O mato brotando na calçada e o musgo que começa a dominar as paredes são sinais de que a chuva tem visitado aquela casa da Avenida José Leandro da Cruz, no Parque Amazônia, com frequência. Para os olhos mais atentos, uma tampa de bueiro que foi arrastada até a entrada da garagem denuncia que o endereço foi castigado pela força das águas de uma enxurrada. No portão, com uma fisionomia tranquila, se escora uma sobrevivente improvável dos estragos causados pelo temporal: Antônia Araújo de Almeida, de 85 anos, mais conhecida como Dona Tonha. A aparência de Dona Tonha engana. Os cabelos grisalhos - mais brancos do que pretos - combinados com a pele fina - marcada por uma mistura de pequenas manchas com rugas - acusam que ela é avó de sete netos e dão ares de vulnerabilidade para a idosa. Entretanto, os olhos atentos e os lábios apertados exprimem um tipo de curiosidade juvenil. Com pouco mais de 1,5 metro e 55 quilos, ninguém acredita logo de início quando Antônia conta que suportou uma enxurrada, com a água já na altura da cintura, agarrada a um poste instalado na porta da casa em que mora com um dos filhos.