O Conselho Regional de Farmácia de Goiás (CRF-GO) não recomenda o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina para pacientes com quadro leve de Covid-19. A entidade salienta que os riscos do uso podem ser maiores que os potenciais benefícios, já que o medicamento pode causar uma série de efeitos colaterais.Um protocolo do Ministério da Saúde publicado nesta quarta-feira (20) ampliou o uso de cloroquina e hidroxicloroquina para tratar pacientes de covid-19 com sintomas leves. Segundo o documento, para usar o medicamento, o paciente precisa assinar um termo de consentimento, que afirma expressamente que sabe que não há estudos conclusivos de que a cloroquina melhoraria seu quadro de saúde e conhece os inúmeros efeitos colaterais que o medicamento pode causar, como problemas cardíacos, disfunção do fígado e problemas de visão.O diretor secretário do CRF-GO, Daniel Jesus, que é mestre em farmacologia, explica que a cloroquina é um medicamento off label, sem comprovação científica e devida certificação, a prescrição fica por conta e risco do médico e, neste caso, também do paciente. “O Ministério da Saúde se exime de responsabilidade e joga nas costas do paciente a escolha de usar um medicamento experimental”, critica.Segundo o farmacêutico, é importante analisar a relação risco-benefício. “Em um paciente inicial, com sintomas leves e que não está no grupo de risco, as chances de ter complicações com a covid-19 são muito pequenas. Então, os efeitos colaterais do tratamento com cloroquina podem ser mais prejudiciais e graves que o novo coronavírus”, detalha.Daniel lembra que os efeitos colaterais da cloroquina são bem conhecidos, porque é um medicamento que já está no mercado há mais de 40 anos, mas os benefícios do tratamento para covid-19 ainda estão em estudo e são inconclusivos. “O paciente vai saber escolher, tomado por medo e incertezas, se nem a própria ciência recomenda?”, questiona.O uso da cloroquina, desde que médico e paciente assumissem juntos os riscos de efeitos colaterais, já havia sido autorizado pelo Ministério da Saúde. Posicionamento semelhanteO posicionamento do CRF-GO se assemelha ao do Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), que por sua vez acompanha o do Conselho Federal de Medicina (CFM). O próprio protocolo do Ministério da Saúde se baseia em parecer técnico do CFM, que autoriza a prescrição da cloroquina em caso excepcional e diante da falta de medicamentos eficazes para tratamento da Covid-19, mas não a recomenda.O novo protocolo não obriga médicos a prescreverem a cloroquina, mas orienta seu uso, com a dosagem e o número de dias para o uso do medicamento de acordo com a gravidade. Apresenta ainda uma classificação de quais são os sintomas leves, moderados e graves da covid-19. Também argumenta que ainda não há medicamentos com eficácia comprovada e que já há hospitais privados com protocolos próprios, então a ideia é ampliar o uso da cloroquina no Sistema Único de Saúde (SUS).