em Águas Lindas. “As linhas de investigação serão mantidas em sigilo para não comprometer a elucidação dos fatos, sendo que a distribuição dos procedimentos se pautou na natureza dos crimes praticados.”